Em véspera do dia do trabalhador

Estou escrevendo este pequeno texto no dia 30 de abril de 2020, de minha casa, em quarentena. Lembro-me que ano passado, na mesma data, eu me encontrava eufórico porque no dia seguinte tiraria folga para comemorar o dia do trabalhador, agradecendo a Deus, por intermédio de São José Operário. Hoje os sentimentos são outros, pois há muitas pessoas morrendo no mundo e em nosso país por causa da pandemia, além do que estou há mais de dois meses sem emprego, engrossando as fileiras dos mais de doze milhões de desempregados de nosso país. Não tenho motivos para comemorar amanhã. Para pedir sim, pedir a intercessão de São José Operário por mim e por tantos pais e mães de família que estão em situação similar ou até pior do que a minha, em nosso país e no mundo.

Sei que estamos longe de superar a triste realidade da peste que se propaga, e ainda mais distante de dar um fim no desemprego, pois o sistema econômico mundial que já estava em crise no início do ano, agora sente a crise agravar com a pandemia da Covid 19. Neste momento assistimos os países gastando montantes consideráveis  de suas economias na busca de mitigar a pandemia, diminuindo o número de contagiados para poderem retomar aos poucos à “normalidade”. Com a volta à “normalidade” os governos irão mover mundos e fundos para salvar os bancos e a fortuna dos ricos, e isso às custas da redução salarial, aumento de tempo para ter direito a aposentadoria, desemprego, aumento de preços de mercadorias e aumento da tributação, dentre outras medidas que pesam sobre a maioria da população, os trabalhadores. Aliás, muitas dessas medidas já em curso no nosso país. Basta lembrar que por causa da crise de 1929, para melhorar o preço do café, no Brasil foram queimadas muitas toneladas desse alimento. O mundo estava em crise, os pobres passando por carestia, então ao invés de o café excedente ser distribuído aos pobres, ele foi queimado. Se o presidente faz pouco caso das vidas ceifadas pela pandemia, e os outros poderes da república nada fazem a respeito, o que esperar depois da quarentena? Basta ter um mínimo de bom senso para perceber que do atual governo não sairá nada de bom para os trabalhadores, uma vez que não se colhem uvas de espinheiros (Mt 7,16).

Ter fé é também arregalar os olhos para ver o que se passa no momento histórico em que estamos vivendo. O profeta Jeremias exerceu sua profecia por volta do séc. VII a.C. e dele o rei de Judá, Joaquim, queria escutar palavras de ânimo, pois o reino estava diante da eminente derrocada frente aos babilônicos. Jeremias, apesar de sofrer interiormente, anunciava desgraças dia e noite (Jr 4,19s). Foi perseguido, mas a história mostrou que era a voz de Deus na boca do profeta. Infelizmente estamos no tempo de Jeremias e o que se nos avizinha não são dez anos de prosperidade, como ouvi na campanha presidencial um falso profeta da minha terra natal anunciar. Mas permaneçamos firmes. Jeremias, mesmo na desgraça, manteve-se em pé e suas palavras não caíram no esquecimento. Esta é a hora de mesmo diante de desgraças as pessoas de fé manterem-se firmes na esperança e serem consequentes em sua fé, pois cremos que a última palavra é de Deus, do Deus que ressuscitou Jesus, aquele que os religiosos e políticos do seu tempo mataram, mas que está vivo. Que São José Operário interceda por nós.