Empoderamento feminino

Mais um dia temos para viver! Mais uma manhã se inicia e Deus nos dando a possibilidade de recomeçar. A vida é o dom maior de Deus para nós! Estar vivo significa que ELE acredita ainda em mim, em você, em nós. Não se trata de algo mecânico, automático, mas ELE permite que estejamos vivos para dar continuidade a nossa vida. Por isso devemos agradecer sempre a cada manhã, pelo fato de estar ali vivo, tendo mais um dia de vida como um presente nos dado pelo próprio Criador.

Hoje, antes de começar as minhas preces em oração, parei para ler um belo texto da poetisa goiana Cora Coralina. Sempre que posso, estou lendo suas poesias que me encantam cada vez que as leio. Por mais que leia, a minha poetisa preferida, sempre acabo descobrindo algo de novo e nunca me canso com a sua leitura. Cora foi uma mulher especial, que deveria ser a referência para todas as mulheres. Sua experiência de vida, sua luta em meio a uma sociedade machista e preconceituosa, a empoderou, tornando-a o símbolo de luta e resistência das mulheres.

Cora, sempre leu muito. Tinha o hábito freqüente de ter um bom livro às mãos. Este deveria ser também o nosso costume. Infelizmente lemos muito pouco. E quem lê pouco, sabe pouco também. A leitura nos permite, não somente ter maiores conhecimentos, mas enriquece o nosso vocabulário. E o mais interessante nas possíveis leituras que vamos fazendo, é colocar em prática aquilo que se vai lendo. Bem dentro da dimensão da nossa fé, quando tomamos contato com a Palavra de Deus que está na narrativa bíblica, e temos por obrigação tentar colocá-la em prática.

A leitura nos liberta das garras dos opressores. O povo brasileiro, de maneira geral, não é muito afeito à leitura. Isso significa que uma grande parcela de nossa população vive de forma alienada. Talvez por este motivo, sejamos tão manipulados pelos nossos governantes, que se aproveitam desta triste situação. Quem tem o hábito freqüente da leitura, jamais se deixa enganar. Ao contrario, desenvolvem o seu senso crítico das coisas e está sempre antenado com tudo aquilo que acontece à sua volta. Nestas horas não há como não se lembrar de uma das frases da filosofa existencialista francesa Simone de Beauvoir que dizia? “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.”

A leitura também nos faz crescer. Com ela vamos desenvolvendo a nossa personalidade e nos empoderando cada vez mais. Ela nos ajuda a ter uma visão de mundo diferente daquelas pessoas que não lêem. Com o tempo, também vamos percebendo que uma boa leitura nos ajuda a entender que eu não precisamos ficar nos comparando com as demais pessoas, mas com o melhor que eu posso dar de mim mesmo. É através dela que vou mergulhando dentro de mim e vou me libertando, superando todos os dias a minha própria personalidade. Um dia de cada vez todos os dias.

As mulheres que lêem também vão percebendo que o seu processo de libertação é ainda mais árduo, uma vez que precisam superar as estruturas machistas, feminicidas, retrógadas, que as colocam como seres de segunda classe. Para alcançarem a sua libertação e o seu empoderamento, elas precisam lutar com todas as suas forças, incorporando em si o mesmo espírito de Cora Coralina que dizia frequentemente: “lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.” As mulheres que assumem esta dimensão da luta, fazem a diferença numa sociedade patriarcalista, pensada e estruturada pelos homens.

No texto do evangelho de hoje (Lc 10,38-42), tomamos contato com a experiência de duas mulheres que também fizeram a diferença: Marta e Maria. Duas grandes mulheres que souberam seguir Jesus bem de perto, tornando-se discípulas coerentes d’ELE. Mesmo que a narrativa dos evangelhos não as coloque na mesma dimensão dos discípulos homens. Estas mulheres eram também seguidoras do Mestre de Nazaré, indo com ele até o calvário. Mulheres protagonistas e empoderadas, que assumem até as ultimas conseqüências, estar ao lado de Jesus. No convívio diário com ELE, elas entenderam perfeitamente que, mais importante do que fazer as coisas, é fazê-las de modo novo, diferente e com o jeito feminino de ver as coisas. Para isso, foi preciso ouvir atentamente a palavra de Jesus, mostrando-as o que fazer e como fazer. Como Maria, que saibamos escolher a melhor parte, quiçá tendo um bom livro às mãos.