Terça feira da Primeira Semana do Tempo Comum. Os dez primeiros dias do ano já se passaram. Aos trancos e barrancos a rotina diária vai se corporificando, mesmo com os arautos da desordem tentando insistentemente mudar as regras do jogo. Todavia, a vida segue o seu curso com cada um de nós buscando as realizações que almejamos.
Somos seres “aprendentes”. Viver é aprender sempre! O nosso existir pressupõe um aprendizado permanente. Cada dia aprendemos algo novo, mesmo que não estejamos atentos a este detalhe. Devemos ter em mente que ser sábio não é achar se sabe tudo, mas não perder a capacidade jamais de continuamente aprender. Aprender com os simples e humildes, como já nos dizia a poetisa Cora Coralina: “O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes”.
“Aprendentes” e “ensinantes”, como o mestre Paulo Freire mesmo nos ensinou o caminho da dialética ensinar/aprender do processo de ensino-aprendizagem: “Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender”. Estar no mundo é fazer-se aprendentes constantes. A vida se constituindo numa aprendizagem permanente.
Rezei hoje com o Mestre Jesus. Deixei-me ser seduzido pelo seu ensinamento. Na sintonia que busquei fazer de diálogo/oração com o Paí, expus as minhas fragilidades diante da grandeza infinita do Deus da vida. Vendo o sol despontar, contemplei o olhar de Deus sobre todos nós, mesmo diante das nossas imperfeições e mazelas. Ele continua acreditando em nós, apesar das nossas infidelidades costumeiras. Nosso Deus é fiel e nos ama com a amorosidade de sempre! Ternura, misericórdia e compaixão em forma de Deus.
Rezei com o Mestre Jesus que nos mostra o caminho que leva ao Pai. Jesus que ensina com autoridade, como nos indica Marcos, no Evangelho escolhido para a nossa reflexão no dia de hoje (Mc 1,21b-28). Jesus ensinando com autoridade num dos espaços ensinantes privilegiados dos judeus: “Estando com seus discípulos em Cafarnaum, Jesus, num dia de sábado, entrou na sinagoga e começou a ensinar”. (Mc 1, 21) Autoridade que vem de Deus e se manifesta na simplicidade do Filho, revelando quem é Deus para nós.
Jesus, o homem Deus. O Filho que nos vem revelar os mistérios de Deus. Vem trazer Deus até nós para que também possamos adentrar no Universo Divino de Deus. Sabedoria plena da divindade se fazendo humanidade em nossa realidade. O mistério se fazendo acessível a nós na sabedoria e autoridade do Filho. Jesus que nos traz os ensinamentos de Deus. Ensinamento com autoridade através de uma prática concreta de libertação. Ensinando e fazendo acontecer os frutos deste ensinamento por meio de uma cura. Ensinamento que está associado a uma prática concreta.
Jesus que ensina, mas que também realiza a prática de libertação. Ensina e provoca as pessoas a buscarem a consciência e a liberdade de agirem por si próprios, como seres autônomos e independentes. A alienação não faz parte do ser cristão. Toda sabedoria adquirida deve nos ajudar neste processo de libertação, ajudando-nos a pensar e a agir no mundo como seres de consciência crítica. Ler o mundo de forma crítica, mas orientados pelos ensinamentos que vem de Deus. Deus quer a vida plena, portanto, a sabedoria que vem de Deus deve ser aquela que nos faça construir um mundo mais irmão, onde a vida na sua integralidade, tenha a prevalência. Um mundo mais justo e habitável para todos. Ensinamento de sabedoria para a vida.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.