Sábado da 25ª semana do tempo comum. Sempre aos sábados, a Igreja Católica tem o costume dedica-lo à devoção à Mãe de Jesus, a “Comadre de Nazaré”. Devoção esta que está relacionada à Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus de Nazaré. Tudo porque, foi no sábado, que Maria permaneceu firme, em sua fé de Mãe do Salvador, acreditando e esperançando na ressurreição de Jesus, o Cristo. Coube a São João Damasceno, no século VIII, a referência à celebração do sábado dedicado a Maria. Posteriormente, os livros litúrgicos dos séculos IX e X introduziram as celebrações eucarísticas em honra da fiel discípula de Jesus de Nazaré.
Maria é símbolo maior do discipulado de Jesus. Nela se personifica a imagem da fiel seguidora de Jesus de Nazaré. Nela nos encontramos e temos a possibilidade inspirar-nos na vivência de nossa fé, percorrendo o mesmo caminho trilhado pelo seu Filho. Seus ouvidos atentos, e os olhos bem abertos para enxergar a realidade, foi capaz de captar a vontade de Deus, sendo realizada por intermédio do seu Filho Jesus. Não somente ouvia e sentia dentro de si estas coisas, mas as colocava em prática a Boa Nova trazida pelo Filho. Como cantamos em nossas comunidades: “Faça-se em mim, pobre serva o que a Deus aprouver!”
Ser cristão seguidor de Jesus, tendo Maria como modelo, exige de cada um nós mais do que o cumprimento de alguns preceitos, normas típicas de uma estrutura hierarquizada. O carisma fundante do cristianismo nos seus primórdios, mostra que o cristão é antes de tudo é aquele que se envolve diretamente com a realidade posta à sua volta. Os membros das primeiras comunidades cristãs não fugiam dos conflitos típicos de sua época, mas eram proativos no sentido de buscar a superação das desigualdades que marginalizavam os mais pobres. Reuniam nas comunidades, celebravam o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, e tinham forças suficientes para exercer suas ações cidadãs de transformação.
Por longo tempo a Igreja se preocupou quanto a uma vida cristã regida pela caridade. Muitos cristãos ainda trazem em si esta prática como uma grande virtude. Todavia, esta palavra hoje, parece não mais corresponder a uma prática cristã coerente com o Projeto de Deus revelado por/em Jesus. Geralmente aquelas pessoas que possuem uma fé infantilizada e ingênua, priorizam a prática da caridade, como algo central de suas vidas. Contudo, uma prática mais coerente da fé, supõe a substituição da prática da caridade pela solidariedade. A diferença fundamental entre ambas é a de que, enquanto a caridade é algo que você dá às pessoas menos favorecidas, a solidariedade, ao contrário, adota uma abordagem de mudança do sistema vigente, que provoca a desigualdade. A solidariedade adota uma abordagem de mudança de sistemas. No dizer de Eduardo Galeano: “A caridade é humilhante porque é exercida verticalmente, de cima para baixo; a solidariedade é horizontal e implica respeito mútuo”.
A fé dinâmica e coerente no seguimento de Jesus de Nazaré, supõe imbuirmos de um espirito transformador revolucionário de vivência desta fé. Significa não nos conformarmos com as estruturas engendradas para provocar a morte dos pequenos. No dizer de nosso bispo Pedro, ser cristãos numa sociedade marcada pelas desigualdades sociais requer: “Denunciar a iniquidade do mercado total, do consumismo desenfreado, do lucro excluidor das maiorias. Fazer da Fé cristã luz e força para combater esse sistema de iniquidade que mata de fome milhões de pessoas da grande família de Deus deve ser o papel da Igreja”. Assim, não basta ter fé em Jesus, mas ter a mesma fé de Jesus, transformando-nos em um agente transformador.
O evangelho deste sábado começa afirmando que as pessoas ficavam admiradas com todas as coisas que Jesus fazia (Lc 9,43). “Jesus faz bem todas as coisas”. (Mc 7, 37) Não somente dizia palavras bonitas aos pobres, mas abre-lhes os ouvidos e a boca, para que sejam capazes de ouvir e falar, isto é, discernir a realidade e dizer a palavra que a transforma. O mesmo é proposto àqueles e àquelas que o seguem mais de perto, pois enquanto não mudarmos de ideia sobre a nossa prática cristã, jamais realizaremos atos de libertação, que darão continuidade à sua/nossa missão. Como mesmo disse o escritor alemão Franz Kafka (1883-1924): “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.