Entre o bem e o mal

Quarta feira da Décima Terceira Semana do Tempo Comum. A primeira semana do mês de julho vai se consolidando e nos possibilitando viver num clima mais ameno com as férias escolares e o recesso de alguns órgãos públicos. Aqui pelas nossas bandas, o clima já é de Temporada de Praia, com algumas pessoas de fora, que vem visitar os parentes e aproveitar das belezas do Araguaia. Como diz uma de nossas canções por aqui: “Araguaia, meu Araguaia. De ministérios e de temor. De cascatas e banzeiros. De matas e praias e campos sem fim.”

O dia 5 de julho nos remete a uma data importante. Hoje o mundo comemora o “Dia Internacional do Cooperativismo”. Esta data significativa foi Instituída no ano de 1923, no Congresso da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), com o objetivo de comemorar a confraternização de todos os povos ligados ao Cooperativismo, lembrando a importância das cooperativas para o desenvolvimento sócio-econômico-ambiental, além de congregar lideranças cooperativistas do mundo todo. Este movimento busca construir uma sociedade mais justa, igual e fraterna, tendo como seu horizonte maior a solidariedade. A sociedade se organizando através da ajuda mútua, tendo o cooperativismo como sua força maior.

No plano litúrgico, hoje Jesus está numa região bastante inóspita. Ele atravessa o lago de Genesaré e chega à região dos gadarenos. Este é um dos povos que habitavam a Região da Decápole, as dez cidades que compunham aquela região. A palavra “Decápolis” vem do grego “deka”, “dez”, e “polis”, que significa “cidade”. Esse território era bastante extenso, e ficava ao sul do mar da Galileia, estendendo para o leste do rio Jordão. Era formada por gregos, romanos, pagãos, povos de diferentes culturas, sendo que a que mais predominava era a cultura grega.

Jesus que sai de si mesmo e vai além-mar, expandindo o seu projeto messiânico, fazendo-o chegar às regiões mais recônditas. Lá onde ninguém queria ir, principalmente as lideranças religiosas e políticas de Jerusalém: “Eu não fui enviado, senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. (Mt 15,24) A salvação pensada por Deus e trazida por Jesus não é privilégio de uma casta ou um povo determinado, mas é para todos aqueles e aquelas que acreditam n’Ele e na sua missão, mesmo que sejam considerados como pagãos, estrangeiros, gente sem rosto e sem dignidade. Não é mais a raça e o sangue que unem as pessoas a Deus, mas a fé em Jesus e no mundo novo e transformado que Ele desperta.

Naquela terra distante, estranha e adversa, Jesus realiza mais um de seus muitos sinais (milagres): a cura dos “endemoniados gadarenos”. Na terra dos pagãos, Jesus faz acontecer um sinal de libertação do Deus da vida. O bem vencendo o mal. Fazendo o bem sem olhar a quem. Expulsar demônios (exorcismo) naquele atual contexto nada mais era que promover a desalienação daquelas pessoas. O evangelista Mateus nos mostra que Jesus realizou ali uma ação libertadora, mesmo que para isso tivesse que adentrar áreas pagãs, que naquele tempo eram consideradas como propriedade do demônio. Para Deus não existe limite fronteiriço para a prática do bem.

Mesmo fazendo o bem, Jesus foi convidado a retirar-se daquela região. A atitude dos que pediram para que Jesus fosse embora é a mesma de uma sociedade que valoriza mais a posse dos bens do que a libertação dos alienados e escravizados. O que Deus quer com o seu projeto é que todas as pessoas vivam. E vivam bem! A sociedade que põe qualquer coisa acima da vida humana é sociedade que rejeita Jesus. O bem sempre vence o mal, por mais que a sensação que fica é a de que, quem pratica o mal, triunfará. O mal não tem a força divina de Deus que está presente em tudo e em todos como nos diria o nosso grande escritor Guimarães Rosa (1908-1967): “O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver”.

Entre o bem e o mal. Entre um e outro está a força suprema e revolucionária do amor. Quem ama se enche do bem e odeia o mal. O bem é o instrumento dos fortes que não se deixam levar pelas forças demoníacas do mal. Combater o mal é a missão intrasferível de quem faz a sua adesão ao Projeto de Deus revelado em e por Jesus. Não se vence o mal praticando outro tipo de mal. Vence-se o mal com o bem, como nos diria São Paulo: “Não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem.” (Rom 12,21) Se vence o mal com atitude de justiça, verdade e amor. Amor fraterno e solidário a todas as pessoas que mais necessitam de cuidados, que são os explorados pelas forças do mal. O filósofo prussiano Friedrich Nietzsche (1844-1900) entendeu esta dinâmica de Jesus da seguinte maneira: “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal”.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.