Hoje, fui acometido do espírito nobre da filosofia. Acordei relembrando os momentos áureos de quando era um jovem estudante do curso de filosofia da PUC de Campinas/SP, apaixonado pelo curso e pelo pensamento filosófico dos Pré-socráticos. Era feliz e sabia que o era, adentrando ali a este vasto campo do conhecimento filosófico. A paixão foi tanta que, era para fazer apenas três anos do curso e acabei ficando para saborear o quarto ano, com as disciplinas pedagógicas. Este curso marcaria a minha vida para sempre.
O SER de Parmênides de Eléia, pensador que viveu aproximadamente entre 530 a 460 a. C., veio com tudo a minha mente nesta manhã, e me fez companhia na minha oração matinal. Entre uma cuia e outra de chimarrão, dialoguei com o filosofo, aproveitando para também apresentar a ele o pensamento de Jesus de Nazaré. Um bom diálogo sem dúvida, pois se na concepção do primeiro, somente o SER pode ser pensado, uma vez que o não-SER não é, o Nazareno da Palestina vai mais além, ao afirmar que o SER só pode ser plenamente estando em Deus.
Lá pelas tantas de nossa agradável conversa em forma de oração, precisei voltar à Grécia Antiga e trazer presente o também filósofo Sócrates, que teria vivido nos anos 469 aC. a 399 a C. Ele que tinha como lema de vida e principio para tornar conhecido o seu pensamento, uma das inscrições da entrada do templo de Delfos: Conhece-te a ti mesmo. Conhecer-se para SER! Se me conheço deveras, passo a ser uma pessoa ciente de mim mesmo e das minhas limitações, frente ao existir. Em consonância com o Filho de Deus, tive que concordar com o filósofo, quando afirma que, para melhor conhecer-nos, precisamos nos ocupar menos com as coisas (riqueza, fama, poder) e passarmos a nos ocupar com nós mesmos enquanto SER que somos.
Inegável que o ano de 2020, inaugurou um novo ciclo na história da humanidade. Possivelmente, não seremos mais os mesmos a partir de então. Muitas das nossas certezas serão relativizadas e, por mais que alguns afirmem que, logo voltaremos à normalidade, não parece ser uma assertiva sobre os anos que virão. Diante deste contexto, somos mais invadidos por indagações, questionamentos, que por respostas: quem serei eu a partir de agora? Quem seremos nós? O ser que habita em mim é mesmo aquele que acredito ser quem sou? Sou ou não sou quem sou?
Outro filósofo naturalista, que pertencia a Escola Jônica, Tales de Mileto (624 aC. a 548 aC.) afirmava que, a coisa mais difícil para ele, era justamente o CONHECER A SI MESMO. Segundo ele, nós não nos conhecemos como achamos que conhecemos. Estamos sempre nos surpreendendo conosco mesmo. Quando achamos que apropriamos do conhecimento que temos de nós, algo nos surpreende, através de nosso comportamento rotineiro. Por isso, o caminhar para dentro de nós é um processo que fazemos durante toda a nossa existência. Vamo-nos conhecendo com o passar dos anos. Talvez por este motivo, vamos ficando mais serenos com o avançar dos anos vividos e com as experiências que vamos adquirindo ao longo da vida.
SER e não SER! Este pode ser o nosso grande dilema. Ser e não ser de/com Jesus. Alguns até achamos que somos um com ELE, mas muito do que somos, depõem contra nós mesmos. Como encontrar então o ponto de equilíbrio, de saber que estamos no caminho certo? Como saber que completo em mim o projeto de Deus revelado em Jesus? Ate que ponto, estou disposto a fazer da minha vida, uma entrega confiante nas mãos de Deus e ser um discípulo seguidor d’ELE? Nosso bispo Pedro, com a sua sabedoria de poeta e inspirado pelo pregador, místico, escritor e poeta São João da Cruz (1542-1591) tratou de nos sugerir a forma que devemos ser com maior integridade nos planos de Deus e no seguimento de Jesus de Nazaré. Dizia ele: “Ser o que se é. Falar o que se crê. Crer no que se prega. Viver o que se proclama. Até as últimas consequências.” (Pedro Casaldáliga)
Esta foi a minha oração de hoje. Como vêem, não estive sozinho nos meus diálogos com o Senhor. Rezei também pelos meus amigos, amigas e também por todos aqueles e aquelas que pediram as minhas humildes preces. Estou procurando ser quem sou aqui neste contexto real. Deus sabe de todas as minhas limitações e do quanto preciso avançar para alcançar um patamar que me faça um servidor das causas dos pequenos. Sendo o que se é sempre, confiantes nos braços do Senhor!.