Sábado da vigésima semana do tempo comum. O mês de agosto segue veloz no caminho de setembro. A rapidez como as coisas acontecem às vezes nos assustam. A existência se torna um desafio, quando temos por perspectiva o propósito de viver com intensidade cada instante, cada momento, como se fossem os últimos. Assim pensando, seria muito bom se levássemos em consideração aquilo que fora escrito pela poetisa americana Veronica Shoffstall quando ela diz: “As pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.”
Mais um final de semana está chegando ao horizonte de nossa existência. Neste sábado, especificamente, a Igreja celebra a memória de São Bernardo de Claraval (1090-1153). De origem francesa, Bernardo viveu no final do século XXI e meados do século seguinte. Escolheu como propósito a vida religiosa monacal, mesclando-a com o trabalho, a contemplação e a oração. Em 1174, foi proclamado santo pelo Papa Alexandre III. Doutor da Igreja, sua importância é tamanha que o Papa Pio XII dedicou a ele uma de suas encíclicas intitulada “Doctor Mellifluus” (“último dos padres, mas certamente não inferior aos primeiros”). É de São Bernardo que nos vem uma das frases mais eloquentes sobre o amor: “O amor não busca outro motivo e nenhum fruto fora de si; ele é seu próprio fruto, seu próprio deleite. Amo porque amo; amo para poder amar”.
Amar por amar e isto nos basta. Amor como forma de vida. Amor como destinação maior das nossas ações. Nossa essência maior é o amor. Nascemos para amar e aprendemos a odiar. Ao nos plasmar no seio do Cosmos, Deus insufla em nós o DNA do amor. O coração do ser humano nasce inflado de amor. A criança, ao deixar o ventre materno, ela traz em sua essência todos os caracteres do amor. O amor é o sinal maior da presença de Deus em nós. Amor que levou o líder sul africano Nelson Mandela (1918-2013) assim sintetizar: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto”. Amar para poder amar.
Jesus pleno de amor pela vida. O Filho, grávido do amor de Deus por nós. Da relação de ternura e amorosidade entre o Pai e o Filho, somos agraciados com a presença do Divino em nós. Deus se fazendo presente em nossa realidade humana, divinizando a nossa humanidade. O divino de Deus se fazendo humano em nossas fraquezas e nos fazendo fortes n’Ele. Em Deus nós somos. Todavia, entre o nosso ser e o nosso fazer, há alguns desafios que precisamos aprender a superá-los. Não basta somente ser. O nosso Eu precisa ser permeado pelo nosso fazer. Ser e fazer como faces de um projeto de vida que precisamos trazer para o centro da nossa existência de forma coerente. Pelo menos é desta forma que Jesus está nos dizendo no texto da liturgia que nos é proposto para este sábado.
“Os mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. Por isso, deveis fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam. (Mt 23, 2-3) Ser e fazer. Falar e não fazer. Jesus está alertando os seus, quanto as contradições presentes na vida das autoridades religiosas de seu tempo. Pessoas que estavam mais preocupadas em falar, anunciar, “pregar”, mas aquelas suas palavras não vinham acompanhadas das ações. Lideranças religiosas que nao estavam preocupadas em viver aquilo que anunciavam. Eram, mas não faziam. Palavras ditas ao vento, pois a sua prática os denunciavam como maus pastores. Fácil de falar, difícil de fazer.
O Evangelho de hoje é um texto emblemático, pois Jesus está também dizendo a nós hoje com a nossa fé vivida apenas na teoria. Ao criticar os intelectuais e os líderes da classe dominante da Palestina de seu tempo, que transformam o saber em poder, agindo hipocritamente e oprimindo o povo, Ele nos alerta de que podemos estar fazendo a mesma coisa nos dias de hoje. Neste sentido, nunca devemos nos esquecer que na comunidade de Jesus, todos são irmãos e irmãs, voltados para o serviço mútuo e reunidos em torno de Deus que é Pai, e de Jesus, que é o único líder e que veio para servir. Ser e fazer no serviço de amor doação pelas mesmas causas de Jesus. Mais do que falar, o que importa mesmo é o nosso ser e fazer as coisas do Reino. Tudo fazer por amor e nada sem Ele. Pedindo licença a Santo Agostinho, “Ame e faça o que quiser”, pois os caminhos do amor são plenos de Deus. Ser e fazer na medida certa do amor. Quando o ser é fazer, o falar acontece na prática.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.