Esperança que não decepciona

Quinta-feira (04) da segunda semana da quaresma. Seguimos na mesma toada. Trafegamos pela estrada da experiência de ir ao encontro da esperança pascal de Jesus Ressuscitado. Vamos ao encontro da experiência pessoal de estar com Jesus. Um pessoal que nos remete também ao encontro dos irmãos e irmãs que trilham os mesmos caminhos que os nossos. Estamos cabisbaixos e com uma dor rotunda em nosso peito como estavam os discípulos de Emaús. Mas ELE é fiel e nos alenta, nos fazendo esperançar novamente.

Como o dia não amanheceu chuvoso como nos demais, meus anfitriões se fizeram presentes rezando comigo. Fazia tempo que eles não davam o ar da graça. Também, com tanta chuva que caiu por aqui, certamente ficavam até mais tarde nos seus berços/ninhos. Fizeram uma algazarra só, louvando a Deus, com os seus cantares característicos. Cada qual no seu tom, entoando salmos de louvor e agradecimento a Deus pelo dom da vida de cada um deles. Um verdadeiro presente de Deus, que me fez lembrar a canção do padre Zezinho, Porque Deus me chamou: “Esta manhã, mais uma vez. Volto a rezar e a pedir tua luz. Sei que eu não sei continuar. Sem escutar tua voz que me diz. Que o Pai me ama, que Ele me chama. Pra me fazer feliz.”

A natureza nos ajuda a encontrar com Deus! Encontrar Deus. Pelo menos se assim nos predispusermos a enxergar Deus presente em cada uma destas pequenas criaturas. Estes insignificantes seres pequeninos nos fazem acreditar, que Deus nos plasmou no seio do cosmos para sermos felizes. A maldade humana é que desvirtua o projeto de Deus, provocando a desarmonia de sua auto-suficiência de seus projetos egoístas. Fomos projetados para sermos felizes. Assim é o sonho de Deus para nós.

“Maldito o homem que confia no homem e que busca apoio na carne, e cujo coração se afasta do Senhor” (Jr 17,5), brada o profeta Jeremias (que exerceu sua atividade profética entre os anos 627 e 586 a.C), no texto que nos é proposto na liturgia do dia de hoje. Neste seu alerta, o profeta quer nos dizer, que somos seres que vivemos na constante busca por segurança. Alguns de nós a busca em outra pessoa, outros em si mesmos, outros ainda no poder, na riqueza acumulada injustamente. Todas estas seguranças são falsas, e nos provocam profunda frustração. Somente a confiança em Deus é capaz de nos possibilitar a vida plena, e a agir com tranquilidade, frente aos desafios a serem enfrentados.

Somente Deus pode nos tirar deste sufoco que estamos metidos atualmente! Ele é a nossa única saída, neste cenário de morte dos inocentes. Evidentemente que devemos cada um e cada uma, fazer a nossa parte. A esperança perdura na medida em que nos propusermos acreditar, e com ELE caminhar. Caminhar como fizeram os discípulos de Emaús, depois de solicitar que o Ressuscitado permanecesse com eles: “Fica conosco Senhor, pois já é tarde a noite se aproxima”. O nosso coração está apertado como estava o coração daqueles homens. O nosso coração sempre deseja algo que ainda não temos; e quando o temos, desejamos não ter para sentir novamente o prazer do encontro com aquilo que procurávamos.

Vivemos de esperança e de teimosia, acrescentaria Pedro. Aliás, estas quatro palavras, traduzem o nosso projeto de vida para os dias atuais, na concepção de Pedro: Fé, esperança, teimosia/resistência e utopia. “A esperança, a virtude menor, mas a mais forte“ vai nos dizer o Papa Francisco. Mas devemos olhar a esperança através dos olhos de Jesus, o “autor da esperança”, conclui o nosso papa. “Nossa esperança tem um rosto: o rosto do Senhor ressuscitado, que vem com grande poder na glória”, assegura-nos Francisco. Esta esperança tem nome e sobrenome: Jesus, o Cristo! Esta não nos decepcionará jamais!

Frente a ela não nos iludimos. Das três virtudes teologais, ela é a mais humilde delas porque fica escondida no mais recôndito de nosso coração. A esperança nos faz vencer o medo e a insegurança, possibilitando-nos sair da escuridão da noite, vendo acontecer o amanhã de um novo horizonte. A esperança é a nossa força motriz que nos leva em direção aos nossos sonhos que sonhamos juntos e de mãos dadas, superando os obstáculos. Como nos diria o romancista, poeta, dramaturgo francês, Victor Hugo (1802-1885) “A esperança seria a maior das forças humanas, se não existisse o desespero”. Acreditar! Esperançar! Sonhar! Viver como se nunca fosse morrer!