Os dias vão passando e a ansiedade e a angústia vão também nos acompanhando dia a dia. As incertezas de sempre fazem um rosário de lágrimas em nossas vidas. Por mais que caminhemos, sentimos que não estamos saindo do lugar e os dias parecem que não passam. Pessoas perdendo vidas. Famílias inteiras carregando a sua cruz. O vírus chegando cada vez mais próximo de nós. Falta-nos a esperança de olhar para frente e ver um futuro próspero e radiante. Nunca em nossas vidas precisamos tanto de esperançamento.
Não se trata de somente MANTER VIVA a ESPERANÇA. É necessário algo mais. Este algo mais vem do VERBO ESPERANÇAR, que quer dizer, levantar a cabeça e AGIR, com o intuito de construir ALTERNATIVAS e soluções viáveis. Ter em mente um horizonte, para não desistir da CAMINHADA, fixando neste horizonte que se quer chegar. Esperançar também é SONHAR o SONHO POSSÍVEL, almejando sempre algo a se buscar. Mesmo que a realidade não aponte saída como agora. Todavia, é preciso um desinstalar da minha ZONA DE CONFORTO, lançando-me sob novas perspectivas, provocando as mudanças que se fazem necessárias. Fugir do PESSIMISMO das pessoas DERROTISTAS. ABRAÇAR AS CAUSAS que ainda são válidas e pelas quais se vale a pena LUTAR.
Não é fácil ter este esperançamento em dias tão conturbados que estamos vivendo. Entretanto, se não agirmos assim, acabamos ficando doentes, com tamanha angústia que carregamos dentro de nós. Para nos ajudar a pensar este horizonte possível podemos recorrer ao “Povorello de Assis”, que nos deixou uma das orações mais conhecidas de todos nós. Num dado momento desta oração ele diz: “Onde houver desespero, que eu leve a esperança. Onde houver tristeza, que eu leve a alegria. Onde houver trevas, que eu leve a luz.” Perfeito! Fazer nossas as palavras deste santo tão querido.
Temos razões de sobra para não esperançar. Cada um de nós tem os seus motivos para estar acabrunhado. E não é para menos, afinal, a coisa está muito difícil. Ontem mesmo, tive a triste informação de que o vírus entrou no Parque Nacional do Xingu. Dois indígenas testaram positivo, infelizmente. Os Xavante do território Indígena de Marãiwatsédé, seguem aumentando ainda mais as pessoas contaminadas, inclusive profissionais de saúde. O vírus segue seu curso, alastrando com muita rapidez. Estas situações deixam-nos arriados, pois nada podemos fazer, a não ser solidários naquilo que podemos fazer daqui de fora.
Como vemos, as coisas não estão sendo fáceis de serem levadas É natural que tenhamos medo. Mas quem se esperança, mesmo que esteja debilitado e com receio e muita insegurança, não se deixa dominar por tais sentimentos. Ao contrário, enfrenta de cabeça erguida e com coragem os entraves, os problemas, os obstáculos, principalmente este inimigo comum e invisível. É capaz de encarar de frente o que quer que esteja atrapalhando o caminho em direção à realização dos seus sonhos e perspectivas. Devemos também lembrar que, em uma cabeça cheia de medos, não há espaço para sonhos.
Geralmente as pessoas que se enchem de esperança, costumam não serem bem vistas, principalmente frente àqueles que são dominados pelo pessimismo. Neste sentido, a liturgia de hoje nos trás uma das páginas mais significativas da vida crista. Jesus falando das Bem Aventuranças. E uma delas, enriquece o nosso modo de viver a partir do contexto que estamos falando: “Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim. Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês.” (Mt 5, 11-12)
Que o ESPERANÇAR seja presença viva em meio a toda a ansiedade que estamos vivendo. Busquemos a força que brota do nosso INTERIOR e como diz o meu xará, Chico Xavier: “Lembremo-nos de que o homem e a mulher interior se RENOVAM SEMPRE. A LUTA enriquece-o de EXPERIÊNCIA, a DOR aprimora-lhe as EMOÇÕES e o SACRIFÍCIO tempera-lhe o CARÁTER.”