Quarta feira da terceira semana do Advento. Seguimos no ritmo de preparação para o Natal. O tempo segue veloz em direção ao horizonte conclusivo de mais um ano em nossas vidas. 2022 caminha rapidamente para entregar o bastão ao ano subsequente. O tempo vai passando e a saudade se encarrega de fazer o registro das coisas boas que ficaram para trás. Como diria o poeta e escritor gaúcho Mário Quintana (1906-1994), “o tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo”. A esperança do Natal nos vem da criança desnuda de Belém, na Judeia. Menino Deus em forma de esperança viva dos pequenos, pobres e marginalizados.
Esperança, substantivo feminino que, se bem entendida na sua etimologia, indica o ato de esperar alguma coisa, ou mesmo como sinônimo de confiança em algo. Todavia a esperança que tanto desejamos para os dias de hoje é aquela que nos vem do pensamento de nosso patrono da educação, Paulo Freire (1921-1997), que lucidamente nos dizia: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Quem se deixa mover pelo esperançar não desiste jamais!
De Paulo para Paulo. Por falar em Paulo, não podemos nos esquecer de outro Paulo que marcou a nossa historia positivamente: Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016). No dia de hoje se completam 6 anos de sua páscoa. Frade franciscano, escritor e incansável defensor dos Direitos Humanos, enfrentando inclusive os horrores da ditadura militar no Brasil. Adotou como lema à frente da Arquidiocese de São Paulo a frase, “De esperança em esperança”. Amigo dos bons de nosso bispo Pedro, está fazendo muita falta, num tempo em que algumas das nossas lideranças religiosas se preocupam mais com as “diretrizes canônicas” que propriamente com o Evangelho. Muito rigorismo e carisma pouco.
Esperançar como a chuva que caiu abundantemente nesta manhã aqui pelas bandas do Araguaia. Pedro, o “chaveiro do Céu”, não economizou na torrente que molhou a terra do “Vale dos Esquecidos”. Esperançar como o sonho de Deus para toda a humanidade na pessoa do Filho que vem fazer morada em nossa “Casa Comum”. Morada que aconteceu em todos os sentidos na vida deste grande homem que hoje celebramos o seu dia: São João da Cruz (1542-1591). Espanhol de nascimento, místico e doutor da Igreja, este sacerdote carmelita marcou época na história da Igreja. Morreu ainda muito jovem, antes de completar 50 anos, mas influenciou a espiritualidade Jesuânica com a sua mística. Canonizado pelo Papa Bento XIII, em 1726, tem em sua obra “Noite escura da alma”, um dos clássicos da espiritualidade, que aconselho a proveitosa leitura.
Espiritualidade da/na esperança. Espiritualidade de Jesus encarnado na realidade dos empobrecidos, como faz questão de ressaltar o Evangelho que a liturgia deste dia nos propõe refletir. Espiritualidade do esperançar de Deus na pessoa do Filho. Talvez seja este o nosso maior desafio ao nos depararmos com o contexto atual que estamos vivendo. Dias de profundas incertezas no atual cenário político, econômico e social de nossa história republicana. A esperança venceu o medo com as eleições, mas ainda se faz noite escura na mente dos que perderam, mas que não querem largar a alça de seu caixão funerário. Precisamos retomar a espiritualidade esperançosa de Jesus, fazendo acontecer o raiar do dia para os pequenos, destinatários primeiros do sonho de Deus.
Espiritualidade na esperança dos seguidores de Jesus que fazem a adesão ao Projeto libertador de Deus, dando continuidade às mesmas ações de d’Ele: “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e a boa nova é anunciada aos pobres”. (Lc 7,22) Espiritualidade na esperança da era messiânica que está no ar, como atividade concreta que realiza aquilo que se espera: a libertação dos pobres e oprimidos. Mística e ação de quem se coloca como seguidor/seguidora de Jesus. Espiritualidade do esperançar de quem não fica esperando sentado, mas sai à luz do dia para fazer acontecer a utopia do Reino como ação revolucionária do Projeto de Jesus, levando em conta aquilo que Ele mesmo disse: “É feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!” (Lc 7, 23)
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.