E não é que sextou de novo! Seguimos no clima pascal. Em meio a rotina de dor celebrando a vida d’Ele, que desceu da cruz e é um conosco, vivo e ressuscitado na nossa travessia pela vida afora. Vida esta que é o dom maior que Deus nos deu. Dádiva para ser vivida em toda a sua intensidade e não da forma como, prematuramente estão sendo tiradas, abreviando sonhos, histórias e projetos de tantas pessoas queridas que se foram. Alguém vai prestar contas diante de Deus, além de ficarem registrados nos anais da história como os responsáveis pelo genocídio.
Uma sexta feira em que a liturgia nos reserva um dos textos mais conhecidos do Novo Testamento: “a multiplicação dos pães”. Um texto da literatura Joanina, escrito por volta do ano 90 da era cristã, que relata para nós o entendimento que Jesus teve diante da multidão faminta e qual devia ser a atitude de seus seguidores, frente àquele contexto. Num primeiro momento, seus seguidores até tentam eximirem-se da responsabilidade de dar de comer a tanta gente. Ao que Jesus lhes rebate dizendo que eles mesmos tinham que dar de comer.
Ao contrario dos demais evangelistas, João não chama de milagres as ações de Jesus em meio aos pequenos, mas de “sinais” concretos do Reino. Ao ver a multidão faminta e, movido por grande compaixão, Ele realiza a multiplicação de pães e peixe. Ao realizar este “sinal”, Jesus propõe para os seus, qual deve ser a missão da sua comunidade: ser sinal do amor generoso e gratuito de Deus, assegurando para todas as pessoas a possibilidade de subsistência com dignidade. E o mais interessante saber, é que a subsistência das pessoas não está no muito que poucos possuem e retêm para si (concentração), mas no pouco de cada um possui e é repartido entre todos (partilha). Lembrando também que a garantia da dignidade não se encontra no poder de um líder que manda, como salvador da pátria, mas no serviço de cada um que organiza a comunidade para o bem de todos e todas.
A sociedade querida por Deus é a da partilha e não a da concentração. Bem diferente do que vemos acontecer entre nós: uns tem de tudo e mais do que o necessário, e outros que nada possuem. Esta é a espinha dorsal do capitalismo. “Um monstro que sobrevive às custas do sangue de vidas humanas”, dizia-nos nosso bispo Pedro. Ainda que a nossa Constituição Federal de 1988, diga com todas as letras que, “Todos somos iguais perante a lei”. Esqueceu-se de também dizer que por aqui, alguns são mais iguais que outros. Resta-nos fazer nossas as palavras do sociólogo e filósofo polonês, Zygmunt Bauman: “O capitalismo é um sistema parasitário. Como todos os parasitas, pode prosperar durante certo período, desde que encontre um organismo ainda não explorado que lhe forneça alimento.”
Como sempre faz no mês de abril, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), está realizando a sua 58ª Assembleia Geral. Em virtude da pandemia, pela primeira vez, sendo realizada no formato virtual. Discutindo a atual conjuntura e apontando caminhos viáveis para a Igreja do Brasil na e pós-pandemia. Também preocupado com a nossa atual conjuntura, papa Francisco enviou uma mensagem de vídeo dirigida aos bispos e ao povo brasileiro, enfatizando a necessidade de “união” e “reconciliação” para que possamos superar as nossas crises: sanitária, econômica, política, moral… Francisco sendo solidário as nossas dores, mais do que alguns dos nossos dirigentes políticos, que ainda continuam rindo e fazendo pouco caso da desgraça alheia.
Essencial é a vida! A vida pede passagem! Não como querem alguns de nossos nada “representantes” políticos que querem a todo custo a volta das aulas presenciais nas escolas, com o discurso mais esfarrapado, afirmando que a educação é essencial. A vida que é essencial. E não temos que nos preocupar apenas com a pandemia. O Brasil é um país que passa fome. Muitas crianças vão dormir de barriga vazia. Muitas famílias estão sem ter o que comer e vão continuar sem tê-lo, a depender do auxilio emergencial de R$ 150,00. Como Jesus, lutar pelo pão é mover-se pela compaixão e amar sem limites. Assim, somos desafiados a desenvolver em nós a prática do mandamento do amor, que não significa apenas amar com sentimento e com afeto, como comumente fazemos, mas através de ações concretas que promovam a vida e a dignidade das pessoas, nas condições em que se encontram. Como fez a Madre Teresa de Calcutá: ”O que eu faço é simples: ponho pão nas mesas e compartilho-o.