Seguimos a pandemia. Sem planejamento e sem ministro da saúde. Já ultrapassamos a casa dos 65 mil mortos, com 1.604.585 infectados. O dado importante é que mais de 1 milhão de pessoas foram curadas, graças ao empenho dos incansáveis profissionais de saúde. O vírus caminha cada vez mais veloz para as periferias e para as pequenas cidades. Curiosamente, aqui no Estado de Mato Grosso, uma senhora de 101 anos, ficou 5 dias internada e voltou para sua casa feliz da vida. Melhor sorte não teve um jovem de 17 anos, que morria no instante que esta senhora deixava o hospital.
O vírus é perigosíssimo. Transmite numa proporção gigantesca. Não é brincadeira, como alguns dentre nós estão se comportando, zombando da situação. O vírus chegou também entre o Povo Tapirapé. Uma pessoa levou o vírus para dentro da aldeia e, segue contaminado os seus. Neste final de semana, uma matriarca de 109 anos, desta etnia, deu entrada no hospital, testada positivamente para a Covid-19. Também na Terra Indígena de Sangradouro, o cacique da aldeia do Povo Xavante está internado em estado grave na cidade de Primavera do Leste, a espera de uma UTI que não tem. O sistema está colapsado. Não há mais leitos disponíveis.
No início desta pandemia, no mês de março, alguém insensato zombava dizendo ser apenas uma gripezinha, e que não iria pegar nem umas 800 pessoas. É desta forma que vemos o enfrentamento desta crise sanitária. Muita confusão e pouca organização. Vemos a cada dia, aumentar ainda mais o quadro de pessoas infectadas pelo vírus. Os indígenas que o digam, pois não possuem a mesma resistência que nós não indígenas para as doenças. O Povo Xavante vive amedrontado com tantas mortes.
Infectados pelo vírus e sofrendo retaliações por parte das pessoas da cidade, quando se deparam com alguns deles transitando pela rua. Nosso povo ainda é muito preconceituoso em relação aos indígenas. Conheço profissionais, que atuam na saúde indígena e são os primeiros a olhar para o indígena com preconceito. Na saúde indígena há alguns que estão ali, mais pelo salário que ganham. Nem sequer tem o trabalho de aprender ao menos a língua materna para poder dialogar, sobretudo com as mulheres indígenas, que tem mais dificuldade em lidar com a segunda língua. Tecem comentários horrorosos sobre os povos com os quais trabalham e que por causa deles, estes profissionais sustentam as suas famílias. Chega a ser vergonhoso tais atitudes racistas e preconceituosas.
Falar de racismo é falar de Direitos Humanos. E quando falamos de Direitos Humanos, muitos torcem o nariz. Mesmo pessoas ligadas à igreja, pois na sua concepção, aqueles que trabalham pelos Direitos Humanos defendem bandidos. Esta é a ideia que alguns equivocadamente têm. Direitos Humanos para humanos direitos. Para estas pessoas, seria interessante mostrar a elas o que diz a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, que é um tratado internacional de Direitos Humanos adotado pela Assembléia das Nações Unidas, que define assim a discriminação racial: “toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública”.
O racismo entre nós é estrutural. Está entranhado nas estruturas mentais das pessoas. Manifesta das formas mais abjetas possíveis. As pessoas trazem dentro de si e manifestam sem nenhum pudor. Quanto aos indígenas então, se torna descarado. “Eles fedem.” De saber que quando da chegada do colonizador, quem, de fato fedia, eram os europeus. Este hábito que temos de banhar, herdamos dos povos indígenas, dentre tantas outras coisas de nossa vida cotidiana. Chega de preconceito! Chega de discriminação! Chega de racismo! Os povos indígenas são ameaçados diuturnamente e sofrem todas as formas possíveis de violência e desrespeito, no que diz respeito aos seus direitos fundamentais. Com esta pandemia, também estão sendo vistos como os contaminados. Basta ver a reação das pessoas não indígenas quando os vêem pela cidade. Certamente, é a mesma sensação que sentiam os “leprosos” do tempo de Jesus, que eram obrigados a viver fora das cidades, como seres impuros. Ninguém nasce racista. Aprende-se a ser racista. Tire o seu racismo do caminho!