Quinta feira da Quarta Semana do Tempo Comum. Festa da Apresentação do Senhor. Fevereiro vem chegando de mansinho, mantendo o mesmo ritmo das chuvas, que foi a tônica do mês de janeiro. A terra sendo molhada, o volume do Araguaia se multiplicando, fazendo a alegria da molecada que se joga no rio, nas suas peripécias próprias da idade. O cais de São Félix que já é movimentado naturalmente se transforma no ponto de encontro para todos aqueles que vem contemplar o rio. A cidade é fim de linha e o rio se transforma na vida da cidade. O privilégio maior é estar no Mato Grosso e ver o sol nascer no Tocantins.
Neste mês de fevereiro, o Papa Francisco nos pede que rezemos pelas paróquias. Ao expressar tal intento, ele também pede que estas paróquias sejam comunidades próximas, sem burocracia. Segundo ele, elas “devem voltar a ser escolas de serviço e generosidade, com suas portas sempre abertas aos excluídos. E aos incluídos. A todos”. Paróquias como comunidades servidoras das causas do Evangelho. Espaço de acolhida dos mais pobres e rejeitados da sociedade. Paróquias abertas à realidade dos empobrecidos como “Igreja em Saída”, e não como meros espaços celebrativos de sacramentos que giram em torno das paredes do templo ou da vida que se resume às sacristias, que se transformaram em “embaixadas dos sacramentos”, no dizer do Papa.
Festa do Encontro, Festa da Luz. Festa da Apresentação do Senhor. Luz que é Jesus, como bem profetizara o velho Simeão: “luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”. (Lc 2,32) A Igreja celebra a festa da Apresentação do Senhor após quarenta dias do Natal. Este acontecimento importante, retomando a tradição deste ritual religioso, que o evangelista São Lucas nos apresenta no dia de hoje pela liturgia. No Oriente, a celebração desta festa remonta ao século IV e, desde o ano 450, é chamada “Festa do Encontro”, porque Jesus “encontra” os sacerdotes do Templo de Jerusalém. Por volta de meados do século V, esta festa passou a ser celebrada também em Roma, como a temos até os dias atuais. Todavia, com o passar do tempo, foi acrescentada a esta festa a “bênção das velas”, recordando que Jesus é a “Luz dos Gentios”. No encontro de Jesus se realiza também o nosso encontro, ao nos apresentarmos ao Senhor a cada dia das nossas vidas.
Segundo rezava a tradição judaica, todo primogênito do sexo masculino pertencia a Deus, e devia ser apresentado por meio de um ritual apropriado. Nessa ocasião, também se fazia a purificação da mãe, e se oferecia em sacrifício um cordeiro. Quem era pobre podia oferecer duas rolas ou dois pombinhos, em lugar do cordeiro, conforme está descrito no Livro do Levítico: “Se a pessoa não tiver recursos para oferecer um animal pequeno, como sacrifício, levará para o Senhor duas rolas ou dois pombinhos…” (Lv 5,7). A família pobre de Nazaré se encaixa neste perfil traçado pelo texto vétero testamentário. O Messias nasce em lugar pobre, e vem pobre, para os pobres.
A família pobre de Nazaré se encontrando com os sacerdotes no Templo, cumprindo a tradição. Ao chegar ao Templo, a família de Nazaré se encontra com outra família também pobre como aquela. Simeão e Ana representam os pobres que esperavam a libertação. Através deste encontro, Deus cumpre a promessa e responde à esperança deles. O cântico de Simeão relembra a vida e missão do Jesus – Messias: mesmo sendo “a Luz do mundo”, Ele será sinal de contradição, ou seja, julgamento para os ricos e poderosos, e libertação para os pobres e oprimidos, conforme Lucas assim o atesta: “Felizes de vocês, os pobres, porque o Reino de Deus lhes pertence. Felizes de vocês que agora têm fome, porque serão saciados. Felizes de vocês que agora choram, porque hão de rir”. (Lc 6, 20-21) A ação de Jesus faz nascer a esperança de uma sociedade nova: justa e fraterna, aberta para a novidade de Deus.
Alegria da família pobre de Nazaré por estar servindo ao Senhor. Tristeza por saber que o Menino será sinal de contradição, como o velho Simeão mesmo o alertara: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”. (Lc 2,34-35) Triste para a Mãe saber o que lhe reservava o futuro: a dor no coração da Mãe ao saber que a vida daquela criança estava selada no compromisso com Deus, mas a rejeição também seria grande e ameaçadora para ambos.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.