Fim de um mundo injusto e desumano

Reflexão litúrgica: quarta-feira, 29/11/23
34ª Semana do Tempo Comum

 Na Liturgia desta quarta-feira, 34ª Semana do Tempo Comum, vemos na 1a Leitura (Dn 5,1-6.13-14.16-17.23-28), uma sentença de condenação contra um rei idólatra, que ultrajou o Deus de Israel. Daniel aparece na narração como o sábio que compreende os segredos mais misteriosos, por um dom de Deus. O rei Baltazar cumula-o de agradecimentos, mas o vidente rejeita os efêmeros presentes de um homem condenado por Deus. Todo o texto ressalta a grandeza e unicidade do Senhor, Deus de Israel, no qual, e só nele, é lícito esperar.

Daniel não bajula o rei, mas pensa na justiça e no amor de seu Deus sempre presente na história. O triste destino de todos aqueles que se colocam contra Deus, profanam o templo, cometem sacrilégios e praticam idolatria, é devidamente assinalado: deverão ceder o seu lugar de prestígio e domínio e o mal há de levá-los à catástrofe final. O amor à verdade, demonstrado por Daniel à custa da perda do favor e proteção dos poderosos, é rico de atualidade. A verdade liberta, produz confiança, constrói a comunidade, simplifica e melhora as relações pessoais, ajuda a busca, ocasiona o encontro com os irmãos e com Deus.

No Evangelho (Lc 21,2-19), Jesus anuncia a destruição do Templo de Jerusalém, acontecida no ano setenta. O Templo era o símbolo da relação de Deus com o povo escolhido. O fim de uma instituição não significa o fim do mundo e nem o fim da relação entre Deus e os homens. As perseguições, traições e ameaças, relatadas neste texto, farão parte da vida de quem quiser ser discípulo de Jesus. Quando Lucas escreveu este texto, já haviam ocorrido coisas terríveis: guerras, revoluções, destruição do Templo e a grande perseguição aos cristãos. Para muitos, eram sinais do fim do mundo.

Hoje, diante da realidade sombria em que vivemos, muitos pretendem até marcar a data do fim catastrófico do cosmos. Mas não é o cosmos todo que deve ser destruído, mas esse mundo injusto e violento. “O mundo novo por todos desejado já começou com Jesus, mas sua manifestação será lenta e penosa. Sua aparição será semelhante a um parto, que envolve sacrifício e dor. Não devemos nos preocupar com ‘quando’ acontecerá a destruição ou o fim do universo, mas sim em ‘como’ superar a injustiça, a fome, a miséria, a violência que afligem homens e mulheres. Para mudar essa situação, é preciso muito empenho e perseverança, e somente quem perseverar ganhará a vida” (Pe. Nilo Luza, ssp).

Este discurso escatológico e apocalíptico de Jesus não pretende colocar medo nos ouvintes, mas alertar diante de nossas escolhas; pretende suscitar ânimo e resistência nas situações difíceis e adversas da vida. Sem Deus, tudo virá abaixo, os valores evangélicos devem permanecer constantes. Deus é maior que o estado de ânimo e os resultados do momento. Devemos sempre sonhar com um mundo melhor possível dando testemunho, pois, caso contrário, podemos assumir algumas atitudes perigosas: ilusão de ter o céu aqui na terra, ou nos omitir, não lutar, relaxar a vida de fé, dizendo que o mundo não tem mais jeito, todos são iguais, ninguém presta etc. “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida”. Não devemos temer a volta de Jesus, afinal, na Eucaristia e na Comunidade, Ele já está no meio de nós. A vinda do Senhor é, para o cristão, alegria, plenitude e libertação. “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre” (Hb 13, 8). Misericórdia sem limites. Se Ele é por nós, quem será contra nós. Nele somos mais que vencedores”.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.