Segunda feira da Décima Oitava Semana do Tempo Comum. Os primeiros sete dias do mês de agosto se consolidando. Nós daqui da Prelazia, num misto de tristeza e alegria, vamos realizando a Terceira Semana Pedro Casaldáliga. Tristeza por não tê-lo mais presente fisicamente com a sua mística e testemunho profético, mas alegres por saber que está nos braços do Pai, como nosso intercessor. Seguimos daqui tentando dar prosseguimento ao seu legado esperançando com suas palavras: “Contra toda esperança (produtivista, consumista, imediatista, passiva), esperamos”.
Num dia emblemático para a luta de todas as mulheres que valorizam o seu Ser Feminino e Feminista. Neste dia 7 de agosto, a “Lei Maria da Penha” está fazendo aniversário. Uma adolescente de 17 anos de sua vigência na sociedade brasileira. Esta Lei foi sancionada no dia 7 de agosto de 2006, como Lei n.º 11.340, visando proteger a mulher da violência doméstica e familiar. Ela ganhou este nome em função da luta da farmacêutica Maria da Penha, para ver seu agressor condenado. Lembrando que o Brasil foi o 18º país da América Latina a adotar uma legislação específica, para punir agressores de mulheres, cumprindo assim uma das determinações estabelecidas pela Organização dos Estados Americanos (OEA), intitulada “Convenção para punir, prevenir e erradicar a violência contra a mulher”.
Mulher que valoriza o seu Ser Mulher e se respeita, defende os seus direitos. Direitos estes que estão na essência do ser humano como obra e criação de Deus. Não respeitar estes direitos intrínsecos ao ser humano, é não respeitar o próprio Deus, uma vez que, somos todos e todas, imagem e semelhança d’Ele: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. (Gn 26,27). Devemos olhar para cada uma das pessoas vendo nelas a presença viva deste Deus que se faz presente no meio de nós, através do Filho Unigênito, que armou sua tenda e veio habitar definitivamente na história humana: “Deus armou a sua tenda entre nós” (Jo 1,14)
Deus que cuida de cada um/a de nós como a pupila de seus olhos. O coração materno de Deus que cuida dos seus filhos e filhas com açúcar e com afeto. Por isso rezamos sempre com o salmista que dizia: “Protege-me como à menina dos teus olhos; esconde-me à sombra das tuas asas”. (Sl 17,8) Cuidar, que é a especialidade de Jesus, não somente para com o seu discipulado, mas para com todos aqueles e aquelas que necessitam de cuidados. Tal atitude proativa é o que podemos observar no texto escolhido pela liturgia para esta segunda feira. Jesus cuidando de uma multidão faminta que acorre a Ele, ainda que os seus discípulos buscassem uma solução, eximindo-se de suas responsabilidades: “Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida!” (Mt 14,15).
“Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16) Resposta imediata de Jesus. Não á fugindo dos problemas e dos conflitos, que os resolveremos, mas buscando as alternativas presentes na própria caminhada. Um povo carente e abandonado pelos poderosos, inclusive pelas autoridades religiosas de seu tempo. Fome de pão e de cuidado. Jesus, fiel à missão de servir ao seu povo, transmite a seu discipulado o compromisso que todos deverão assumir diante daquela realidade: reunir e alimentar as multidões sofredoras, realizando os sinais de um novo modo de vida e de anúncio do Reino. A fome tem pressa e requer atitudes imediatas para que mais vidas não se percam, lembrando continuamente qual é a missão a que nós, cristãos, fomos chamados.
Ainda bem que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos propôs para este ano a Campanha da Fraternidade com o tema “Fraternidade e fome”, juntamente com o lema “Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16), incentivando nossas comunidades a assumir suas responsabilidades ante a situação da fome que persiste no Brasil, a exemplo do Mestre Jesus. Mesmo que muitos dos padres e bispos façam vistas grossas a esta Campanha, ignorando-a por completo, o texto da liturgia de hoje faz ressonância à esta realidade composta por uma multidão de 33 milhões de bocas famintas, envergonhando uma sociedade que se vangloria de exportar centenas de milhares de toneladas de grãos para o mundo, enquanto seu povo morre de fome pelas ruas desnudas de nossa realidade. Ou será que a nossa atitude é semelhante à dos discípulos de Jesus, querendo também nós eximir-nos desta responsabilidade?
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.