Sábado da segunda semana do tempo comum. O mês de janeiro caminhando já para o seu ocaso. Vamos nos moldado conforme as circunstancias da conjuntura que se nos apresenta de um Brasil sem perspectivas. As crianças prontas para serem vacinadas e os arautos da morte, insistindo em não prover as vacinas necessárias. Um país que é líder na arte de imunizar os seus, sendo submetido aos partidários negacionistas, contrariando a ciência que nos assegura que vacinas salvam vidas. Os adultos, só estamos vivos, graças a pelo menos treze dos imunizantes que adquirimos na infância. Como negar a eficácia dos imunizantes?
A gente até pensa em desanimar, frente ao cenário tão caótico que estamos vivendo. Tristeza que parece não ter fim. Quando pensamos que as coisas estão se encaminhando para um desfecho feliz, de repente, no despontar do horizonte, surge uma nova variante que nos faz recuar. Desta vez, aqueles que se recusaram a vacina, em nome da sua vil sabedoria e estupidez, são os que mais têm ocupado os leitos hospitalares. Sem falar no sistema de saúde, que muitos dos profissionais estão afastados por estarem infectados pelo vírus.
Só Deus mesmo, disse-me a dona Vicentina esta semana. É preciso revestir-nos de esperança de apostar que vamos sair desta crise sanitária fortalecidos. Mas antes, devemos fazer dela um grande aprendizado para toda vida: ou mudamos as nossas atitudes em relação ao meio em que vivemos, ou nos sucumbiremos todos, abraçados à nossa indiferença de destruidores de tudo que se encontra à nossa volta. A nossa Casa Comum pede socorro! É preciso encarar isto com muita responsabilidade ambiental. Neste sentido, vale aquilo que fora dito pelo filósofo e teólogo francês Albert Schweitzer (1875-1965): “Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da Criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante”.
Amar o semelhante como nos ensinou um certo Galileu. Conforme o texto do Evangelho de hoje (Mc 3,20-21). Jesus está em sua casa com os seus seguidores, escolhidos a dedo. Entretanto, o povão não o deixa ficar sossegado, pois era muito bom estar com Ele. Todos queriam ali estar! D’Ele vinham palavras de ânimo e esperançamento, ensinamentos para a vida, cura das doenças, e até o saciar da fome que corroía o estômago daquela gente. Fome de pão, de justiça, de dias melhores, de serem vistos como seres de direitos pela classe política e religiosa daquele tempo. A esperança se chamava Jesus, o Messias, rompendo as estruturas corrompidas pelo poder opressor daquelas autoridades.
Jesus está dentro da sua casa e os de fora chegam para dizer que Ele estava fora de si, possuído por um espírito mau. Estar nesta condição para aquele contexto sócio- religioso-cultural, era considerado um pecado terrível. Um pecado sem perdão. Quem estava fora, julgando quem estava dentro, sintonizado com o Projeto de Deus. O bem que é considerado um mal e o mal se achando no direito de julgar quem era do bem. Uma lógica perversa daqueles que não aceitavam que Jesus pudesse ser o Messias, cheio do Espírito Santo, enviado por Deus. Não reconhecem e não aceitam Jesus porque, estar fora de si é o estado daquele que vem com o ensejo de destruir as estruturas de morte perpetradas por aquelas autoridades.
Estar dentro ou estar fora é uma condição de quem adere ou não ao Projeto de Deus revelado em Jesus. A adesão a este projeto só pode acontecer após um sim consciente e a partir de um processo de conversão, pela qual cada um de nós deveremos passar. Não basta dizer que está dentro e ter uma fé pela metade ou de palavras vazias e desconexas sem qualquer tipo de compromisso com o Reino de Deus. Alguns que se acham dentro, são como aqueles que acusaram Jesus de estar fora de si. Ser e estar dentro com Jesus incomoda, desinstala e provoca mudanças significativas na vida daqueles que abraçam as mesmas causas de Jesus. Jesus tanto amou os pequenos que se tornou um fora da lei e agora, considerado também um “fora de si mesmo”. Estar dentro com Ele é ter a força que d’Ele emana e chega à todos que com Ele estão. Como bem disse o Papa Francisco: “A força do reino de Cristo é o amor: por isto a realeza de Jesus não nos oprime, mas nos liberta das nossas fraquezas e misérias, encorajando-nos a percorrer os caminhos do bem, da reconciliação e do perdão”.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.