Quinta feira da sétima semana da páscoa. Uma quinta feira diferenciada. Gratidão a Deus pelo dom da vida! Estou dando gloria a Deus por estar vivo. Confesso que houve dias ao longo deste último ano que não tive a certeza de que chegaria até aqui. Tudo por causa do estado emocional. Houve momentos, que senti todos os sintomas possíveis e imagináveis em meu corpo. Mas Deus permitiu que eu aqui chegasse, possibilitando ainda a manutenção de meus rabiscos diários, adentrando o lar das pessoas. Deus é bom demais! Um Pai amoroso e cheio de misericórdia para com os seus. Posso testemunhar isto com a minha própria vida.
Esta história de vida começou há alguns anos atrás. Era uma segunda feira. Dia do pedagogo. Assim que o dia trouxe seus primeiros clarões, lá estava um ser franzino, dando sinal de vida por meio de um forte vagido. Com o auxílio das mãos da dona Maria parteira, mais uma criança, veio ao mundo no seio da família dos Machados. A terceira de uma prole de 13 filhos, sendo 10 mulheres e 3 homens. Mal sabia a minha mãe, que o “terror” de sua vida, estava nascendo ali naquele momento. “Francisquinho” deu-lhe muito trabalho. O que tinha de franzino, sobrava nas peraltices. Uma mão certeira na arte de direcionar a pedrada; Uma canhotinha que fazia estrago nos telhados da vizinhança. Motivo para muitas peias da dona Arlinda, que não poupava nos galhos de fedegoso, sempre disponíveis no quintal. Se não faltava a correção, também não faltava o carinho de sempre, de uma mãe que sabia acariciar como ninguém. Cresci trazendo um mim o estigma de uma criança levada.
Francisco que não tinha nada a ver com o outro de Assis. Somente mais tarde é que fui apresentado a este último. Apaixonei pelo seu estilo de vida e até tentei trazê-lo para dentro de mim, adotando- o como modelo e projeto de vida. Nem sempre consegui, muito embora, através das leituras que ia fazendo percebi que ele sempre esteve presente no meu estilo de viver e ver o mundo a partir da ótica da simplicidade do Evangelho. Quis entrar para a ordem franciscana, mas tudo conspirou diferente, e eu acabei chegando aos Redentoristas da Província de São Paulo, mesmo sem nada saber acerca de Santo Afonso Maria de Ligório.
O dia 20 de maio é dedicado ao Pedagogo. Por falar em pedagogo, um deles vai mudar a minha vida por completo. Quando li “Pedagogia do Oprimido” pela primeira vez, minha cabeça começou a ser “feita”. Passei muitos anos dormindo e acordando com este livro. Percebi que não era mais o mesmo. Foi através de Paulo Freire que cheguei à Teologia da Libertação. Ai sim, vi que o meu itinerário, estava sendo conduzido rapidamente à Jesus de Nazaré, quando então me dei conta de que o meu ser no mundo tinha que ser diferenciado. Todavia, quando encontrei Pedro e a sua forma de viver a radicalidade evangélica, acabei por fazer a minha síntese , elaborando o meu projeto de vida no sacerdócio: como aquele que está aqui para servir às causas de Jesus. Pedro contribuiu enormemente para que eu tivesse muito clara esta minha opção. Foi então que abracei a causa indígena que move a minha vida até os dias de hoje.
Trago dentro de mim uma grande frustração, pela qual já chorei demais. No dia 03 de dezembro de 1989, queria muito que a minha mãezinha estivesse ali presente na minha ordenação sacerdotal. Ela já havia partido para junto do Pai. Todavia, se ela não se fez presente fisicamente ali, naquele momento, durante todos os demais momentos que se sucederam na minha vida, ela sempre esteve presente, sobretudo naqueles em que os desafios pareciam ser maiores que eu mesmo. Ela sempre me ajudou a encontrar forças, para continuar lutando. Neste sentido, uma das frases ditas pelo filosofo e educador Mário Sérgio Cortella, faz-me sempre lembrar de minha mãe, presente em minha história de vida: “A tragédia não é quando um homem morre. A tragédia é o que morre dentro de um homem quando ele está vivo”. Minha mãe não morreu dentro de mim. Ela está sempre viva. Chico Machado tem muito de Arlinda Machado. Um legado que levarei sempre comigo, até o dia de nos reencontrarmos na páscoa d’Ele conosco. Alegrem-se todos e todas comigo neste meu dia especial, que celebro a minha vida, como dom maior de Deus.