“Homens de dura cerviz, incircuncisos de ouvido e coração, vós sempre resistis ao Espírito Santo!” (at 7,51)

Reflexão litúrgica: Terça-feira, 26/12/2023
Festa de Santo Estêvão, Diácono, protomártir

 Na Liturgia desta terça-feira a Igreja celebra a festa de Santo Estêvão, Diácono, protomártir. Estêvão é o primeiro dos mártires de cristo, e um dos sete Diáconos que os Apóstolos escolheram para o serviço da comunidade. Estêvão não limitou seu diaconato aos serviços caritativos; assumiu responsabilidades no plano da pregação e evangelização. Além de primeiro diácono e apologista, Estêvão foi também o primeiro mártir da Igreja. O relato da paixão de Estêvão é moldado por Lucas sobre o da Paixão de Cristo. Como o Mestre, também Estêvão morreu perdoando a seus algozes. Saulo, testemunha do apedrejamento, dele acolherá uma herança espiritual, tornando-se apóstolos das nações.

A ação do Espírito Santo, como Mestre e Hóspede do coração, encontra, no blasfemo, uma resistência interior. Em seu discurso ao Sinédrio de Jerusalém, o protomártir Estêvão, cheio do Espírito Santo, formula a grave acusação: “Homens de dura cerviz, incircuncisos de ouvido e coração, vós sempre resistis ao Espírito Santo!” (At 7,51). Esta atitude causa uma espécie de impermeabilidade da consciência, aquilo que a Sagrada Escritura também chama “dureza de coração” e que, em nossos dias, se manifesta como perda ou eclipse do sentido do pecado.

Na 1a Leitura (At 6,8-10;7,54-59), vemos que Santo Estêvão personifica o ideal do mártir cristão, e confirma a promessa de Jesus para os seus discípulos. Lucas apresenta Estêvão como modelo para os cristãos, que devem escolher o caminho da liberdade corajosa e da fidelidade ao Espírito; a liberdade não se intimida nem mesmo diante da repressão violenta. Note-se que as acusações contra Estêvão foram as mesmas dirigidas contra Jesus: subversão da Lei e dos costumes e audácia de criticar as instituições e as estruturas consideradas sagradas (Templo). Desse modo, desde Jesus, e passando por Estêvão, abre-se uma cadeia de solidariedade que atinge os perseguidos de todos os tempos.

A morte de Estêvão, o primeiro mártir, relembra a morte de Jesus, pois o discípulo não está acima do Mestre. Através da morte de suas testemunhas, Jesus continua exercendo o julgamento como Filho do Homem.

No Evangelho (Mt 10,17-22), vemos que os discípulos terão o mesmo destino de Jesus: sofrer as consequências da missão que liberta e dá vida nova. Essa missão atingirá os interesses de muitos e, por isso, provocará a perseguição, a divisão e o ódio, até mesmo dentro das famílias. Muitas vezes poderá levar para a condenação nos tribunais. A missão, porém, é dirigida pelo Espírito de Deus. Por isso, os discípulos perseveram até o fim, sem temor nem aflição, seguros da plena manifestação de Jesus, Senhor e Juiz da história.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

 


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.