O Brasil tem hoje um quadro assustador de pessoas que estão nas UTIs. Algumas destas pessoas estão vivendo seus últimos momentos entre nós. Uma experiência que ninguém gostaria de passar. Doente, sem medicamentos que resolvam, e ainda afastados dos familiares e das pessoas que mais ama. Tendo por perto, somente os profissionais de saúde. Que tristeza, meu Deus! No momento de maior fragilidade, na hora que mais precisamos de alguém por perto, acabamos desolados.
O velório das pessoas, vítimas da covid-19 é qualquer coisa de desumano, surreal. Nem sequer o caixão pode ser aberto, para que os familiares possam ver, pela última vez a pessoa que está partindo. Partindo sem se despedir. Sem dizer adeus! Todos à distância, observando a cerimônia fria, sem nada poder fazer. Um padre amigo meu, confessou-me que, tem sido a cerimônia mais difícil que tem feito no seu ministério. Com razão. Também, sem poder aproximar-se das pessoas e acalentar os seus corações. Que doença terrível!
Tristeza também tem sido a vida de muitas famílias, sobretudo nas grandes cidades, que estão passando por necessidades extremas. Sem o seu trabalho informal, sem ter renda, portanto, os filhos estão sem o que comer. São vendedores de água mineral, balas e biscoitos nos semáforos. É o camelô que tem o seu ponto de venda, sem poder exercer seu trabalho, por causa do distanciamento social. A estimativa é que seja uma população aproximada de 38 milhões de um exército de empobrecidos, que estão nesta situação difícil. Todos já sabíamos destes dados, mas precisou de uma pandemia para que o “responsável” pela economia ficasse sabendo que este número é real e faz tempo. Para quem é um economicida, pouco importa.
Visando atender situações como estas, com muito custo, foi criada a verba emergencial. Alguns até receberam, mesmo quem não deveria, mas a grande maioria ainda não viu a cor do dinheiro. Muitos entraves burocráticos, para fazer acontecer aquilo que era para ser emergencial. Quanto não ajudaria àquela pobre família, se os R$ 600,00 chegassem a tempo, para satisfazer ao menos a fome dos filhos. Tivéssemos lideranças políticas sérias, à frente dos governos, não poderia acontecer, isto que está acontecendo com as famílias mais carentes, pois uma pandemia é como numa guerra e, em situação de guerra, as vidas dos inocentes precisam ser preservadas.
Portanto, temos que encarar este atual momento como uma guerra. E em uma economia de guerra, quem tem que tomar as rédeas do enfrentamento é o próprio governo. O protagonismo das iniciativas de reposta à pandemia tem que partir do governo. Numa destas estratégias, exige um aumento considerável dos gastos sendo a sua maior centralização das diretrizes econômicas evidentemente, no poder público. Não dá para lavar as mãos e deixar que os pobres da periferia se virem por lá e dêem o seu jeito. Esta é uma atitude irresponsável de quem quer que esteja no comando de um país.
É de cortar o coração ao ver a cena da criança, perguntando para a sua mãe: “mamãe, vai ter comida pra gente comer hoje aqui na nossa casa?” Inimaginável saber o que passa no coração desta pobre mãe, vendo o filho passando fome e ela ali, sem nada poder fazer. De saber que cenas como estas estão acontecendo aos milhares por este Brasil afora. E nós, dentro das nossas casas, tendo de tudo que nos possa fazer feliz, e mesmo assim reclamamos, por não poder sair e fazer o que se quer. Passei várias noites meditando nas palavras daquela outra mãe, que pediu para o profissional de saúde gravar um vídeo em seu celular e o mostrasse depois ao seu filho, pois ela queria que ele soubesse o quanto o amava, e o que mais queria, era dar-lhe um abraço, antes de partir. Partiu sem dar o abraço desejado.
Ao passarmos por esta pandemia, um horizonte novo descortinará à nossa frente. Alguns o estão chamando de “nova normalidade”. Não quero chamar de normalidade. Chamo de “horizonte novo”, em que teremos a possibilidade de escrever outra história. Revestidos do novo, tratemos de fazer novas todas as coisas. Das mais simples as mais complexas. Vida nova, coração novo. Coração e mente voltados para o novo, que se abre em perspectiva. Neste sentido, vale à pena seguir o conselho de Jesus: “Eis que faço novas todas as coisas. Elas se realizaram. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Para quem tiver sede, eu darei de graça da fonte de água viva. O vencedor receberá esta herança: eu serei o Deus dele, e ele será meu filho.” (Ap 21, 5-7) Experimentemos este horizonte novo.