Domingo de Ramos (28). Celebração da Festa da entrada triunfal de Jesus em Jerusalem, acompanhado de sua turma, a ralé (geograficamente) das quebradas da periferia. Para alguns estudiosos bíblicos, uma manifestação tipicamente revolucionária, própria do movimento “zelota”. Os zelotas constituíam um grupo que via na possibilidade da luta armada, uma forma de confrontar o poderio romano e por isso, esperavam um Messias guerreiro. Entre os seguidores de Jesus havia alguns que participavam deste grupo. Tanto que Simão, um dos 12 discípulos, era conhecido como “o zelota”.
Jesus é a esperança dos pequenos! Nele estavam depositados todos os anseios de libertação dos pobres. Assim, Ele é aclamado, enaltecido pelos pobres com aquilo que eles possuíam: ramos. Um povo explorado que viam na pessoa de Jesus um defensor que os libertariam da situação em que viviam. Neste sentido, Jesus incorpora em si o “Servo sofredor”, que na liturgia de hoje nos é apresentado pelo terceiro «cântico do Servo de Javé» (Is 50,4-7) Jesus é a esperança messiânica dos pobres, já que não estavam inclusos nos projetos políticos, econômicos e religiosos dos donos do poder.
Jesus aqui é aclamado o rei dos pobres. Não um rei qualquer que fosse dominar a partir do sinédrio, ou das estruturas já montadas do Templo de Jerusalem. A missão do “Servo sofredor” é encarnar a realidade humana dos pequenos, para com eles, construírem uma nova realidade, encorajando os fracos e abatidos para que acreditassem nesta nova possibilidade de que Deus veio até eles na pessoa de Jesus de Nazaré. Desta forma, Jesus afronta as forças do poder constituído, cumprindo o mandato do Pai e não recua diante das dificuldades e ataques de seus adversários. Deus está com Ele que está com os pequenos!
Jesus, cheio de teimosia e resistência rompe com as estruturas de segregação dos pobres, nos diria nosso bispo Pedro. Com a sua teimosia e fidelidade às “coisas do Pai”, Ele traz Deus para dentro da história humana. Como Filho obediente ao Pai, foi até as últimas consequências “esvaziando-se de si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens”. (Fl 2,7). Jesus como modelo de humildade, tornando-se apenas um homem que obedece a Deus e serve aos homens. De tão humano que se colocou na história da humanidade que só poderia ser mesmo alguém divino, pleno de luz!
Na cerimônia simples, mas ao mesmo tempo complexa do Domingo de Ramos, vemos acontecer aquilo que a teologia chama de “kenosis”. Palavra que vem do grego kenoo que quer significar principalmente “esvaziar” ou “tornar vazio”. Ou seja, através da Encarnação do Verbo na realidade humana, vemos um esvaziamento total da pessoa do Filho, assumindo a condição humana para nos dizer que as “coisas de Deus” não nos vêm pelas proezas dos grandes e poderosos, mas inaugura a hora e a vez dos pequenos, adentrando a história da humanidade.
Deste domingo até o domingo de Páscoa, vamos trilhar uma caminhada, perpassando todo o processo escatológico sonhado por Deus para a humanidade. Não se trata de um mero “palavrão”, mas uma palavra que sintetiza em si todo o sonho de Deus. A palavra escatologia se desdobra em dois termos gregos eschatos e logos, traduzindo no ápice da revelação divina entre nós. Através dos estudos da escatologia bíblica, nós vamos perceber que aquilo que estava escrito antes nas profecias: estão se cumprindo e haverão de serem cumpridas, pois Deus é fiel sempre naquilo que propõem aos seus.
Entrando em Jerusalem, Jesus dá o primeiro passo rumo à consumação de sua messianidade. Um messianismo que traz consigo o protagonismo dos pobres de Javé. Um descendente real da mesma linhagem de Davi. Um Messias que assume em si os peregrinos pobres de Javé. Uma missão que começa, sendo aclamado rei dos vulneráveis, confrontando os poderosos e que vai culminar na cruz. “E morte de cruz”, como nos fala Paulo em Filipenses hoje. Cruz que não significa o fim em si mesma, mas a cruz redentora, como processo para se chegar a Glória da Vitória maior da vida sobre a morte. Assim, se antes víamos o Jesus Histórico circulando pelas cercanias da periferia da “Galileia dos pagãos”, agora vemos o Jesus pós-pascal, o Cristo triunfante: “De fato, esse homem era mesmo Filho de Deus!” (Mc 15,39) Jesus, o Cristo! Esta foi também a conclusão a que chegaram os seus discípulos e discípulas d’Ele, ainda que tardiamente.