Humildade como dom

Mais uma sexta feira. A primeira do mês. 26ª semana do tempo comum. Setembro venceu o seu prazo e nos deixou em outubro. Se, para a Igreja Católica, o mês anterior era o da Bíblia, outubro é o mês missionário por excelência. Não que os demais não sejam, mas este é dedicado à nossa vocação primeira: ser seguidores e seguidoras das pegadas de Jesus de Nazaré, cumprindo a nossa missão de batizados que somos. Abraçar as mesmas causas d’Ele, na procura do Reino, incessantemente. No dizer do Papa Francisco: “Deixar-se a si mesmo, sair da comodidade e rigidez do próprio eu para centrar a nossa vida em Jesus de Nazaré”.

Como se trata do mês missionário, hoje celebramos a memória da padroeira das missões, Santa Teresinha do Menino Jesus, ou simplesmente Teresa de Lisieux. Teresa nasceu no ano de 1873, em Alençon (França). Faleceu ainda muito jovem, aos 24 anos de idade, no ano de 1897. Tempo suficiente para se fazer uma serva na sua simplicidade evangélica, vivendo de forma singular na humildade confiante nos planos de Deus para ela. Foi canonizada pelo Papa Pio XI em 1925 e posteriormente proclamada padroeira das missões. Coube também ao Papa João Paulo II, proclamá-la Doutora da Igreja. Viveu na radicalidade evangélica, fazendo ressoar em sua vida, uma de suas frases célebres: “Não é bastante amar, é preciso prová-lo!”

Radicalidade que também fez nosso bispo Pedro viver intensamente no seguimento do Mestre de Nazaré. De forma muito humilde, fez de seu projeto de vida uma entrega confiante à Deus, sem nada temer. Sua forma frugal de viver, chamava a atenção de todos os que o conheciam e também aqueles que não chegaram a conviver de perto consigo. Sua humildade não era uma estética evangélica, como gostavam de criticá-lo os inimigos dos pobres. Morou sempre na mesma casinha simples, de paredes sem reboco e de cimento rústico sobre o chão. Ali, a simplicidade era vista em todos os pequenos detalhes.

Um homem simples, acostumado às pequenas coisas da vida. Pobre ao extremo. Além de ser o grande defensor dos Direitos Humanos, era também o bispo dos pobres. Admirador dos escritos de Santa Terezinha, viveu franciscanamente pobre entre os pobres. Encarnou em si a opção pelos pobres, definida evangelicamente na Conferência Episcopal de Medellín (1968), a quem se referia como o “nosso grande Pentecostes”. Nunca gostou da palavra “preferencial”. Para ele ou a igreja é dos pobres, com os pobres e para os pobres ou não é a verdadeira igreja de Jesus de Nazaré. Esta sua humildade e simplicidade no viver, era expressa também em todos os seus escritos, gestos, pensamento e atitudes. Não se permitia titubear quanto a essa sua vivência evangélica, ao lado dos pequenos.

Pedro não era dom. Tinha o dom em si. Viveu profeticamente, anunciando o Reino e denunciando as mazelas pelas quais passavam os pequenos desta região de Mato Grosso e da América Latina. Nos mostrou o caminho de como a igreja pode e deve ser. Uma igreja martirial, comprometida na luta e construção de uma nova sociedade, onde os pobres fossem os protagonistas e destinatários da missão libertadora. Uma igreja dos pobres, em que a sua mística e espiritualidade se voltavam para a libertação integral das pessoas. Na verdade, esta igreja começava a existir dentro da sua própria casa e expandia para mais além, abrangendo todas as comunidades que se transformavam em sementeiras do esperançar na utopia do Reino. Pessoas comprometidas com as causas de Pedro, que eram também as causas do Reino de Deus, nos fazendo privilegiados por fazer parte desta história e dedicar uma parte de nossas vidas pelas mesmas causas de daquele profeta da esperança.

Pedro é um dom para nós. O dom que não era dom. Sua humildade era tamanha que abriu mão dos títulos honoríficos eclesiásticos, para se fazer apenas Pedro. Deixou de lado toda a indumentária típica dos bispos: nada de mitra; nada de báculo; nada de anel de ouro. Levou a sério também o dito de Jesus: “Não leveis sacola para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado”. (Mt 10,10) Entendia ele que o seguidor, a seguidora de Jesus tinha que estar aberta à possibilidade de ter o mesmo destino que o seu Mestre: sofrer as consequências da missão que liberta e dá vida nova. Que neste mês missionário, a exemplo de Santa Terezinha e do profeta da utopia do Reino, estejamos atentos às ameaças que recaem sobre os pobres de Javé, fazendo de cada um de nós, missionários e missionárias do Reino de Deus. Sendo humildes o suficiente para admitir os nossos erros, inteligentes para aprender com eles e maduros para saber corrigi-los.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.