Como se não bastasse o forte calor, estamos convivendo estes dias com as constantes quedas de energia. Só no dia de ontem, contei 18 vezes de um ir e vir de energia. Mas a conta este mês veio salgada. Aumentou em 100% o valor da tarifa. Os equipamentos eletrônicos estão pedindo arrego. Meu computador, que não é tão jovem assim, resolveu não querer mais trabalhar. Decidiu pela aposentadoria. O jeito foi apelar para o celular, com o seu teimoso corretor, que nos deixa em apuros, de vez em quando.
Hoje senti vontade de falar dobre algo complexo e que confunde muitas pessoas. Esta vontade me adveio depois de ler uma pequena frase atribuída a José Pepe Mujica, que assim se manifesta: “Eu não sou pobre, eu sou sóbrio, de bagagem leve. Vivo com apenas o suficiente para que as coisas não roubem minha liberdade.” Quero discorrer sobre o que vem a ser humildade e subserviência.
Recorrendo ao dicionário, podemos ver que a palavra humildade quer dizer simplicidade, qualidade de quem é simples, modesto, humilde. Ou seja, a pessoa humilde tem clareza de suas dificuldades e limitações, e se reconhece assim. Já a subserviência, diz respeito ao ato de servir de maneira voluntária. É uma das características de quem se dispõe a atender as vontades de outrem. Ou ainda, a qualidade ou estado de pessoa que cumpre regras ou ordens de modo humilhante.
Ser humilde não significa ser subserviente, é bom que fique claro. Muitos até traduzem assim o ato de ser humilde. Entretanto, não significa a mesma coisa. Enquanto a humildade engrandece a pessoa, a subserviência a entristece e apequena. Geralmente a subserviência se dá na medida em que a pessoa humana não está sendo reconhecida e respeitada na sua dignidade. Portanto, é na relação que vamos apequenando as pessoas e as fazendo ser subservientes, na medida em que a humilhamos e diminuímos. Desta forma, devemos procurar sempre a humildade e nunca a subserviência.
Um dos aspectos interessantes da filosofia é o principio do “sei que nada sei”. Na verdade, trata-se do ponto de partida para a Filosofia, uma vez que aquele que se reconhece como “ignorante”, torna-se mais sábio, por querer adquirir novos conhecimentos. Num gesto de humildade, o filósofo Sócrates, ao proferir esta frase “Só sei que nada sei”, ele quer reconhecer a sua própria ignorância e a necessidade de saber sempre mais. Este é o propósito do ser humano que nunca deve perder a capacidade de aprender sempre.
O tempo todo que Jesus passou com os seus na Palestina, ele fez este enfoque sobre a humildade. Ele próprio se fez humilde nas mãos de Deus para que assim se cumprisse o que Deus desejava enviando-o a nós. Isso lhe adveio do próprio berço onde nasceu, através do exemplo de sua mãe: “Porque olhou para a humildade de sua serva.” (Lc 1, 48) Ou seja, o Projeto de Deus passa necessariamente pela vida dos pequenos, daqueles que se fazem humildes para recebê-lo. Este é o imperativo para aqueles que quiserem fazer o seguimento de Jesus de Nazaré. O contrario disto é a arrogância e a prepotência.
Ser humilde significa reconhecer-se pequeno diante da grandeza do Deus da vida. Neste sentido, muito aprendi, na convivência com o bispo Pedro, que se fazia humilde, mas jamais submisso e subserviente. Ao contrario, sendo a humildade, em pessoa, levantava a sua voz forte, toda vez que um dos pequenos estava sendo humilhado pelos grandes na sua arrogância. Humilde sim. Submisso a prepotência dos poderosos, jamais! Eis a grande diferença. Na sua humildade se fez grande defensor dos pequenos, crucificados e humilhados pelos poderosos de nossa história.
Finalmente, concluo este reflexão com o evangelho proposto na liturgia do dia de hoje (10), quando uma mulher do meio do povo exalta Jesus dizendo: ”Feliz o ventre que te carregou, e os seios que te amamentaram.” (Lc 11, 27) Ao que Jesus lhe responde de imediato: “Mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática.” (Lc 11, 28) Ou seja, felizes são aqueles que se revestem de humildade, sabendo se pequenos, se fazem grandes ao tomar contato com a palavra e a traz para as suas vidas no cotidiano.