Sábado da Oitava da Páscoa. O mês de abril já atravessa o limiar da primeira quinzena. Estamos às vésperas do Domingo da Misericórdia. A essência da misericórdia está em Deus que na Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de seu Filho Jesus, podemos experimentar toda a bondade e compaixão do Pai para conosco. Um dia a mais para começá-lo agradecendo pelo Dom da vida que temos. Não agradecer o sopro de Deus gerando vida em nós é a maior ingratidão que trazemos em nós. A vida é o dom maior que Deus nos concedeu. Estar vivo para dar continuidade às obras de misericórdia d’Ele é tudo que o cristão pode almejar.
O meu dia, mais uma vez, começou muito cedo. Como a chuva deu uma trégua, meu quintal amanheceu em festa naturalmente. Festa ecumênica dos seres da criação de Deus. Cada qual agradecendo e louvando o Criador no seu dialeto próprio. O micro se fazendo macro-ecumenismo. Aproveitei para integrar-me nesta Casa Comum, interligando o meu ser orante também em contemplação. Na interligação dos “Franciscos” invoquei o de Assis: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe Terra.” Tudo no intuito de alavancar o processo de construção do “oikos”, que no grego quer dizer casa, morada, ambiente comum.
“A terra não é nossa. Nós é que pertencemos a ela”. Sabedoria ancestral indígena que mostra a nossa integração com a Mãe Terra. Se dela provêm o sustento necessário de que necessitamos para a nossa subsistência e sobrevivência, somos os seus maiores depredadores. Uma relação autêntica de profunda ingratidão e desrespeito para com a nossa Mãe. Tem razão os indígenas nos chamarem de “doidos” ao dizerem: “vocês vendem a Mãe de vocês”. Tratamos a nossa Mãe como um bem de capital e não como a progenitora da qual fomos criados: “porque tu és pó e ao pó da terra retornarás!” (Ecle 12,7)
“Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16,15) Este é o indicativo de Jesus aos seus medrosos e tímidos seguidores. Discípulos enviados como apóstolos para anunciar a Boa Nova do Reino: “Evangelho”. Palavra de origem grega que significa “Boa-nova”. Na verdade trata-se de uma combinação da palavra evangelho, vista no latim tardio como “evangelium”, sobre o grego “euangélion”, ambas para designar uma boa notícia na concepção dos textos sagrados,
Evangelizar é o ato de divulgar e levar adiante a mensagem do Ressuscitado. Se bem que esta concepção da palavra Evangelho não começou com Jesus. O evangelista Marcos, por exemplo, entende que o Evangelho começou com a proclamação de João Batista, cujo nascimento foi uma boa notícia: “Começo da Boa Notícia de Jesus, o Messias, o Filho de Deus. Está escrito no livro do profeta Isaías: Eis que eu envio o meu mensageiro na tua frente, para preparar o teu caminho. Esta é a voz daquele que grita no deserto: Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas!” (Mc 1,1-3) A pregação de João é Evangelho. É anúncio da Boa Nova. O nascimento do próprio Salvador é anunciado como “boa notícia”, trazendo grande alegria (Lc 2,10-11)
Ide! É Jesus mesmo que se coloca no meio dos seus e os envia em missão. Isto fica muito claro neste Evangelho de Marcos que refletimos no dia de hoje (Mc 16,9-15). Aliás, este evangelista, dá o ponta-pé inicial, demonstrando com os seus escritos que está apenas no começo de muito que virá: “Começo da Boa Notícia de Jesus, o Messias, o Filho de Deus”. (Mc 1,1) ao aceitarmos caminhar com Jesus, somos também enviados na mesma missão de dar continuidade às obras de d’Ele, reconhecendo-o como o Messias que leva à plenitude de vida, aceitando seu convite, indo ao encontro do Ressuscitado. Como afirmou o Papa Francisco: “No Crucificado, vemos Deus humilhado, o Onipotente reduzido a um descartado. E, com a graça do assombro, compreendemos que, acolhendo quem é descartado, aproximando-nos de quem é humilhado pela vida, amamos Jesus, porque Ele está nos últimos, nos rejeitados”.
“Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16,15) Mais do que um convite, trata-se de uma proposta arrojada e revolucionária de vida. Aceitar ou não, cabe a cada um dar a sua resposta. Esta resposta pressupõe sermos com e como Jesus, dando continuidade no tempo presente à atividade concreta d’Ele, através de uma prática que faça renascer continuamente a esperança da vinda do Reino. Anunciar a Jesus, o Messias Salvador, o Cristo Ressuscitado e não a nós mesmos como é comum de se ver em alguns templos de agora: padres, bispos e até leigos, mais preocupados com as suas vestimentas de um “Eu inflado”, do que propriamente com a prédica e prática de Jesus. Ide e não tenhais medo! Ele é e se faz conosco.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.