Ide e deis fruto!

Quinta feira da Terceira Semana do Tempo Comum. O Tempo é Comum, mas é dia de festa: Conversão de São Paulo, Apóstolo. Celebramos hoje a memória de um homem singular para a História do cristianismo. Sua conversão foi o ponto de partida para a expansão do cristianismo para além dos muros de Roma. De Saulo, perseguidor contumaz dos cristãos, passa a ser Paulo, o defensor das mesmas causas de Jesus. O nome hebreu dado por seus pais a ele era Saulo, mas, como seu pai era um cidadão romano, ele herdou a cidadania romana. Todavia, ele também tinha o nome latino Paulo, conforme os Atos dos Apóstolos: “Fomos açoitados em público sem nenhum processo, e fomos lançados na prisão sem levar em conta que somos cidadãos romanos…” (At 16,37)

Paulo de Tarso nasceu judeu, da raça de Israel, da tribo de Benjamim. Um hebreu parente dos hebreus, em observância da lei dos fariseus. Como ele nasceu em um ambiente de predominância do farisaísmo rígido, Saulo era o nome mais adequado para aquele contexto. Contudo, depois de sua conversão, Saulo decidiu mudar seu nome para anunciar o Evangelho aos gentios, assumindo seu nome romano (latino), tornando-se conhecido como Paulo, que era também um nome conhecido entre os gentios. Esta foi uma das estratégias adotadas pelo apóstolo, a fim de aproximar-se das pessoas e lhes transmitir o Evangelho numa linguagem e estilo nos quais elas poderiam entender.

Embora não sendo um dos primeiros a serem chamados por Jesus, para fazer parte de seu discipulado, ele assumiu plenamente o convite/envio, feito por Jesus, e que Marcos nos proporciona refletir no dia de hoje: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16,15). Aqui, quem está falando aos onze discípulos, não é mais o Jesus Histórico, mas o Jesus da fé, o Cristo pós-pascal, que a Cristologia nos ajuda a entender melhor com a sua exegese. Evidentemente, que o clima naquele contexto era ainda de dor, decepção medo e angústia, por parte dos discipulos, que haviam “perdido” o seu Mestre. Assim, Jesus os encorajam e os enviam em missão, para dar continuidade ao mesmo mandato d’Ele.

O meu amanhecer deste dia de hoje foi às margens do Araguaia. Embora com o tempo propenso à chuva, desafiei São Pedro, e fui contemplar o “mestre dos rios”, que em tupi, quer dizer “araras vermelhas“, buscando n’ele um pouco mais de alento para o meu coração entristecido. Ele acompanha a minha dor. Depois de ter passado ontem pelo ortopedista, e ter constado, pela Ressonância Magnética, o rompimento de todos os tendões do meu ombro esquerdo. Vou ter que passar por cirurgia. Por aqui não temos recursos para realizar tal procedimento, que é ofertado pelo SUS apenas na capital. O problema maior é a fila quilométrica, tendo que esperar por mais de ano. Enquanto isso, vou aqui aprendendo a convivendo com a dor. Por favor, rezem por este matuto que vos escreve!

Rezei buscando inspiração/determinação, e a mesma coragem de Paulo. Conforme o relato dos Evangelhos, Judas Iscariotes já não fazia mais parte do grupo, uma vez que havia traído as causas de Jesus, atentando contra a própria vida. Um elemento importante a ser observado é que a partir deste instante, os discípulos se transformam em apóstolos de Jesus. Foram chamados, instruídos e preparados para serem os continuadores da missão d’Ele. É a este grupo que Paulo vai se juntar, como também um apóstolo do Senhor, embora não tenha feito parte da primeira comunidade constituída por Jesus com o seu discipulado.

“Ide!”, diz Jesus aos seus. “Ide!”, diz Jesus a todos e todas que aceitam caminhar com Ele na mesma direção. Um trabalho árduo, difícil e desafiador, pois não estamos aqui para “imitar” Jesus, como alguns, a meu ver, erroneamente dizem. A tarefa que cabe aos/as que são chamados/as, é realizar nos dias de hoje a missão de fazer a mesma coisa que Jesus faria, em estando Ele no lugar de cada um de nós. Ter as mesmas atitudes d’Ele! Ter os mesmos sentimentos d’Ele!. Ter a mesma fé d’Ele, assumindo o compromisso de transformação da realidade injusta, desigual, desonesta e exploradora dos mais pobres. Ide e deis fruto! Que o nosso “ir” seja como o do apóstolo Paulo: “Com os fracos, tornei-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a qualquer custo. Tudo isso eu o faço por causa do Evangelho, para me tornar participante dele”. (1Cor 19,22-23) Que os “Paulos” de hoje nos ilumine em nossa caminhada!

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.