Terceiro domingo da páscoa. O mês de abril seguindo em frente. Já estamos vivendo a segundo quinzena dele. Nada de novo “sob o sol de Parador”, a não ser as pessoas se infectando, algumas não resistindo e o desastroso enfrentamento da pandemia por parte do governo brasileiro. Se é que pode se chamar de governo isto que aí está.
Abril vermelho para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e também para os Povos Originários. Não de comemorações, mas de luta. É a verdadeira conversão do luto em luta. Luto é luta! Como nos dizia nosso bispo Pedro: “O luto se transforma em luta, pois temos em quem nos espelhar: o Crucificado que é o Ressuscitado vivo entre nós. A Testemunha Fiel é um conosco”. Assim, sonhamos o sonho de Deus, vivendo uma fé martirial, sendo também testemunhas fiéis de Jesus, o Cristo.
Viver a fé martirial e, ao mesmo tempo ser um indigenista, é viver permanentemente em risco de morte, num cenário completamente adverso, seja no plano Federal, Estadual e também municipal. O que se faz lá em cima, repercute aqui nas bases. A provocação está presente na ordem do dia. Já até nos acostumamos com elas. Perdi a conta de quantas vezes fui provocado gratuitamente, só pelo fato de trazer em mim o “estigma” da Prelazia de São Felix do Araguaia, e ser um militante da causa indígena. Teimosamente, aprendi com Pedro que “a causa indígena é a causa de todos nós”.
“O cenário político indigenista vivido no Brasil é de retrocesso, com o agravamento das violações de direitos humanos dos povos indígenas”. Esta foi uma das falas do presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho, Rondônia, nesta última sexta-feira (16), por ocasião do encerramento da 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Uma fala corajosa, assim como foi também a mensagem dos bispos à população brasileira. Não bastasse o estrago da pandemia, ainda temos que conviver com este desastre em relação aos direitos constitucionais (Art. 231, 232) dos Povos indígenas.
Somos teimosos e resistentes. Aprendemos com Pedro. Um bispo que seguia em frente, acreditando nas suas convicções e sendo fiel às coisas de Jesus de Nazaré. Foi com ele também que aprendemos: “militar para mim é apenas um verbo”. Seguimos assim, então conjugando este verbo no tempo presente de nossa história. Militando e fazendo a história acontecer pelas nossas próprias mãos, antes que outros o façam, mas com uma diferença, do jeito deles.
“Não temais os que matam o corpo. Não temais os que armam ciladas. Não temais os que vos caluniam. Nem aqueles que portam espadas. Não temais os que tudo deturpam pra não ver a justiça vencer. Tende medo somente do medo. De quem mente pra sobreviver”. Nunca que está canção do padre Zezinho, esteve tão presente no ideário de nossas ações cotidianas. Procuramos seguir a letra desta canção, sempre acreditando que Ele vai à frente conosco, mostrando-nos o caminho por onde devemos seguir, nas trilhas da história, como agentes intransigentes na defesa dos direitos dos Povos Originários.
Estamos em sintonia com a caminhada da Igreja, chefiada pelo Papa Francisco, sob as coordenadas da CNBB. Somos uma Igreja que mostra a sua cara na defesa dos povos indígenas, acampados, assentados, quilombolas, ribeirinhos, posseiros, diferentemente daquela outra, que se escuda atrás de uma sacramentalidade vazia, pregando um Jesus que nunca existiu. O Jesus próprio das conveniências e dos interesses dos mais abastados, que seguem apontando as armas e apoiando uma política necrófila e genocida.
“Se a Igreja renegar os pobres, deixa de ser de Jesus; torna-se elite moral ou intelectual”, esta foi mais uma das frases ditas pelo nosso papa, dia 15 de abril. Ele não perde a oportunidade de colocar a Igreja na mesma rota de Jesus de Nazaré. Uma Igreja sintonizada com os mesmos anseios de Jesus, que são também os anseios do sonho de Deus para nós: o Reino de Justiça. Mas para isso precisamos fazer nossas as mesmas palavras que Pedro tanto insistia conosco nos seus últimos anos de vida fisicamente entre nós: “Fé, Esperança, Teimosia/Resistência e Utopia”. Fé no Deus da vida que Ressuscitou Jesus; esperança de que o Ressuscitado vive entre nós; teimosia pára continuar lutando as causas de Jesus; utopia do Reino que precisamos construir aqui e agora, unindo as nossas forças. O luto é luta e militar é verbo!. Simples assim.