Começo a minha escrita do dia de hoje falando sobre este povo guerreiro. O Povo A’uwé Uptabi (Xavante) de Marãiwatsédé, não aceitou que o Exército brasileiro entrasse em suas aldeias para realizar ações de saúde. Fizeram uma reunião no domingo (02), de todas as lideranças do território, elaboraram um documento e repassaram ao comandante do Exercito dizendo que não queriam a presença deles por lá. Segundo eles, num dos piores momentos da pandemia, eles não estavam presentes e que agora, temiam que levassem ainda mais o vírus para dentro de suas aldeias. Também afirmaram que não aceitariam fazer o tratamento da doença com o uso da Cloroquina. É o povo Xavante sendo Xavante. Eles não mandam recado. Dizem o que pensam sem pestanejar.
Também não poderia deixar de falar do nosso guerreiro, o bispo Pedro, que está internado desde quarta feira (29), num dos hospitais daqui de São Félix do Araguaia, com complicações respiratórias. Fez o teste para a covid-19 e deu negativo. Entretanto, apresenta uma pequena mancha em um dos pulmões. Embora Seu estado de saúde seja estável, estão noticiando nas redes digitais que o nosso bom velhinho já fez a sua Páscoa definitiva. Os claretianos, que é a mesma congregação de Pedro, estão querendo levá-lo para Batatais, para ser cuidado lá. Tudo indica que será removido, por UTI aérea ainda hoje.
Enquanto aqui vou escrevendo, repercuto a notícia que causou grande impacto entre nós. Numa de suas proezas, o presidente Jair Bolsonaro vetou o projeto de lei que dava preferência as mães solteiras para receber o auxílio emergencial de R$ 1.200. Na realidade, este é um dos projetos do Psol, que estendia também a pais solteiros a possibilidade de recebimento de duas cotas da ajuda de R$ 600. Como entender o raciocínio deste que está no cargo máximo da nossa Republica? A questão é vetar, seja o que for.
Alias, este termo “mãe solteira” é por demais ingrato. O Papa Francisco até se manifestou tempos atrás a respeito desta terminologia. Dizia ele, “Não existe mãe solteira, mãe não é estado civil.” São mulheres guerreiras que criam os seus filhos com muita luta, visto que foram abandonadas pelos seus parceiros. Nós homens abandonamos os filhos, mas a mulher jamais. Como a nossa sociedade é predominantemente machista e sexista, a mulher é vista como um ser vil e desprezível. Já perceberam que só existe a prostituta e nunca acham o prostituto que se prostituiu com ela?
O papa Francisco, ainda falando sobre a “mãe solteira”, foi muito feliz nas palavras em que relata a situação da mulher perante esta nossa sociedade mesquinha: “É a mulher que empresta toda a sua força, abrigando o filho em seu corpo, é sobre ela que os olhares acusatórios se voltam, é contra ela que se atiram as censuras, é sobre ela que os comentários maldosos versam. É como se coubesse somente à mulher os cuidados e responsabilidades para que a gravidez indesejada fosse evitada, como se o homem se isentasse naturalmente de qualquer participação na concepção, afinal, não é a barriga dele que cresce. Quanta injustiça.”
Na nossa Igreja, as mulheres seguem no dia a dia lutando por maiores espaços de reconhecimento e atuação. Frente a uma Igreja extremamente patriarcal e clerical, elas são maioria, muito embora sem quase nenhum poder de decisão. A grande teóloga brasileira Ivone Gebara, uma das mais importantes representantes da teologia feminista no mundo tem uma previsão nada otimista quanto à participação da mulher na Igreja. Diz ela que “A Igreja irá perder as mulheres que pensam”. Uma pena, pois sem estas mulheres pensantes, a igreja voltaria à mesmice.
Sonho com uma Igreja menos clerical e patriarcal, onde as mulheres, que são a sua grande maioria das participantes, sejam reconhecidas como protagonistas de uma nova evangelização. Uma Igreja que não tenha apenas o seu rosto feminino, mas que seja em todo o seu jeito de ser Igreja. Uma Igreja mais samaritana, que saiba acolher com compaixão. Que seja mais mariana, e que traga em si a presença de Marta, de Maria Madalena, de Dulce dos pobres, de Ivone Gebara, Nancy Cardoso e tantas outras mulheres anônimas, missionárias seguidoras do RESSUSCITADO, como testemunhas fieis.