Irmandade na Trindade

Domingo da Solenidade da Santíssima Trindade: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Se no domingo passado celebramos a Festa de Pentecostes, ou seja, a vinda do Espírito Santo sobre nós, neste domingo, celebramos a Solenidade da Santíssima Trindade, ou seja, a Trindade Santa que agora habita em cada um dos nossos corações. Um mistério que nos faz entender que desde o princípio está a comunhão dos Três e não a solidão do Uno. Como nos descreve o teólogo Leonardo Boff: “Com o três dizemos que em Deus há distinções internas. Se não houvesse distinções, reinaria a solidão do um. A palavra Trindade (número três) está no lugar de amor, comunhão e inter-retro-relações. Trindade significa exatamente isso: distinções em Deus que permitem a troca e a mútua entrega entre as divinas Pessoas”.

Um domingo especial na nossa caminhada de fé. Depois de estarmos grávidos da presença divina de Deus em nossas vidas em Pentecostes, somos agora agraciados com a Divindade da Santíssima Trindade. A melhor comunidade. Um mistério revelado através do amor que transcende destas Três Pessoas e vem morar dentro de cada um de nós na pessoa do Filho se fazendo um de nós em nossa realidade histórica. Deus que ama tanto, gratuita e incondicionalmente, que nos faz revelar o seu Filho Unigênito como um dos nossos, permitindo que possamos adentrar a realidade Divina. O Divino se fazendo natureza humana para que possamos divinizar o nosso existir no Ser Supremo que é Deus.

Deus é amor! Esta é a grande realidade que podemos conhecer em toda a sua profundidade. Mesmo que não entendamos mais a fundo o Mistério da Santíssima Trindade (Uno e Trino), podemos ficar felizes de saber que o nosso Deus é pleno de amor por nós. Amou-nos tanto que, não apenas nos criou, a sua imagem e semelhança, mas nos deu o dom maior da vida do Filho para caminhar conosco pelas estradas da vida. O amor que é pura essência em nosso Deus vem fazer a nossa experiência de amorosidade na pessoa do Filho, nos chamado a ser também amorosidade em pessoa.

A liturgia deste domingo nos presenteia com uma das páginas mais belas de todo o Novo Testamento. São apenas três versículos extraídos do Evangelho escrito por São João (Jo 3,16-18). O início deste texto já nos diz tudo e funciona como uma canção de acalanto: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3, 16) Ou seja, Deus não nos criou e jogou-nos num mundo a revelia, para vivermos a mercê da própria sorte. Ele é o Deus que ama e cuida da sua criatura, para que esta possa viver com toda a sua plenitude. Um Deus de amorosidade plena e nos faz plenos deste amor.

Vivenciar a experiência deste amor de Deus requer que façamos a opção de caminhar com o seu Filho, fazendo a nossa adesão firme e consciente ao seu projeto de amor. Seguir a Jesus é experimentar as chamas deste amor em nosso coração, para que as nossas ações estejam direcionadas na procura do Reino. É no aqui e agora da história que vamos vivenciando a presença deste amor de Deus que Jesus veio nos trazer, fortalecendo as nossas ações. Viver o presente sem dar muita ênfase na eternidade como se esta fosse um prêmio aos bons, já que a eternidade, na compreensão de Deus começa na vida que temos aqui, vivendo intensamente cada momento. As alegrias do “Bem Viver” no aqui e agora, que se estende para além da morte, já que esta não tem a palavra final, como ficou demonstrado claramente na Ressurreição do Filho descendo-o da cruz do martírio.

“Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”. (Jo 3,17) Esta é a compreensão que precisamos ter para melhor experimentar a presença viva e amorosa de Deus em nossas vidas. Não faz parte do sonho de Deus que sejamos julgados e condenados. Deus não quer que nos percamos. Muito menos sente prazer em condenar-nos. Ele manifesta toda a sua amorosidade através de Jesus, para salvar e dar a vida a todas as pessoas. A presença de Jesus no meio de nós incomodou por demais os poderosos, provocando divisão e conflito, e exigindo decisão. Aos que acreditamos na proposta de Jesus cabe-nos viver este amor, continuando a palavra e a ação d’Ele em favor da vida plena para todos e todas. Experimentar o amor de Deus como irmandade na Trindade fazendo nossas as palavras de L. Boff: “Para quem tem a “experiência de Deus, o mundo é uma grande mensagem”.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.