Estamos iniciando mais uma semana. Uma segunda-feira (09) preguiçosa prenuncia uma semana decisiva. Reta final das eleições municipais. Oportunidade para os candidatos darem a sua cartada final. Tempos eleitorais no Brasil é momento de um verdadeiro derrame de dinheiro. Compra-se de tudo, da falsa consciência ao voto. E olha que estamos vivendo uma profunda crise econômica, mas o dinheiro para as campanhas eleitorais não falta. Que tristeza conviver com este cenário maluco.
No dia de hoje, há 31 anos (1989), um acontecimento histórico, iria marcar a comunidade europeia, com a queda do Muro de Berlim. Este acontecimento foi um dos primeiros sinais que proporia o fim da Guerra Fria, culminando num processo político, provocando a reunificação “das Alemanhas”, em 1990.
Neste final de semana também, aconteceu no Santuário de Aparecida a 19ª Romaria das Comunidades Negras, promovida pela Pastoral Afro-Brasileira da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O tema escolhido para este ano foi “O clamor do povo Negro, com a Mãe Aparecida, na luta por dignidade”. Acompanhado do lema “A dignidade acontece na luta por direitos”. Sem dúvida que este é um lema muito adequado para refletir os direitos do Povo Negro, a começar da mulher negra que entrou com a imagem da Mãe Negra, que sequer ficou ali no altar, espaço predominantemente ocupado por homens apenas.
Um deslize que passou despercebido por muitos dos que viram a cena. Mesmo a Pastoral Afro-Brasileira, vinculada à CNBB, precisa estar atenta a este deslize, não permitindo que a presença feminina, acontecesse no espaço celebrativo do altar. Não haveria problema algum, se aquela mulher permanecesse ali, ao contrario do que ocorreu em que ela, desceu e foi ficar no meio do povo. Só voltando ao final para reconduzir novamente a imagem. Triste saber que, mesmo uma pastoral com um pensamento crítico como esta, não concebeu ainda a ideia de socialização do altar com as mulheres.
A fala do padre Jurandyr Azevedo Araújo, coordenador nacional da Pastoral Afro-brasileira, é até significativa quando afirma que, “a Romaria é um momento de celebração da história de cruz, de morte, de perseguição, de discriminações…” Uma fala contraditória com a ação que se deu naquele momento celebrativo, em que a mulher foi discriminada, sendo excluída de participar mais diretamente ali no meio de padres e bispos.
Nestas horas me recordo do nosso bispo Pedro. Ele fazia questão que as mulheres estivessem no centro da pastoral da prelazia, de forma muito direta e decisiva. Nas nossas celebrações por, por exemplo, o altar era, invariavelmente, socializado com a presença marcante feminina. Eram elas que, muitas vezes, proclamavam o evangelho, algo inconcebível na cabeça de muitos padres por aí afora. Nossa igreja tinha um perfil feminino e também feminista. Uma igreja em que a mulher não tinha um papel secundário, mas estava à frente como protagonista de uma pastoral com o DNA feminino.
Quanto a liturgia do dia de hoje (Jo 2,13-22), vemos novamente Jesus as voltas com o Templo. ELE tinha uma atitude diferenciada, quando se tratava da sua relação com o Templo. Se para os judeus, o Templo era o lugar privilegiado de encontro com Deus, para Jesus esta era uma instituição religiosa falida, caduca. Na sua concepção, o verdadeiro Templo é o seu próprio Corpo, que Morre, mas que Ressuscita. Uma visão diferente, uma vez que para ELE, Deus não quer habitar em espaços físicos edificados, mas na própria pessoa humana.
O Templo havia se transformado num espaço de exploração, uma vez que as ofertas e sacrifícios que eram trazidos pelos frequentadores, formava um verdadeiro tesouro, administrado pelas lideranças religiosas daquela época: sacerdotes, escribas e doutores da lei. Um lugar aparentemente sagrado, havia se transformado em comércio e centro do poder político, econômico e religioso da época. Desta forma, numa atitude de extrema coragem, Jesus, alem de expulsar os comerciantes, faz uma denúncia contundente da opressão e da exploração dos pobres, pelas tais autoridades religiosas, inclusive predizendo a ruína desta instituição.
A relação de Jesus com o Templo não era das melhores. Quase sempre havia o enfrentamento d’ELE como as lideranças religiosas. Desta forma, Jesus não procurava o Templo para fazer ali as suas orações. ELE as fazia em lugares afastados, numa clara demonstração de que o Templo não é o mais importante para a prática da oração. O importante mesmo é reservar alguns momentos das nossas vidas, para estar a sós com Deus e ali estabelecer um dialogo franco e sincero com o nosso Deus. O evangelista Mateus tem até uma dica legal quando nos diz: “Quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu Pai ocultamente; e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.” (Mt 6, 6)