Jesus e sua autoridade

Terça-feira (12) da primeira semana do tempo comum. Passadas as festas, por ocasião do Natal, liturgicamente, entramos no ano B e temos pela frente a narrativa bíblica da comunidade de Marcos. Hoje, ela nos coloca diante de Jesus que vai, num dia de sábado, até a Sinagoga de Cafarnaum e ali, “ensina com autoridade”. (Mc 1, 21). Na compreensão do evangelista, ensinar com autoridade consiste numa prática concreta de libertação. Ou seja, com sua ação, Jesus interpreta as Escrituras de modo diferente e superior a toda a cultura das lideranças religiosas, escribas, chefe dos sacerdotes e doutores da Lei.

Ficamos imaginando a cena, vendo Jesus ali diante daquelas autoridades, ensinando-as de como deveriam se comportar e comprometer-se diante da Torá. Um simples morador de Nazaré, ensinando como “gente grande”. “Não é este o filho do carpinteiro? O nome de sua mãe não é Maria, e o de seus irmãos: Tiago, José, Simão e Judas?” (Mt 13, 55) Colocam em cheque a origem da autoridade d’ELE, admirados de seu ensinamento e poderes de libertação. Não admitem que, sendo um deles, tenha a autoridade de Deus. É por esta razão que eles o rejeitam. E não se trata de uma rejeição acidental, mas fica claro que Jesus é o enviado de Deus.

Autoridade que fez o Papa Francisco tomar uma decisão muito importante, entre tantas outras que tem feito ao longo de seu pontificado. O Papa, muda o Código de Direito Canônico, tornando institucional o que já acontece na prática: o acesso das mulheres leigas ao serviço da Palavra e do altar. A partir de agora, os ministérios do Leitorado e Acolitado está aberto às mulheres de forma estável e institucionalizada. Desta forma, é institucionalizada a presença feminina no altar, já que na pratica cotidiana, isto já vem ocorrendo. Aqui na Prelazia de São Félix do Araguaia, esta vivência já vem acontecendo há anos. Francisco é o cara!

É a mulher sendo reconhecida com a sua presença e participação efetiva na caminhada de nossa igreja. Elas sempre estiveram presentes e são em números absolutos nas comunidades. Ai de nossas comunidades não fossem elas! Entretanto, falta-lhes o poder de decisão e o protagonismo feminino como direcionamento dos encaminhamentos. Mesmo sendo elas uma imensa maioria, quem toma as decisões são os padres, bispos, religiosos. O próximo passo agora é possibilitar que possam ser Diaconisas, Presbíteras, e até Epíscopas, porque não? Tenho plena certeza que se a igreja, com a participação decisiva das mulheres, será uma igreja muito mais samaritana, acolhedora, fraterna e cheia de compaixão, dado o coração feminino que é imensamente grande.

Sonhamos e desejamos uma igreja feminina e feminista. Uma igreja com o rosto de mulher. Uma Igreja com o rosto de Maria, de Madalena. Felizmente estou numa igreja que as mulheres sempre foram protagonistas do processo de evangelização e condução da pastoral. Neste sentido, Pedro soube muito bem fazer questão de que elas fossem, não somente seres de segunda categoria, como comumente vemos nas comunidades católicas espalhadas por este Brasil afora. Conheço padres que não permitem, por exemplo, que as mulheres subam ao púlpito de suas igrejas, pois ainda sustentam a concepção de que as mulheres são seres impuros, pelo fato de sangrarem a cada mês. Triste, mas foi assim que um destes padres justificou a sua decisão de não tê-las próximas ao altar.

Com sua autoridade de Filho de Deus enviado, Jesus quebra todos os protocolos e paradigmas próprios de seu tempo em relação à mulher. Nunca é demais lembrar que as mulheres do tempo de Jesus eram desvalorizadas, tratadas quase sempre como mercadorias de troca pelos pais e criadas unicamente para conseguir um casamento e cuidar das tarefas domésticas. Jesus quebra vários preconceitos: conversa com elas em público, o que era mal visto na época; principalmente sendo ela uma mulher samaritana e ele um judeu, o que tornava o diálogo ainda mais incomum, pois judeus e samaritanos tinham sérias divergências; Jesus discute com uma mulher assuntos religiosos, coisa que era reservada somente aos homens na sinagoga. Ele não só trás a mulher para o centro, mas lhe confere poderes que até então eram direcionados aos homens. Não é atoa que ELE faz de uma mulher, Maria Madalena, a primeira testemunha da Ressurreição.