Jesus em situação de rua

 

O mês missionário segue o seu curso. Depois das festividades de nossa padroeira, vida que segue. Muitas expressões de carinho para com a Mãe de Deus. Nosso povo é devoto da Mãe Aparecida. A mãe Negra de Aparecida é nossa protetora e nos acompanha com o coração de Mãe. O coração de mãe não nega afeto.

Nunca me esqueço da “aula” de “Mariologia” a mim dada pelo padre Victor Coelho de Almeida. Era eu um jovem noviço, e fui designado para acompanhá-lo num dos hospitais da região de Garça/SP, onde fora internado, após um mal súbito. Varamos a noite conversando, e ele versando sobre Nossa Senhora. Ali percebi o quanto a sua devoção o fazia ser um dos mais fervorosos defensores dela. Ali também conheci um pouco mais da história desta Negra Mãe.

Mas nem tudo é alegria. Escrevo hoje comovido com a mortandade de peixes no Araguaia. Muitos peixes mortos. E nós já estamos na piracema. Segundo os mais entendidos, estas mortes estão acontecendo, por causa da fuligem das queimadas, trazida pelas chuvas e também pelo excesso de lixo que recai sobre o rio. Inadmissível que ainda existam pessoas que jogam lixo num rio tão belo como o Araguaia. Dai fui me lembrar de uma conversa com o cacique Damião que me disse certa vez: “Vocês jogam cocô na água que depois vocês vão beber.”

A notícia boa fica por conta de uma ligação telefônica, feita pelo papa. Esse Papa Francisco é mesmo do balacobaco! Não é que ele ligou no sábado (10), para o padre Júlio Lancellotti? Parabenizando-o pelos 36 anos atuando e convivendo com as pessoas em situação de rua. O pontífice aproveitou para animar o sacerdote, para que não desistisse em estabelecer proximidade com a população de rua. Também disse para que façamos como Jesus, estando junto aos mais pobres. Que Papa é esse? Júlio ficou todo entusiasmado. Também, quem não ficaria?

Jesus também foi um menino em situação de rua. Pra começo de conversa, nem lugar para nascer ele teve direito, porque não havia lugar para eles nas hospedarias. (Lc 2, 7) Esta foi a realidade, que aquele casal pobre teve o seu recém nascido. E Jesus sobrevive de teimoso, pois aos dois anos de idade, Maria e José fogem para o Egito com a sua família para salvar o filho da ira de Herodes, que queria matá-lo. Sem teto, sem regalias e ainda tiveram que fugir da tirania de um sanguinário governante. Esta é a sina do Filho de Deus, e que o Papa Francisco não se esqueceu de dizer ao padre Julio para que continuasse o seu trabalho, pois este era também o trabalho que Jesus fez e faria de novo.

Mas muitos de nós, não vemos Jesus nestas condições do Filho de Deus, que não tinha nem onde reclinar sua cabeça (Mt 8, 20). Nem sequer enxergamos os pobres que vivem em situação de rua como filhos de Deus. Os ignoramos e ainda dizemos que são sujos, mal cheirosos, e que torna a cidade feia com a sua presença. Os vemos como lixo e não como seres humanos. Esquecemos-nos completamente, que Jesus também passou pela mesma situação. Ele foi também pobre e sem lugar para viver. Mas nós nãos nos importamos com isso e, frequentemente, buscamos um Jesus triunfalista fora da realidade. Um Messias individualista, que esteja sempre pronto a resolver os meus problemas. Um Jesus desconexo da realidade daqueles que passam necessidades.

Esse mesmo Jesus que viveu na periferia é o mesmo que se solidariza com a causa dos pequenos. É o mesmo Jesus que caminha com as pessoas em situação de rua, sendo um com elas. É o mesmo Jesus que enxerga a vida sofrida deste povo e o faz com que seja resistente e viva também de teimosos que são. O papa fez questão e apoiar o trabalho do padre Julio, não só pelas seguidas ameaças que o sacerdote vem sofrendo, mas também porque este é o tipo de trabalho que Jesus pede a todos os que o desejam segui-lo. Estar ao lado daqueles que sofrem e são vulneráveis. Diante de tal situação, lembramos de uma das falas ditas da boca de Jesus: “Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram.” (Mt 25, 30)