João, o Batista

Sábado da Décima Primeira Semana do Tempo. No último sábado do mês de junho deste ano, a Igreja Católica celebra a Solenidade da Natividade de João Batista. Este é o único Santo que durante o Ano Litúrgico é celebrado tanto no seu nascimento como na sua morte (martírio), respectivamente nos dias 24 de junho e 29 de agosto. João é primo de Jesus, nascido do casal Isabel e Zacarias. Ambos idosos e ela estéril, descendentes de famílias sacerdotais. O nascimento de João Batista acontece cerca de seis meses antes da vinda do Messias, conforme a narrativa lucana, que relata para nós o episódio da Visitação de Maria a Isabel.

O nome João Batista quer significar “aquele que batiza com a graça de Deus”. Na verdade, é um nome composto por dois nomes de origens diferentes: João e Batista. A palavra João vem do hebraico “Iohanan”, a partir da junção de “Yah”, significando “Javé”, “Deus” e “hannah”, que quer dizer “graça”. A conexão destas duas terminologias significa então “Deus é cheio de graça” ou “aquele que é agraciado por Deus”. João Batista também quer dizer: “aquele que batiza com a graça de Deus”. Foi ele que batizou Jesus as margens do Rio Jordão: “Jesus foi da Galileia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João, e ser batizado por ele”. (Mt 3,13) A teofania, isto é, a manifestação divina, no batismo do Jordão revela a João a personalidade divina de Jesus (Jo 1, 29). O batismo de Jesus é o apogeu do ministério de João. Então ele desaparece. Daquele momento em diante, muitos discípulos de João passam a seguir Jesus.

João nasceu a partir da graça (“milagre”) de Deus, já que sua mãe, além de idosa, era também estéril. Nasceu em Aim Karim, cidade de Israel que está localizada a 6 quilômetros do centro de Jerusalém. João Batista foi consagrado a Deus desde o ventre materno. Era chamado de precursor, ou seja, aquele que veio à frente de Jesus, preparando os seus caminhos como está descrito no Evangelho de Marcos: “Eis que eu envio o meu mensageiro na tua frente, para preparar o teu caminho. Esta é a voz daquele que grita no deserto: Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas!” (Mc 1,2-3) uma citação que já estava presente nos escritos do profeta Isaías. Toda a fala de João Batista vem no sentido de uma grande advertência. Ele anuncia a vinda do Messias, que vai provocar uma grande transformação. Para tanto, é necessário estar preparado, purificando-se e mudando o modo de ver a vida e de vivê-la.

João é o profeta que faz a transição do Antigo para o Novo Testamento. Todas as promessas que Deus havia feito no passado começam a acontecer a partir da anunciação do Messias feita por João Batista. A missão do precursor talvez tenha começado pelo fim do ano 27 d.C., conforme Mateus: “João usava roupa feita de pelos de camelo, e cinto de couro na cintura; comia gafanhotos e mel silvestre. Os moradores de Jerusalém, de toda a Judéia, e de todos os lugares em volta do rio Jordão, iam ao encontro de João. Confessavam os próprios pecados, e João os batizava no rio Jordão”. (Mt 3,4-6)

A mensagem trazida pelo Batista serve-nos até hoje, pois é ainda um convite a uma mudança radical de vida (metanoia – conversão), exigindo conversão e pureza interior, uma vez que já se aproximava o Reino, que iria transformar radicalmente todas as relações entre as pessoas. Uma advertência severa, pois começa o tempo do julgamento, e de nada adianta ter uma fé de teoria, já que o julgamento se baseará nas opções feitas, nas atitudes concretas que cada um deve assumir para a sua vida. João, com a sua mensagem, bate de frente com os fariseus hipócritas, com o jeito de eles viverem e manipular a vida e a fé das pessoas mais simples, humildes e pobres; a falsa segurança de suas observâncias religiosas. Teve também problemas sérios com os saduceus, com suas intrigas políticas, como forma de conservar o poder e a exploração do povo. João combate todas estas estruturas que vão ser superadas pelo Reino de Deus trazido por Jesus.

O texto que a liturgia de hoje nos traz (Lc 1,57-66.80) é considerado uma “Midrash”, que nada mais é que uma forma narrativa desenvolvida através da tradição oral advinda do Talmud. Desta forma, o “Midrash” é, assim, uma coletânea das histórias bíblicas que estão presentes nos textos sagrados que escondem entre suas linhas, mas que podem ser encontradas por aqueles que estudam ou sabem escutar a sabedoria milenar herdada de nossos antepassados. Todavia, o que mais nos importa é saber que em Jesus se manifesta a força que nos liberta dos inimigos e do medo, formando um povo santo e justo diante de Deus. Com João Batista estamos diante da manifestação da luz que ilumina a nossa condição humana, abrindo um horizonte novo, uma nova história, que nos encaminham para a Paz, isto é para a plenitude da vida.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.