Levantar e servir

Quarta feira da Primeira Semana do Tempo Comum. Mais um dia se inicia no itinerário de nossas vidas. Mais uma vez somos chamados a reagir aos desafios que nos são postos. Não há como ser indiferentes diante deles. Viver é tomar atitudes, e estas devem estar em sintonia com os nossos valores e princípios que norteiam o nosso ser neste mundo. Ser indiferentes não combina com o ser cristão, que segue na mesma toada de Jesus de Nazaré.

Viver um dia de cada vez é a proposta para aqueles que fazem da sua vivência na fé, um instrumento de transformação. Viver dando de nós mesmos, o melhor que podemos ser. Importa que saibamos que não precisamos comparar-nos com quem quer que seja, mas com o melhor de nós mesmos, dado em serviço. Encerrar o dia com a certeza de que superamos o dia anterior na atitude de entrega total. Na gratuidade e na amorosidade de nossas relações, sejamos elos de construção do “Bem Viver”.

Chamados a servir. O serviço está na essência do ser cristão. Jesus, ao se encarnar na nossa realidade humana, não veio para desfrutar dos privilégios e benevolências de ser Ele o Filho único de Deus. Ao contrário, os Evangelhos nos dizem muito claramente: “o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir, e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos.” (Mt 20,28). Se Ele veio para servir, significa que todos aqueles e aquelas que o seguem, devem trilhar os mesmos caminhos. Servir sempre na procura do Reino.

Rezei nesta manhã buscando em meu histórico de vida as vezes que me acomodei e deixei de lado as atitudes de entrega e serviço, buscando os privilégios da acomodação da vida fácil. Certamente que alguns de nós se perderam neste caminho, deixando-se seduzir pelos encantos da indiferença ao caído a beira da estrada. Também a Madre Teresa de Calcutá passou por experiência semelhante. Conta-se que estava ela a caminho do aeroporto e, no meio do caminho, viu alguém caído necessitando de cuidados. Perdeu o vôo que a levaria à Roma, para uma audiência com o Papa João Paulo II, pois ficou ali cuidando de quem mais necessitava.

Jesus é aquele que serve. Veio para servir. Mesmo os seus seguidores mais próximos ficaram incomodados com esta sua atitude, pois queriam que Jesus desfrutasse mais de sua fama e popularidade diante dos feitos realizados. Outos buscavam privilégios e honrarias pelo fato de terem sido chamados por Ele. Entretanto, Jesus lhes mostra que a única coisa importante para o seu discipulado é seguir o exemplo dele: servir e não ser servido. Quem ama, serve. Quem serve, dá mostras de que muito ama.

Na nova sociedade projetada por Jesus, a autoridade não é exercício de poder, mas a qualificação para serviço que se exprime na entrega de si mesmo para o bem comum de todos, todas. É o que o texto do Evangelho de hoje acaba concluindo para nós, quando Jesus realiza a cura da sogra de Pedro: “Ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los”. (Mc 1, 31) Somos servidores do Reino. O ser servidor está na espinha dorsal do cristianismo. Os seguidores de Jesus estão programados para servir. O nosso Deus é o Senhor do serviço que se dá na gratuidade de quem muito ama. Amar é servir. Ser é servir. Servir é ser de Deus na amorosidade que somente Ele sabe ser.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.