Segunda feira da quinta semana da quaresma. 34º dia de nossa caminhada quaresmal. Já estamos quase lá! Caminhando em direção à luz da Ressurreição que brilhará na pessoa do Filho, o Cristo Ressuscitado. Como a quaresma é este tempo propício para uma revisão e retomada, como a um “retiro”, para refletir sobre a nossa caminhada cristã neste mundo, e assim possamos fazer a adesão com maior convicção, ao mesmo caminho trilhado por Jesus. Ele é a luz do mundo. N’Ele e com Ele, somos luzeiros a brilhar em nossa caminhada de fé pelas estradas da vida. Somos testemunhas da luz: “Quem me segue não andará nas trevas, mas possuirá a luz da vida”. (Jo 8,12)
Iniciamos a semana de forma muito triste. Meu coração literário está de luto. No dia de ontem, perdemos uma de nossas maiores escritoras. A paulistana Lygia Fagundes Telles (1923-2022) faleceu ontem (03), aos 98 anos de morte natural em sua casa. Um dos nossos maiores ícones, a “Dama da Literatura”, como era carinhosamente chamada, Fez a sua páscoa, deixando o nosso mundo literário mais empobrecido. A Academia Brasileira de Letras (ABL), perdeu também um de seus membros. Lygia marcou a nossa geração de leitores, com, a sua arte em escrever, com uma característica peculiar: envolvia não somente a nossa mente, mas principalmente o nosso coração, entremeado ao texto.
Num mundo marcado pelas trevas e pela cegueira daqueles avessos a leitura e ao conhecimento, propagando a mentira, o ódio e a ignorância, a sabedoria de escritoras como Lygia Fagundes Telles fará muita falta. O mundo literário está em trevas periodicamente. Ainda bem que para a liturgia de hoje, Jesus está auto-afirmando como a Luz do mundo. Todavia, mais uma vez, encontrando resistência por parte das autoridades judaicas (escribas e fariseus), que o vêem como mais do que suspeito: “O teu testemunho não vale, porque estás dando testemunho de ti mesmo”. (Jo 8,13) Aqueles acostumados a viverem na escuridão de suas próprias ignorâncias e estupidez, não toleram a luz da verdade. Deus é luz! Assim como o Pai, o Filho também se faz luz: “Deus é luz e nele não há trevas”. (1Jo 1,5)
No “Mito da Caverna” o filosofo ateniense Platão, nos apresenta uma alegoria filosófica que nos ajuda a entender a realidade das trevas em contraposição a lucidez da luz que abre as mentes para enxergar o mundo real. Uma boa explicação sobre o senso comum do mundo sensível, em que muitas pessoas acreditam baseadas em seus sentidos de um lado, e o mundo inteligível, baseado na razão. Para Platão, a escuridão representa a ignorância, enquanto a luz é o conhecimento. Desta forma, uma vez que a pessoa que viveu anos na escuridão e conhece a luz, ela pode escolher voltar ao que era antes ou mudar seus conceitos, construindo outro horizonte possível para o seu existir: Voltar às trevas ou abraçar a luz. Luz e trevas convivendo como forma de escolhas.
Jesus está no templo, ensinando e dando testemunho de si mesmo como a Luz que veio a este mundo. Ele discute com os fariseus num lugar estratégico, perto da sala do Tesouro, onde era guardado o dinheiro oferecido ao Templo. Ao se declarar a luz do mundo, Ele convida a todos e todas, a segui-lo, renunciando às riquezas deste mundo para servirem uns aos outros e, assim, testemunharem a presença de Deus. Evidentemente que os fariseus ficam irados com a postura de Jesus, pois eles eram escravos do dinheiro e jamais seriam capazes de reconhecer Deus presente na pessoa de Jesus, e por isso querem a todo custo matá-lo.
“Sei de onde venho e para onde vou”. (Jo 8,14) Jesus é senhor de si mesmo. Tinha plena consciência de sua origem, procedência e destinação de sua missão. O Filho interligado com o Pai. “Eu e o Pai somos um”. (João 10,30) Ao assim afirmar, Ele não está anulando a sua identidade nem a de Deus. Cada um é cada um. Como seguidores d’Ele temos que fazer o discernimento como parte integrante de seu discipulado. De onde venho? Para onde vou? Que parte deste processo cabe a mim realizar nesta minha missão terrena de ser e estar com Jesus? Sei exatamente de onde venho e para onde vou? Qual a melhor forma de seguir Jesus, sendo testemunha de sua missão messiânica entre nós? Que tipo de relação é a minha com a luz da verdade, do conhecimento? A luz que é Jesus brilha em mim como Ele gostaria que fosse? Como tenho sido na minha relação com as demais pessoas: sou luz ou sou trevas em suas vidas? Quem escolhe a luz, viverá! Quem às trevas se apegar, morrerá! A escolha está em nossas mãos.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.