Quarta-feira (17) da quarta semana da quaresma. Seguimos com o nosso calvário, caminhando em meio às cruzes de tantos irmãos/as nossos, sepultados sem nenhum cerimonial. Um cenário desolador, que assusta e nos deixa cabisbaixos, frente a limitação, sem ter muito o que fazer. A esperança está na vacina para todos, como forma de achatar o número de mortes. O Brasil virou um cemitério às escâncaras do mundo. Mesmo assim, o novo ministro que assumiu a pasta da saúde, ao estilo da política “deixa que eu chuto” do anterior, disse alto e bom som que é preciso salvar a economia. Pelo jeito, as mortes continuarão, sem que medidas sejam tomadas.
A carestia chegou de vez até nós. Somos o segundo país do mundo com maior índice de inflação: 41%. Para se ter ideia, um simples pacote de arroz de 5 quilos, alcançou o índice inflacionário de 87%. Mesmo assim, a proposta do governo para o Auxilio Emergencial, girará em torno de 175,00 a 350,00 reais. Significa que a fome alcançará mais famílias, pois é impossível alimentar uma pequena família diante de tamanha carestia. Enquanto isso o salário mínimo está congelado. A cota de sacrifício está sendo colocada nas costas dos pequenos e dos servidores públicos. Já os que recebem maiores salários, continuam recebendo normalmente nas suas contas bancárias. É revoltante tal situação, num país tão desigual.
Definitivamente o sistema de saúde colapsou em todo o país. Não se encontra vagas nos hospitais em lugar algum. Pessoas estão morrendo nos corredores dos hospitais ou mesmo dentro das suas casas. Os profissionais de saúde estão exaustos nas suas jornadas ininterruptas de trabalho. Vimos a cena de uma enfermeira, no intervalo de seu almoço, chorando copiosamente, porque não aguentava mais, pois estava no limite de suas forças físicas e emocionais. Alguém, por acaso viu o algum membro deste governo visitar este pessoal? Eu não vi!
Apesar desta grande catástrofe que estamos vivendo, ainda assim há alguns insensatos se posicionando contrários às medidas de segurança, adotadas para conter o avanço do vírus. Como aquele bispo, de uma das dioceses brasileiras, revoltado porque não podia abrir as portas de sua igreja para que o povo pudesse celebrar e adorar a Deus em paz, afirmando que o vírus não estava no altar ou na hóstia consagrada. Segundo ele, os políticos estavam cerceando a liberdade das pessoas, de reunirem-se nos cultos, para professarem a sua fé. Fico daqui imaginando como alguém com mentalidade semelhante tenha se ordenado bispo. Triste mas esta é a realidade.
A realidade é triste, mas não podemos perder o fio de esperança que ainda nos resta. É preciso que esta vacina chegue logo até nós. Enquanto isso vamos apegando-nos ao pouco que nos resta de esperança. Como nos dizia o nosso bispo Pedro, “a esperança é um ato de rebeldia”. Afinal, Deus não nos abandona jamais! Esperança esta que renasce através da fala do profeta Isaias hoje. “O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-se de mim! Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti”. (Is 49, 14-15) Um texto pós-exílico, que compara a ação de Deus em nós como a de uma mãe. Deus cheio de generosidade e ternura, que nos acolhe, com carinho maternal. Ainda que a mãe abandone o seu filho, o mesmo não acontecerá conosco, em relação a este Deus, que nos trará em seu colo de mãe, sempre presente em nossas vidas.
Por fim, ainda vimos na liturgia de hoje, Jesus em uma de suas enrascadas, diante dos escribas, fariseus e doutores da lei. Depois de libertar o pobre homem, de uma paralisia que o incomodava há 38 anos, as lideranças religiosas, repreendem o Nazareno, porque ele não poderia ter feito aquilo em pleno dia de sábado. A situação de Jesus se complica ainda mais, quando ele diz: “Meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho (Jo 5,17) Dando-lhes a entender que Jesus não era Deus, mas Filho do Pai e que ELE e o pai eram um (Jo 10,30). Desta forma, para Jesus e para seu Pai, o importante é a vida e a liberdade. A vida humana está acima de qualquer lei. Mãe, Pai e Filho! Uma boa síntese para os dias de atuais: Deus que acolhe como Mãe; que é o Pai de Jesus, que se faz nosso, através d’ELE. Assim, formamos uma só família, de irmãos e irmãs com Jesus.