MARIA, SEMPRE EM ÊXODO MISSIONÁRIO, e a Palavra inspiradora é o envio dos 72 discípulos. Este evangelho próprio de Lucas, mostra que não apenas os Doze apóstolos foram enviados em missão, mas também outros 72 discípulos e a razão transparece no vers. 2: a escassez de operários na messe do Senhor. Na Bíblia, esse número tem significado! Setenta e dois, nada mais é do que 12X6, uma vez que o 6 tem o sentido de número incompleto, o sete significa perfeição. Dessa forma, o grupo de 72 discípulos (12X6) se torna perfeito juntando-se aos outros 12. Assim, aos Apóstolos, Jesus junta discípulos homens e mulheres, de todos os tempos, raças, culturas, etnias…; eu e você, para que, em constante ÊXODO MISSIONÁRIO, proclamemos suas maravilhas, sua presença, seu amor, sua misericórdia… e proclamemos a VIDA como dom maior, que precisa ser cuidada e defendida, pois do contrário estaremos traindo o seu evangelho.
Mas, onde aparece Maria neste êxodo missionário? Os evangelhos mostram que Maria precedeu a este envio dos 72. A Mãe, como primeira discípula do Filho, ao responder sim ao chamado de Deus, não reteve para si a Palavra encarnada… e o Filho que acabara de ser concebido, enviou sua Mãe… E ela se pôs a caminho, à casa da prima, para partilhar o que levava dentro de si. “Paz a esta casa!” recomenda Jesus aos 72 discípulos. Maria saúda Isabel: “Shalom, paz a esta casa”… e o resultado da saudação foi a alegria, a exultação no Espírito pela fecundidade, esperança messiânica renovada, o magnificat como reconhecimento da ação salvífica de Deus, na pequenez dos seus filhos e filhas. Desse momento em diante, a vida de Maria foi êxodo missionário…
Três meses depois ela voltou para Nazaré e enfrentou o desafio familiar, religioso e social de estar grávida sem estar casada com José. Na evangelização os contrastes do mundo sempre se chocarão com as novidades de Deus. Mas, como nos lembra o Papa Francisco: “Uma vida privada sem riscos e cheia de medos, que salvaguarda a si mesmo não é uma vida cristã. Não somos feitos para sermos tranquilos, mas para sonhos audaciosos”. E na sua mensagem para o dia mundial das missões, que será dia 18 deste mês, o Papa lembra: Neste contexto de pandemia, a chamada à missão, aparece como oportunidade de partilha, serviço, intercessão. A missão que Deus confia a cada um faz passar do «eu» medroso e fechado ao «eu» resoluto e renovado pelo dom de si. Maria nos ensina a enfrentar os desafios da missão com fé, coragem e determinação!
Jesus recomendou aos 72 discípulos: “Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias…” Maria saiu de Nazaré cumprindo a ordem para o recenciamento… e o Menino nasceu em Belém… A fuga para o Egito foi um êxodo angustiante, porque a vida estava sendo ameaçada… O retorno a Nazaré, para estabelecer moradia definitiva… A ida e a vinda ao Templo para apresentar Jesus; a subida a Jerusalém para a Páscoa, o retorno estafante para procurar o menino pedido e a volta para Nazaré depois do encontro… Nesses êxodos há sempre uma família pobre, desprendida da vontade própria e de bens materiais (sem bolsas, sacolas e sandálias)… Êxodos missionários porque estão em conformidade com as exigências feitas por Jesus: ausência de preocupações pelo futuro, escuta da vontade de Deus, despojamento carregado de profetismo… Tudo isso vivenciou e nos ensina Maria, uma vez que, o mais importante na missão, lembra o Papa Francisco, na exortação Evangelli Gaudium, é o encontro com o amor de Deus que nos faz humanos, e a alegria de comunicar Deus – verdade e beleza, o que significa deixar a segurança da margem e partir sem medo para águas mais profundas.
Jesus alertou os 72 discípulos: “Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos”. Na vida pública de Jesus, sempre veremos a Mãe. Entre os lobos que o querem eliminar (sistemas injustos e de morte): “Sua mãe está aí fora…” é a expressão sempre dita por alguém da multidão. A mãe é aprendiz, é testemunha do Cordeiro que ainda não está na hora de ser imolado… Mas, é em direção ao Calvário que o êxodo de Maria atingiu o ápice da missionariedade, no momento em que o mar das dores se desembocou no oceano do amor infinito – como afirma o místico São Paulo da Cruz; naquele momento, a Mãe foi associada à missão redentora do Filho. O que Deus pediu a Maria e hoje pede a nós, seus discípulos missionários? O Papa Francisco lembra: “Pede-nos a disponibilidade radical para sermos enviados, porque Ele é Amor em perene movimento de missão, sempre em saída de Si mesmo para dar vida”. Queridos irmãos e irmãs! Os lobos jamais vencerão os cordeiros, porque o Cordeiro que tirou o pecado do mundo, continua a morrer nos que morrem defendendo a vida, como testemunho do bem que sempre vencerá o mal, o amor que sempre vencerá o ódio! Maria é testemunha primeira dessa radicalidade evangélica!
No ano de 1717, uma imagem de Nossa Senhora da Conceição elevou-se das profundezas do rio Paraíba; tomada pelas mãos de 3 pescadores se tornou “Aparecida”. Quantas imagens já foram lançadas em nossos rios e oceanos e estão adormecidas… Mas esta imagem, pela vontade de Deus, não podia permanecer no fundo das águas… Foi um êxodo difícil, mas sublime e divino; o corpo, depois a cabeça… tudo com significado: sua cor negra, sua pequena estatura, os pobres envolvidos, os primeiros milagres… No final do envio dos 72 discípulos, aparece a centralidade da missão: “Dizei a todos: Chegou para vós o reino de Deus!” Quando saímos de nossas casas para a casa da Mãe Aparecida, também em êxodo, o que escutamos neste Santuário? Esta imagem está sempre a nos dizer: “Chegou para vós o reino de Deus” E o que ela nos pede? Que sejamos construtores desse Reino, pela escuta do seu Filho, volta para Deus, sensibilidade com a dor do outro, serviço aos mais pobres, cuidado com o planeta, nossa casa comum… Maria nos pede, o que o Papa Francisco, acaba de escrever na encíclica Fratelli Tutti: Uma fraternidade maior que abrace as religiões e todos os povos; mais diálogo e respeito para a instauração da paz; amor humanizante e humanizador, PORQUE SOMOS TODOS IRMÃOS!
Nossa Senhora Aparecida, discípula e missionária em constante êxodo, ajuda-nos, no êxodo de nós mesmos, para que nesta pandemia e pós pandemia, testemunhemos, na alegria do evangelho, a grandeza e a força revolucionária da fé. Amém!