Sábado da primeira semana do Advento. Estamos findando no dia de hoje o primeiro passo de nossa caminhada rumo ao Natalício do Senhor. O povo que andava nas trevas verá uma grande luz (Is 9,2). A chegada do Menino Deus inaugurando a nova história. “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, o qual será chamado EMANUEL, que traduzido é: Deus conosco”. (Mt 1,23). Deus Conosco, como faz questão de frisar o evangelista Mateus, fazendo parte da nossa realidade histórica, se fazendo um de nós na pessoa do Filho: “Este é o meu Filho amado, que muito me agrada. Escutem o que Ele diz.” (Mt 17,5) Na relação de amorosidade entre Pai e Filho, somos contemplados com a ternura divinal de Deus.
No dia de hoje a Igreja nos traz a feliz memória de São Francisco Xavier (1506-1552). Morreu aos 46 anos de idade, mas com o tempo suficiente para marcar a história da Igreja. Segundo os hagiógrafos, que são aqueles que se dedicam aos estudos e escrita da vida dos santos, São Francisco Xavier era de família nobre, mas deixou ser vencido pelo amor, cedendo aos encantos do seguimento de Jesus, graças à participação de Santo Inácio de Loyola em sua vida. Em co-autoria com este, fundou a Companhia de Jesus em plena Contra-Reforma, no ano de 1534. São Francisco Xavier, ao lado de Santa Teresinha do Menino Jesus, tornou-se o “Patrono Universal das Missões”. “São Paulo do Oriente”, como ficou conhecido dado a sua dedicação às Missões.
Vocação e Missão, duas realidades intrínsecas da Igreja. Dezembro vai se transcorrendo, mas com tempo suficiente para falarmos da proposta que nos foi sugerida pela CNBB para o ano de 2023. Estamos falando do terceiro Ano Vocacional da Igreja no Brasil que será celebrado de 20 de novembro de 2022 a 26 de novembro de 2023. O tema do Ano Vocacional 2023 é “Vocação: Graça e Missão” e o lema é “Corações ardentes, pés a caminho” (Lc 24, 32-33). Como nos sugere o Texto Base, “a vocação aparece realmente como um dom de graça e de aliança, como o mais belo e precioso segredo de nossa liberdade”; (Documento Final de nº 78).
Vocação que trago dentro de mim como marca indelével em minha história de vida. No dia de hoje, há 33 anos, estava eu sendo ordenado presbítero pelas mãos de Dom Lélis Lara, C.Ss.R. Abracei o compromisso com a radicalidade evangélica, sendo um missionário das causas maiores com Jesus. Três anos depois, graças a feliz entrada do bispo Pedro em minha vida, descobri a causa pela qual entregaria a minha vida: a causa indígena. Um dia especial e lá se vão 33 anos entre erros e acertos, mas com o firme propósito de dar o melhor que sei ser. Meu sacerdócio corre veloz nas veias da causa indígena. O Padre Zezinho não sabe, mas uma de suas canções ajudou-me a discernir em meio a tantos sonhos e projetos próprios da minha juventude: “Um certo Galileu”. https://www.youtube.com/watch?v=Zp2T5sDkMVc
Vocação e missão do discipulado de Jesus: “Jesus chamou e enviou os que ele mesmo quis”. (Mc 3, 13-19)” A liturgia deste sábado nos propõe um texto bastante significativo e que tem tudo a ver com o contexto temático acima: “Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando o evangelho do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade”. (Mt 9,35) Mateus nos apresentando uma pequena síntese da atividade messiânica de Jesus, suficiente para nos mostrar a raiz da ação do Mestre Galileu: nasce da visão da realidade, que o leva a compadecer-se, isto é, a sentir junto com o povo “cansado” e “abatido”. Povo abandonado à própria sorte, mas que encontra em Jesus alguém que se compadece com a causa dos pequenos e marginalizados. Compadecer como sinal de participação no sofrimento do outro.
Ao discipulado cabe a vocação/missão de reunir o povo para seguir os passos de Jesus, o novo Pastor. Tal missão se realiza mediante o anúncio do Reino e pela ação que concretiza os sinais da presença do Reino. Esta é também a missão da Igreja quando ela é com Jesus. Uma missão que se desenvolve na gratuidade, na pobreza e confiança total, comunicando o bem fundamental da paz, isto é, da plena realização de todas as dimensões da vida humana. Preparados, os enviados e enviadas, serão os portadores/as da libertação sem medo de amar até as últimas consequências. Amar sem medo. Como nos diz o cantor e compositor mineiro Beto Guedes: “O medo de amar é o medo de ser livre”. Sejamos livres e amemos sem medo, como trabalhadores e trabalhadoras da messe, uma vez que: “de graça recebestes, de graça deveis dar!” (Mt 10,8)
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.