Hb 3,17-18

Reflexão litúrgica: Quarta-feira, 07/06/2023
9ª Semana do Tempo Comum

“Mesmo não florescendo a figueira e não havendo uvas nas videiras, mesmo falhando a safra de azeitonas e não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral, nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação” (Hb 3,17-18).

Na Liturgia desta quarta-feira da IX Semana do Tempo Comum, vemos, na 1a Leitura (Tb 3,1-11a.16-17a), a oração de duas pessoas que se encontram no sofrimento, um pai ancião e uma jovem viúva: ele bondade desventurada e escarnecida; ela, inocência sofredora e insultada. Ambos se encontram impotentes, no fundo do poço, sem forças para superar a provação, sem outro refúgio senão a morte, mas sinceramente confiantes em Deus, voltam-se para ele, rezam, o exaltam, pois ele é sempre justo, mesmo quando deveria punir, clamam à sua misericórdia ante a culpa de todo o povo.

Estas súplicas refletem o desespero de quem chega a esta conclusão: é melhor morrer do que viver desse modo. Na pessoa de Tobias e de Sara, reflete-se a história de um povo que perde os bens, a liberdade e, por fim, se vê ameaçado na reputação, ao ser desacreditado até pelos mais próximos. Só lhe resta suplicar a Deus. Isso nos remete a agonia de Jesus quando suou sangue: “Minha alma está numa tristeza de morte” (Mc 14,34), ou quando viu que não haveria outro caminho a não ser apelar às forças do alto: “Durante a sua vida na terra, Cristo fez orações e súplicas, em voz alta e com lágrimas, àquele que o podia salvar da morte” (Hb 5,7).

Será que Deus atende a súplica dos justos? No texto, o autor adianta que o Deus do êxodo escuta e se dispõe a libertar aqueles que o invocam. Deus, porém, não age de modo mágico; a libertação se realiza por meio dos acontecimentos da história e da vida. O anjo Rafael, que significa “Deus cura”, é personificação do próprio Deus agindo. Deus ouve as súplicas e reverte tudo em bem: dá vida, vista, alegria, amor, posteridade. Nós cristãos, sabemos que é necessário esforço e luta, mas a oração deve estar sempre em primeiro lugar, “Deus tarda, mas não falha”.

No Evangelho (Mc 12,18-27), Jesus desmoraliza os saduceus, apresentando o cerne das escrituras: Deus é o Deus comprometido com a vida. Ele não criou ninguém para a morte, mas para a aliança consigo para sempre. A vida da ressurreição não pode ser imaginada como cópia do modo de vida deste mundo, não é um prolongamento daqui, mas realização plena. Os saduceus pertenciam ao grupo que detinham o poder econômico, político e religioso, exploravam o povo e foram os responsáveis pelo processo que levou Jesus a morte. Por serem religiosos, ridicularizar Jesus e agir contra os seus ensinamentos, muitas vezes, confundiam o povo. Se importavam somente com este mundo, que eles tentavam controlar, não suportavam a ideia de ressurreição, muito menos a esperança que ela produz de um mundo transformado, no qual homens e mulheres não se relacionem em termos de propriedade e dominação deles sobre elas.

A fé na ressurreição é compromisso com a vida, não é crença intelectual, discussões teóricas sem sentido. Ressurreição é dar sentido para vida, ser capaz de renúncias, sacrifícios e gestos heroicos por uma causa: a causa do reino de Deus. Jesus afirma que o Deus cujo reino ele proclama é radicalmente comprometido com a vida digna para mulheres e homens, em todas as situações, principalmente onde não há esperança, isto é, em muitas realidades de ‘mortos vivos’.

Crer na vida eterna faz-nos abrir-nos para as necessidades dos outros, vencer o egoísmo e lutar para transformar as estruturas injustas deste mundo: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito” (Rm 12, 2).

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.