Fiz uma aliança de compromisso com a causa indígena. Assim que pisei pela primeira vez numa aldeia indígena, aqui no Mato Grosso, selei este compromisso de lutar pela causa indígena por toda a vida que Deus me desse. Como sinal deste compromisso, tratei de colocar no dedo, o anel de tucum, feito por uma das indígenas Iny da aldeia Itxalá, município de Santa Terezinha.
O anel de tucum é o símbolo característico da causa indígena. Tucum ou tucunzeiro, é uma palmeira tipicamente de solo amazônico, que cresce formando touceiras densas. Atinge de 10 a 12 metros de altura. Tem o seu caule coberto por espinhos afiados e perigosos. De seus frutos, o coco, os indígenas fazem o artesanato, principalmente os anéis. O interessante é que, para descarnar este coco, que é um pouco trabalhoso, os indígenas jogam os mesmos no meio do pasto, o gado, ao pastar, engole aquele coco e depois sai limpinho de seu estomago.
Historicamente falando, o anel de tucum já era conhecido no tempo do Brasil Império. Enquanto os nobres da corte usavam jóias finas, os escravizados e indígenas, criaram o anel de tucum. Fizeram, então, desse objeto rústico um símbolo de amizade entre si, acordos matrimoniais e também de resistência na luta pela sua libertação. Desse modo, o anel de tucum era um símbolo, cuja linguagem, só eles conheciam. Um símbolo secreto da amizade deles e de suas lutas cotidianas.
Posteriormente, nos anos 60, as pessoas comprometidas com a luta, passaram a ter no anel de tucum um símbolo de fé e compromisso, especialmente com a Teologia da Libertação. Estas pessoas sentem de perto os apelos às causas dos mais pobres e abandonados, não somente aqui no Brasil, mas também em toda a América Latina. Neste período histórico, observa-se também um grande grupo de pessoas dedicadas à luta dos mais fracos, o que rendeu muitos testemunhos e até martírios. Chegou-se ao ponto de um dos bispos do Sul do país, pedir aos seus agentes de pastoral, que não usassem, naquele momento, o anel, pois ele estava servindo de sinal para que os latifundiários locais perseguissem e até matassem estes agentes.
Como é um dos expoentes das lutas em meio aos empobrecidos, o nosso bispo Pedro, também tem o seu anel e sempre foi um dos incentivadores do anel de tucum. Como ele mesmo disse numa das cenas do filme “O ANEL DE TUCUM”, da Verbo Filmes: “O anel de tucum é sinal da aliança com a causa indígena e com as causas populares. Significa que quem carrega esse anel assumiu essas causas e as suas consequências”. Dizendo isto, lança o convite: “Você toparia levar um anel? TOPA?”.
O cenário sócio-político-econômico mudou, mas os pobres ainda continuam sendo explorados e oprimidos ao ponto da exclusão. O simbolismo do anel de tucum ainda continua sendo este compromisso de uma fé engajada na defesa dos pobres sem voz e sem vez. Alguns evangélicos têm verdadeira ojeriza pelo anel de tucum. Para estes, o tal anel é o símbolo de belzebu. Confesso que não sei de onde tiraram isso. Só sei que uso o meu com muito orgulho e com o compromisso de lutar pelas causas dos empobrecidos e, dentre estas, a CAUSA INDÍGENA. Você já tem o seu? TOPA USAR UM?