Meus heróis de verdade

Segundo a mitologia grega, herói é filho de um deus ou uma deusa com um ser humano. Uma espécie de semideus. Trata-se de ser mortal, mas divinizado após sua morte. Com esta contribuição mitológica, vou aqui enumerar no nosso meio atual quem, de fato, seriam os nossos heróis? Para esta finalidade quero fazer uso da filosofia como forma de aproximar cada vez mais deste meu intento.

O filosofo Tales de Mileto, nascido na cidade de Mileto, aproximadamente no ano 625a.C. é tido como um dos homens mais sábios da Grécia Antiga. Segundo este filósofo, a coisa mais difícil na nossa vida é CONHECER-SE A SI MESMO. De fato, nós achamos que nos conhecemos, mas somos capazes de fazer certas coisas, de que jamais imaginaríamos que fossemos capazes. Estas ações, às vezes, surpreendem até nós mesmos, não é verdade?

Mas voltando aos heróis sobre os quais quero me referir, há no nosso meio alguns destes heróis, quase sempre anônimos. O Cantor já falecido Cazuza, na sua canção Ideologia nos dizia: “Meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder.” A despeito desta quase decepção do cantor, quero trazer presente a concepção de qual herói me refiro, ou seja, como aquela figura arquetípica, personagem modelo, que reúne, em si, os atributos necessários para superar, de forma excepcional, um determinado problema.

Em meio à pandemia do coronavírus, várias pessoas despontam como os nossos heróis de verdade. E não estou me referido aos políticos, velhas raposas oportunistas de plantão. Nada mais estão fazendo do que aquilo para o qual foram eleitos. Ou vocês acham que alguns dos nossos governadores, não estão aproveitando-se da situação para pavimentar a sua auto-estrada que os levarão à Brasília em 2022?

Como personagens modelos, começo destacando todos os profissionais de saúde, que num esforço hercúleo de salvar vidas, mesmo que as suas estejam por um triz de serem também contaminadas e o foram de fato. Há um alto índice destes profissionais de saúde que estão infectados com o covid-19. Tudo porque não arredaram o pé de seu trabalho profissional, nem sempre valorizado por nós e pelos políticos, nem se fala. Muitos destes profissionais foram contaminados por falta de EPIs, nem sempre adequados à sua proteção.

Quero falar dos heróis anônimos que trabalham nos cemitérios e que lidam com um dos serviços mais difíceis de ser executado que é fazer o enterro das pessoas que estão perdendo as suas vidas. Sabendo que a qualquer deslize seus, podem vir a ser contaminados também.

Quero me referir também dos nossos idosos, sem segurança alguma neste atual contexto. Justamente no momento em que deveriam estar usufruindo de um descanso merecido, pelo tanto que já lutaram na vida, constituindo famílias e criando seus filhos, muitas delas mulheres que assumiram sozinhas a casa, no abandono do marido.. Fico imaginando o que não passa na cabeça de uma pessoa destas, quando ouvem do Ministro da Saúde que, entre um idoso e um jovem, ambos doentes, a opção de salvação é para o jovem.

Como não falar dos heróis que limpam as nossas cidades, os garis? Principalmente aqueles que lidam diretamente com a coleta dos lixos de nossas casas e unidades de saúde. Querem pessoas mais expostas que estas, quanto à uma possível contaminação? E muitos de nós, além de não pensar naquele profissional que ali está, ainda descartamos o nosso lixo de qualquer maneira, expondo ainda mais estes heróis indefesos. Só por Deus mesmo para não se contaminarem.

MACUNAÍMA, a grande obra de Mário de Andrade, é a narrativa do herói sem nenhum caráter. Não que ele fosse desprovido de caráter, mas porque não possuía um caráter próprio SEU, mas assumia o caráter de TODOS. No nosso meio, podemos dizer que temos muitos “MACUNAÍMAS”, ou seja, os heróis sem nenhum caráter, desprovidos mesmo de CARÁTER, a começar dos altos escalões. Todavia, O mundo está cheio de heróis anônimos, que não são condecorados, não recebem estátuas e nem mesmo um simples obrigado, às vezes. E você, já sabe quem são os seus heróis de verdade? Eu enumerei os meus.