Migrar para viver

Dia 25 de junho, Dia do Migrante. Esta é a data que a CNBB instituiu como o Dia do Migrante. Este dia é precedido pela Semana Nacional do Migrante, que neste ano de 2020, está em sua 34ª edição. O objetivo desta semana é mobilizar as comunidades em todo o Brasil para refletir e aprofundar a temática relacionada à realidade da migração no país. Esta semana é promovida pelo Serviço Pastoral dos Migrantes Nacional (SPM), obra da Congregação dos Padres Carlistas.

Falar de migrante é falar da vida do povo brasileiro. Todos nós, de alguma forma, fomos/somos migrantes. Andarilhos daqui para lá, sempre em busca de uma situação melhor. Todavia, um dos migrantes mais famosos da história da humanidade, talvez tenha sido Abraão, que recebeu de Deus uma proposta para sair de sua cidade e ir para além. Abraão tinha setenta e cinco anos de idade. Não era um garoto de quinze anos que estava querendo experimentar de tudo. Era um senhor de setenta e cinco anos de idade. Quando um dia, o Senhor disse a Abraão: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra que te mostrarei.” (Gênesis 12, 1)

Quanto desafio para um homem já avançado na idade, ter que sair da sua zona de conforto, para aventurar-se em uma realidade que não conhecia. Uma situação nada fácil de ser vivida, sobretudo porque se tratava de outro universo, o qual, certamente, não dominava. Entretanto, este homem aceita o desafio e se coloca à disposição nas mãos de Deus, acreditando na providência divina. Não é nada fácil deixar a terra dos pais, os amigos, os costumes e as tradições, para embrenhar-se num mundo desconhecido. Deixar o que já estava estabelecido e partir, como Abraão, sem saber para onde estava indo.

Quantos de nós já não fizemos também esta experiência de sair do seu espaço, do aconchego familiar e se jogar no vão do abismo desconhecido? As nossas histórias de vida, estão cheias de narrativas semelhantes a esta de Abraão. Colocar-se confiante nas mãos de Deus e deixar que ELE guie os nossos passos, rumo às nossas realizações pessoais. Um jogar-se no escuro da noite, mas sabendo que ali, estariam as mãos de Deus para nos acolher. Sou um exemplo disso, aventurando por caminhos jamais trilhados, no intuito de realizar uma vocação, de querer estar a serviço de pessoas que também fui conhecendo na caminhada na estrada sinuosa da vida.

Estamos em plena pandemia, de uma realidade incerta para todos nós. Não sabemos ainda, aonde tudo isso irá nos levar. Só sabemos das nossas dúvidas, medos e angústias, por não enxergar o que vem ainda pela frente. Entretanto, esta situação toda, tem nos servido de aprendizagem. Precisamos tirar lições e aprender com o que ora se abate sobre a humanidade. E uma das lições que devemos assimilar é que vai chegar a hora de termos de sair do nosso lugar comum para adentrar outro espaço, completamente diferente daquele que vínhamos vivenciando. Não podemos mais viver como dantes, como se nada disso tivesse acontecido. Também como Abraão, talvez tenha chegado a nossa vez de sair de onde estávamos e avançar para outra realidade que iremos viver.

Não seria está uma oportunidade que Deus está nos concedendo para avaliar o nosso jeito de ser e viver as nossas vidas? Não estaria Deus dando-nos uma oportunidade para revermos muitas das coisas, que vínhamos fazendo, sem ao menos pensarmos nas suas conseqüências? Não estaria também Deus oportunizando a nós, rever o nosso jeito de lidar com as pessoas, as coisas, o entorno, as florestas, os rios, os animais?

Migrar para viver uma nova vida. Nem sempre aqueles que migraram, estão vivendo esta vida nova. Uma migração forçada, rumo ao infortúnio. Quantos de nós migramos de uma casa, emprego, estabilidade, conforto e sossego, para estar na rua da amargura, como pessoas em situação de rua? Sem lar, sem família, sem teto, ao relento e a sociedade achando ser esta uma situação normal, corriqueira. Ao contrário do idoso Abraão, vivendo uma vida sem nenhuma perspectiva, como escória da humanidade. Esta é nossa hora de sairmos da nossa zona de conforto e abraçar uma nova vida, em que saibamos valorizar e respeitar as pessoas, as coisas, principalmente às nossas vidas, dada por Deus a cada dia. Sai da tua terra e vai. Farei te uma grande nação. Foi assim com Abraão e também pode ser assim com cada um de nós. Não percamos mais tempo e selemos este pacto com o Deus de Abraão. Migrar para viver.