Não tenhamos medo de dizer sim a deus, pois é ele quem escolhe, capacita e protege

Reflexão litúrgica: Terça-feira, 29/08/2023
Memória do Martírio de São João Batista,
21ª Semana do Tempo Comum

  Na Liturgia desta terça-feira, Memória do Martírio de São João Batista, XXI Semana do Tempo Comum, vemos na 1a Leitura (Jr 1,17-19), que, em tempos difíceis, Deus suscita Profetas. O Profeta é a consciência crítica do povo e alguém que se fortalece pela palavra de Deus para denunciar tudo o que causa sofrimento às pessoas. O Profeta é aquele que faz a leitura divina dos acontecimentos humanos. É o responsável, para Deus, diante das pessoas e das pessoas diante de Deus. Igual Jesus Cristo, o Profeta “é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem” (Exortação Apostólica Ecclesia in América, 67). O Profeta é o homem da Aliança, mas também o homem da esperança, não é vidente e nem prevê catástrofes, anuncia as exigências do Evangelho, confronta-as com a realidade. É um crítico das pessoas e das sociedades. Por ter uma consciência mais profunda, ele questiona, denuncia, confronta, exige e, muitas vezes, com suas palavras, ‘choca’ os legitimadores dos sistemas vigentes, por isso nem sempre é ouvido, sofre a perseguição e a solidão. Como no tempo de Jesus, sua terra e seu meio não o compreendem. Então, só resta recorrer e até ‘reclamar’ com Deus:

“Seduzistes-me, Senhor; e eu me deixei seduzir! Dominastes-me e obtivestes o triunfo. Sou objeto de contínua zombaria… olho ao redor e vejo violência e devastação… Não mais o mencionarei e nem falarei em seu nome. Mas em meu seio havia um fogo devorador que se me encerrara nos ossos. Esgotei-me em refreá-lo, e não o consegui… Maldito o dia em que nasci! Nem abençoado seja o dia em que minha mãe me deu à luz. Maldito o homem que levou a notícia a meu pai e que o cumulou de felicidade ao dizer-lhe: Nasceu-te um menino! Por que não me matou, antes de eu sair do ventre materno?! Minha mãe teria sido meu túmulo e eu ficaria para sempre guardado em suas entranhas! Por que saí do seu seio? Para só contemplar tormentos e misérias, e na vergonha consumir meus dias?” (Jr 20, 7-18).

Mas, o Profeta, embora, algumas vezes, caia num grande sofrimento, não se deixa abater ou atingir, ele tem consciência que o chamado é de Deus:

“Foi-me dirigida nestes termos a palavra do Senhor: Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações” (Jr 1, 4-5).

Ele não age por si, age em nome de Deus, é um porta-voz credenciado: “Comunica-lhes tudo o que eu te mandar dizer. Não tenha medo deles”.

Vive mergulhado em conflitos, mas não é enviado para a derrota: “Faço de ti uma fortaleza, uma coluna de ferro e muro de bronze, diante dos reis de Judá e seus chefes, diante de seus sacerdotes e de todo o povo da nação”.

Enfrenta o poder: político, econômico e religioso: “Eles farão guerra contra ti”.

Mas ele tem Deus como seu aliado: “Não prevalecerão, porque estou contigo, para defender-te”.

A vitória é do Deus da vida. “Se o Senhor é por nós, quem será contra nós. N’Ele nós somos mais que vencedores” (Rm 8, 31-39).

A partir desta leitura, também nós não tenhamos medo de dizer sim a Deus, pois é Ele quem escolhe, capacita e protege.

No Evangelho (Mc 6,17-29), vemos que a narração da morte de João Batista apresenta o destino de Jesus e dos que o seguem. A morte de João acontece dentro de um banquete de poderosos. Assim, o profeta que pregava o início de transformação radical é morto por aqueles que se sentem incomodados com essa transformação. A eliminação de João é motivada pelos questionamentos trazidos por sua palavra e ação, e antecipa o destino de Jesus.

 MARTÍRIO DE SÃO JOÃO BATISTA

João Batista morreu mártir por sua coerência com a mensagem que pregava. Desde o século V, a 29 de agosto celebrava-se em Jerusalém uma memória do Precursor do Senhor.

Deixemo-nos impulsionar pelo exemplo desse santo profeta, que tombou na luta pela justiça e pela verdade.

São João Batista, rogai por nós.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

 


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.