“Não vos aconteça estardes a combater contra Deus” (At 5,39)

Reflexão litúrgica, terça-feira, 08/08/23
XVIII Semana do Tempo Comum, Memória de São Domingos, presbítero

 Na Liturgia desta terça-feira da XVIII Semana do Tempo Comum, vemos, na 1a Leitura (Nm 12,1-13), que Deus revela seu projeto aos profetas, que são homens capazes de ler nos acontecimentos a ação de Deus, e que dirigem o povo para a liberdade e a vida. Moisés foi o profeta por excelência que discerniu e manifestou, pela palavra e ação, esse projeto divino. Por isso, ele se tornou o modelo de toda atividade profética. Nenhuma pessoa poderá contradizer a proposta de Deus, manifestada por meio de Moisés, sob pena de retardar a caminhada do povo para a vida.

Uma questão que podemos colocar a partir deste texto: Deus concede carismas só a Moisés? Porventura Deus não se manifesta também pelos seus familiares e outras pessoas da Comunidade? Sim, Deus fala a todos, mas a Moisés é diferente, ele é confidente, fala na intimidade, de tu para tu; ele é contemplativo e místico, posto a par do mistério de Deus, estudou, se preparou, por isso, é grave culpa contestar a autoridade que recebeu de Deus. Também hoje tem aqueles que contestam o Papa Francisco, a CNBB e outras autoridades comprometidas com o Projeto do Bem Comum e da Dignidade Humana, não raramente essas contestações são fruto da ignorância estratosférica e de uma degeneração intelectual, espiritual e moral, também da má vontade de reconhecer o bem. Diante disso podemos lembrar a advertência de Gamaliel: “Não vos aconteça estardes a combater contra Deus” (At 5,39).

No Evangelho (Mt 14,22-36), vemos que Deus sempre está presente, não só quando tudo vai bem: “Feliz o homem que suporta com paciência a provação! Porque, uma vez provado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu àqueles que o amam” (Tg 1,12).

Neste texto, Jesus manda (força, obriga) os discípulos irem para o outro lado do mar. A comunidade deve sair em missão e levar o ideal da partilha.

Jesus, também, orou a sós, pelo êxito da missão. Qual seria o conteúdo? “Pai guarda-os em teu nome; que sejam um… Guarda-os do mal… Eu te louvo Pai…” (Jo 17).

O texto relata, ainda, que o vento agitava as ondas e a barca com os discípulos corria o risco de não chegar ao destino. Somente com suas forças, pereceriam. Nas crises e medos, e não vendo Jesus nos acontecimentos, eles veem fantasmas (andar sem luz), isto é, não enxergam chances de salvação, pensam o pior. Diante dos perigos e dificuldades, não caberia apelar para outros poderes? Jesus então se aproxima e lhes fala: “Coragem! Sou eu. Não tenham medo!”

Pedro deseja andar sobre as águas, isto é, deseja participar da condição divina, mas, logo, começa a afundar. Por que Pedro afunda? Sente o vento contrário, tem dúvidas, fracassa na fé, pois olha mais para si mesmo do que para Jesus, se detêm mais nas dificuldades do que nas virtudes.

Participar da condição divina é superar os desafios, sem pretender que Jesus resolva tudo com um milagre mágico. O milagre é caminhar em meio aos desafios. Com Jesus no barco, o vento cessou, acalmou. A memória da presença de Deus é determinante para atravessar qualquer obstáculo. Jesus sempre caminha conosco, nós que, às vezes, não percebemos.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.