Irmãos e irmãs, paz e bem!
Neste dia celebramos a natividade de João Batista, o menino nascido de Isabel velha e estéril e de Zacarias, velho e mudo que ao escrever o nome do filho, recupera a capacidade da fala e passa a louvar a Deus. Nossas tradições populares recordam a alegria dos parentes e amigos de Zacarias e Isabel que fizeram festa, alegrando-se com o nascimento do menino.
Caros leitores, o nascimento de João Batista é descrito envolto em simbologias, para manifestar a grandeza desse acontecimento. Os pais de João são Isabel e Zacarias, um casal temente a Deus, já avançado em idade, sem filhos. Para o povo bíblico, ter filho era um grande sinal da bênção de Deus. Em consequência, quando um casal não tinha filhos, toda a sociedade se perguntava qual o mal aquele casal tinha feito para que Deus tivesse privado os de descendência. O peso maior recaia sobre a mulher, pois só ela era considerada estéril.
Pois bem, em Isabel podemos contemplar o povo de Israel a esperar o cumprimento das profecias sobre o Messias, profecias estas mudas há quatrocentos anos. Eram quatrocentos anos de silêncio de Deus, silêncio esse simbolizado na mudez de Zacarias durante a gravidez de Isabel. João nasceu de pais que biologicamente já estavam impossibilitados de ter filhos. Portanto, seu nascimento é sinal da intervenção de Deus na História. Isso fica claro quando Zacarias ao escrever o nome do menino, para espanto de todos, tem a sua língua solta e passa a falar e louvar a Deus. Portanto, João, cujo nome significa Deus é misericordioso, ou Deus nos mostra a sua graça, João é a voz que grita no deserto, é aquele que vai mostrar o verbo, a palavra de Deus encarnada, Jesus de Nazaré. O silêncio de Deus é quebrado e a Palavra misericordiosa do Pai ecoa.
O povo alegre e espantado faz festa e se pergunta o que virá a ser o menino. Recordo-me a tradição popular das festas juninas para celebrar o nascimento de São João Batista. Festas essas que na região onde me encontro, principalmente no interior, aqui chamado de sertão, são muito frequentadas, alegres, coloridas, com danças de quadrilhas profissionais e amadoras, em noites inteiras regadas a bebidas e comidas, até ao nascer do sol. Tradição trazida pelo povo nordestino para a região. Alegria do povo sertanejo, que neste ano não será sentida, pois estamos em meio à pandemia que vem ceifando muitas vidas e não podemos nos reunir para festejar. Sentimos a veracidade das palavras de Saint-Exupéry segundo o qual os ritos tornam um dia diferente do outro. De fato, sentimos o peso da monotonia de dias iguais, sem festa, sem alegria. No dizer triste do povo daqui, “neste ano não tem São João”.
É o tempo propício para a velha e barulhenta forma de vida, baseada no fazer e consumir produtos, deixar-se tocar pelo silêncio e a espera, deixando Deus trabalhar na humanidade, para darmos à luz uma vida nova. São João Batista, intercedei por nós!