Ninguém nos tirará a alegria de ser livres

Reflexão: Liturgia do XVII Domingo do Tempo Comum,
ano C – 24/07/2022

 Na Liturgia deste Domingo, XVII do Tempo Comum, veremos, na 1a Leitura (Gn 18, 20-32), que Abraão reza, intercedendo por muitos que vivem na gravidade do pecado. “Abraão ficou na presença do Senhor”. Sua oração é um diálogo com Deus, humilde, reverente, respeitoso, mas também cheio de confiança, de ousadia e de esperança. Os Santos são os amigos de Deus, têm a função de interceder e são perseverantes, insistentes, e, com isso, a oração atinge o seu fim. Abraão, mesmo sabendo da violação da justiça e do perigo iminente da exterminação dos culpados, sabe que, ali, também estão os justos que não podem ser penalizados da mesma forma, ele sabe que há mais injustiça em condenar alguns inocentes do que poupar uma multidão de culpados.

Abraão reza espontaneamente, sem repetições de fórmulas decoradas ou lidas, mastigadas às pressas, mas sua oração é um diálogo no qual apresenta a Deus as suas inquietações, dúvidas, anseios e tenta perceber os projetos de Deus para o mundo e para os homens. Na oração, nos tornamos aquilo que rezamos, é um bem, primeiramente, para nós mesmos e, também, um compromisso para um mundo melhor, por exemplo, se pedimos a Deus saúde, não é para gozar egoisticamente a vida, mas para servir melhor. Se pedimos por nossos irmãos e irmãs mais pobres, é porque queremos ajudá-los efetivamente. Enfim, a oração cristã deve ter as dimensões da oração de Abraão: preocupada com a sorte de Sodoma e Gomorra, isto é, preocupada com o andamento da comunidade, com os problemas dos irmãos mais desprotegidos, sempre alerta para que haja paz, justiça, igualdade e pão para todos.

Na 2ª Leitura (Cl 2, 12-14), o apóstolo Paulo nos convida a viver de forma renovada, pois fomos libertados pela obra redentora de Cristo na cruz. Quem quiser conhecer a Deus precisa olhar para Jesus Cristo, no qual está a transcendência total.

No Evangelho (Lc 11, 1-13), Jesus nos ensina a rezar de forma permanente e amorosa diante da presença do Pai. Ele nos diz que a oração deve expressar nossa maneira de existir, pois o espelho de como rezamos será a forma como viveremos. Vive-se como se reza, portanto, devemos rezar bem para viver bem. A oração precisa ser de filhos, não de escravos, mas de colaboradores, de acolhida, de perdão e, acima de tudo, de amor incondicional. O Nosso louvor na oração não é somente por nossas virtudes, mas, sobretudo, pela misericórdia de Deus que derramou em nós sua graça e seu Espírito Santo. Quando rezamos, Deus nos dá o que precisamos, nem sempre de acordo com o que buscamos. Deus não nos dá necessariamente o que pedimos, mas o que precisamos. A questão é o que precisamos? Maturidade, mais compromisso de entrega pelo Reino de Deus. “Senhor, ensina-nos a rezar”. Face ao pedido que os discípulos fazem, Jesus apresenta uma oração: “Nela se mostra o que verdadeiramente vale diante de Deus e deve importar a quem se coloca à sua escuta: seu Reino inspirando os modos de agir dos seres humanos, estabelecendo a partilha e o perdão em todos os âmbitos da vida, fortalecendo a resistência ante as seduções que possam desviar desse caminho. A oração deve ser expressão das efetivas necessidades, na consciência de que o Pai as conhece e acolhe, mas principalmente de que ele oferecerá o Espírito Santo para fortalecer e guiar no caminho de seguir Jesus” (Bíblia Edição Pastoral).

O Catecismo da Igreja Católica, a partir do parágrafo 2.558, nos apresenta as Fontes de Oração, entre elas, a Palavra de Deus, que percorre os seguintes degraus:

1º) Leitura do texto: conhecer, respeitar, situar, será o ponto de partida.

Questão: O que diz o texto? Explicação, exegese.

2º) Meditação: ruminar, dialogar, atualizar (para o eu e o social).

Questão: O que diz o texto para mim, para nós, hoje? Aplicação, hermenêutica.

3º) Oração: súplica, louvor, aqui está a força da Palavra, é viva, mexe.

Questão: O que o texto nos faz dizer a Deus? Nossa resposta à Palavra de Deus.

4º) Contemplação: saborear, enxergar, agir. Ponto de chegada.

Questão: Novo olhar sobre a vida e a história, sobre os fatos. Experiência de Deus, compromisso com o Reino de Deus, para sempre. Ninguém nos tirará a alegria de ser livres.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

 


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.