Segunda feira da quarta semana da Páscoa. Iniciamos mais uma semana de nossa caminhada nesta vida. Oportunidade para agradecer a Deus por estarmos vivos iniciando mais uma etapa de nossa jornada. O horizonte nos aponta para o grande dia de Pentecostes que virá, quando enfim, a Trindade Santa: Pai, Filho se juntando ao Espírito Santo, se fazendo Três Pessoas em um só Deus. Um Deus, Uno e Trino, como mistério se fazendo presente em nossa realidade histórica. Como dizia Leonardo Boff: “A Santíssima Trindade, a melhor comunidade”. Iniciativa gratuita do próprio Deus de vir até nós como obra de nossa salvação.
O dia de ontem foi um dia especial. Dia das nossas mamães. Mãe uma palavra mágica e sagrada para os povos indígenas. Para eles a palavra Mãe tem um significado muito mais profundo do que para nós. Quando se referem à Mãe, estão se referindo a Mãe Terra. “A Terra é a nossa Mãe!” “É ela que nos dá tudo de que necessitamos para viver bem neste mundo”, me disse certa feita o ancião Xavante Francisco Tsipé, que hoje mora com os ancestrais. Sem ela nada somos. Uma experiência que precisamos aprender com eles, afinal, também a nossa origem, como povo de Deus nasce da Terra: “Você comerá seu pão com o suor do seu rosto, até que volte para a terra, pois dela foi tirado. Você é pó, e ao pó voltará”. (Gn 3,19). A Terra é a nossa mãe, assim como a nossa Mãe ancestral é indígena. Somos filhos da Mãe Terra e da Mãe indígena. O sangue da Mãe indígena percorre nossas entranhas.
Ontem foi o Domingo do Bom Pastor. Na década de 1960, quando da realização do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), a Igreja ali reunida se voltou com os olhos e o coração para a realidade do mundo e, a exemplo de Jesus, sentiu compaixão do povo, apontando para um novo impulso na reflexão sobre as vocações. Assim, foi instituído como Dia mundial de oração pelas vocações sacerdotais e religiosas, o quarto domingo da Páscoa, o Domingo do Bom Pastor. Se referindo a este dia o Papa Francisco definiu como tema “A Igreja, mãe de vocações” e completou: “Como gostaria que todos os batizados pudessem experimentar a alegria de pertencer à Igreja! E pudessem redescobrir que a vocação cristã, bem como as vocações particulares, nascem no meio do povo de Deus e são dons da misericórdia divina!”
A exemplo do Bom Pastor que é Jesus, a Igreja carece de homens e mulheres que sejam anúncio e testemunho vivo da Boa Nova do Evangelho no meio do povo. Estamos cansados de pastores que anunciam a si mesmos, lideranças religiosas clericais, distantes da vida do povo sofrido, estando mais a serviço da instituição Igreja hierárquica patriarcal sacramentalista. Como ovelhas que não escutam a voz do Pastor. Isso sem falar das jovens vocações presbiterais. Alguma coisa está errada na formação destes, pois alem de atropelar frequentemente a nossa língua portuguesa, são pequenos e alienados demais quanto a uma visão eclesiológica para a vida dos mais sofridos, traduzindo sua prédica em homilias recheadas de “chavões dogmáticos” desconexos com a Igreja de Jesus de Nazaré. Vestem as roupas mais suntuosas e não trazem em si o cheiro das ovelhas.
Uma segunda feria que ainda seguimos refletindo sobre a figura emblemática do Bom Pastor. No dia de hoje o Evangelho nos traz Jesus como a porta de entrada: “Em verdade, em verdade vos digo, eu sou a porta das ovelhas.” (Jo 10,7) Com a sua Ressurreição Jesus se transforma na porta que é a passagem para uma nova vida. Todos devemos passar por esta porta que se abre livremente à nossa frente. Quem não entra por ela, faz a escolha de ficar de fora da proposta do Reino. A condição para entrar por esta porta é a de nos revestirmos das coordenadas do amor. Ele acaba nos atraindo pelo amor. Quer que nos sintamos livres para amar e assim seguir os seus passos, fazendo a adesão definitiva pelo Reino, onde nos sentimos amados e acolhidos.
Jesus é o Bom Pastor. Jesus é a porta de entrada para a verdadeira vida de plena realização humana. Muitos homens e mulheres fizeram esta experiência com Jesus e se fizeram bons e boas pastoras, como o nosso Papa Francisco, por exemplo. Diante de seus 85 anos, tem dedicado os dias de seu pontificado à serviço dos mais necessitados, derrubando as rígidas estruturas hierárquicas clericais, de uma instituição fechada sobre si mesma. Muito ainda há que se fazer para que esta Igreja se aproxime daquela Igreja das primeiras comunidades primitivas. Mas o nosso pastor está doente e pede que rezemos por ele, como ele assim escreveu: “Peço a vocês que, por favor, rezem por mim porque eu estou um pouco doente, não muito!” Como o Bom Pastor que deu a sua vida, estejamos prontos a fazer de nossas vidas portas de entrada para a vida de todos: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.