Reflexão litúrgica: Sexta-feira, 23/06/2023
11ª Semana do Tempo Comum
Na Liturgia desta sexta-feira da XI Semana do Tempo Comum, vemos, na 1a Leitura (2Cor 11,18. 21b-30), que o apóstolo Paulo se gloria de suas fraquezas frente a provocação de seus adversários. Ele não abusa de sua autoridade de apóstolo para se impor às comunidades. Os títulos que ele apresenta de si próprio, mais do que diplomas que possam dar prestígio pessoal, são as suas lutas, sofrimentos, preocupações e perseguições, pelas quais passou no incansável trabalho de evangelização. A sua compaixão pelos mais fracos o recomenda acima de todos os “superapóstolos” que usam de seus títulos para explorar as comunidades por onde passam.
No Evangelho (Mt 6,19-23), Jesus nos ensina como deve ser o procedimento do cristão diante dos bens deste mundo, pois o uso correto dos bens nos ajuda a estar prontos para o encontro definitivo com o Senhor. Ele nos alerta que é necessário ver claro, é necessária uma luz bastante forte, que possa mostrar-nos até onde é lícito buscar os bens da terra sem contradizer os mandamentos divinos, que nos faça ver a que ponto a inata avidez de possuir tenta mascarar-se sob a aparência de necessidades, de conveniências sociais, ou tenta aquietar a consciência com esmolas ou gastos de beneficência. A consciência é iluminada pela luz que promana da palavra de Deus, que nos interpela com absoluta exigência, se nos deixarmos interpelar.
Santo Agostinho adverte quanto ao orgulho e a ostentação que, muitas vezes, aparentemente, promovem ações em prol da justiça social e que, exteriormente, confundem-se com as ações da caridade.
“Não devemos desejar que haja infelizes para que possamos fazer obras de misericórdia. Dás pão a quem tem fome; contudo melhor seria que ninguém tivesse fome e que não precisasses de dar a alguém. Vestes a quem está nu; oxalá todos tivessem roupa para se vestir e não houvesse necessidade dessa obra de misericórdia! Todos estes serviços são exigidos porque há indigência. Suprime os infelizes; não haverá mais ocasião para obras de misericórdia. Extinguir-se-á por isto a chama do amor? Mais autêntico, mais puro, muito mais leal será teu amor por uma pessoa feliz, da qual não podes fazer devedor, pois, quando, com teus dons, empenhas gratidão do infeliz, talvez desejes elevar-te perante ele, talvez desejes que ele esteja abaixo de ti. Deseja, antes, que ele seja teu igual; ambos sedem submissos Àquele que não tem que agradecer a ninguém” (Comentário da 1ª Epístola de São João VI, 2 e VIII, 5).
Neste sentido, sabendo que muitas pessoas fazem isso por ostentação e não por caridade, devemos distinguir o seguinte: enquanto os que possuem a perfeita caridade buscam realmente a igualdade entre os homens, os que agem por ostentação e orgulho, apesar das aparências, de fato, não desejam esta igualdade, visto que, com a chegada dela, desapareceriam as suas oportunidades de autopromoção. Devemos querer que todos os homens sejam iguais, pois a busca sincera e ativa desta justiça social é uma das mais profundas expressões da verdadeira caridade.
Neste evangelho, Jesus nos diz que não somos absolutos e que nossa vida é passageira. Então, se o valor é a vida eterna, a questão é: No que estamos investindo? Nos gastamos em quê, com quê e para quê? Nossas ações revelam os valores em que acreditamos e quanto fiéis somos. “Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. Nossa responsabilidade é maior porque tivemos a oportunidade de conhecer a vontade do Senhor, não podemos ficar indiferentes aos sofrimentos de tantos irmãos e irmãs que clamam por justiça e mais dignidade. “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.