Quarta feira da Segunda Semana da Páscoa. Os dias vão se sucedendo, mas ainda estamos sob o domínio da Páscoa do Ressuscitado. Celebramos assim o martírio de Jesus. Mais do que este fato histórico, celebramos a Vitória de Deus sobre os detentores da morte. A cruz está vazia, significando que a Palavra de Deus foi mais forte, e trouxe o Ressurreto para o meio de nós. Páscoa é Ressurreição! Páscoa é vida! Páscoa é renascer para um novo existir pela força do Espírito que vem do alto, renovando o amor pelas causas do Reino. Como diria Santa Teresinha do Menino Jesus: “É preciso que o Espírito Santo seja a vida de teu coração”.
Dia 19 de abril. Mais do que “Dia do Índio, “Dia dos Povos Indígenas”. Momento para trazer viva a memória da luta dos Povos Originários. Dia para ser celebrando como resistência e resiliência como capacidade de enfrentar e superar todas as adversidades. Dia para se superar os conceitos equivocados da herança colonial acerca dos Povos Indígenas. O primeiro conceito é exatamente a palavra “Índio”, por se tratar de concepção genérica do colonizador, que viam os povos que aqui habitavam como se fossem todos um só, e “iguais”, sem levar em conta a sua diversidade cultural, de saberes ancestrais.
Dia de olhar para a realidade dos Povos Indígenas a partir de dentro da sua cosmovisão e o seu jeito de ser perante a terra e todo o meio que o cerca. O Dia 19 de Abril foi instituído no Brasil pelo Governo de Getúlio Vargas (1883-1954), em 1943, através do Decreto Lei número 5.540, como “Dia do Índio”. Todavia, graças a atuação de algumas lideranças indígenas, sobretudo mulheres, a partir de 2022 o seu nome foi mudado para “Dia dos Povos Indígenas”. Esta é uma ocasião para desmistificar alguns conceitos acerca dos indígenas e também para as escolas trazerem para dentro delas a realidade dos povos indígenas e não colocar as crianças, de forma caricata, homenageando os indígenas com sons desconexos.
Um dia de luta e também de luto pela morte de centenas de crianças e de lideranças assassinadas pelos invasores das terras indígenas. Dia também para se combater os preconceitos contra os indígenas e estabelecer políticas públicas que garantam os direitos dos povos originários viverem em paz em seus territórios sagrados. “Os índios tem muita terra”; “os índios são preguiçosos”; “os índios não produzem”; “os índios são o atraso para o desenvolvimento”. Como vêem, são muitos preconceitos que precisam ser superados a partir do momento em que nos abrirmos a conhecer melhor a realidade destes povos, a partir de dentro de suas culturas milenares. “Não somos nem um pouco preguiçosos! […] Sabemos trabalhar sem descanso em nossas roças debaixo do sol. Mas não fazemos do mesmo modo que os brancos” (Davi Yanomami)
Como estamos no clima da Páscoa d’Ele, o amor está no ar, pois Deus é movido pela essência do amor. Mais do que um sentimento romântico, o amor é a espinha dorsal que deve mover toada a vida de quem faz opção de caminhar com o Ressuscitado. Jesus não é somente o representante de Deus no meio de nós (Verbo encarnado), mas a personificação deste amor em vida. Deus envia o seu Filho por e para o amor, e não para morrer dependurado numa cruz. A cruz somente entra no itinerário histórico de Jesus por causa dos representantes da “Religião Judaica” que, certamente andavam com a “Torá” debaixo do braço, como é comum vermos nos nossos dias.
Deus é amor e ama os seus incondicionalmente. Além de nos criar por amor, criou-nos também para o amor. Na essência do nosso ser está o estigma deste amor de Deus. Amor gratuito de entrega total de si na pessoa do Filho: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3,16) Na experiência mais profunda de fé que podemos manifestar em nós acerca deste Filho Amado de Deus, seria fazer da vida uma constante doxologia. Ou seja, como a palavra já diz, uma expressão constante de louvor, honra e glória a Deus como reconhecimento e gratidão à sua grandeza e majestade.
Por nos amar por inteiro e sem medidas, cada um dos que criou é importante, e não quer perder nenhum de nós. Criou-nos para si e para sermos felizes na plenitude maior que podemos alcançar. A missão primordial do Filho é a salvação de todos: “De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”. (Jo 3, 17) Amar sem medida é essencia do ser cristão. Amor que se desdobra em forma de serviço e dedicação às causas do Reino, em favor dos pequenos. Amar trazendo para o centro das nossas vidas a pessoa do Ressuscitado que ja caminha conosco pelas vielas da história. E quem sabe, repercutindo em nós aquilo que foi dito por Santa Clara: “Nós nos tornamos o que amamos e quem amamos molda o que nos tornamos”.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.