O amor não é amado

Segunda feira da Nona Semana do Tempo Comum. A semana iniciando no clima ainda da esperança que brota da comunidade perfeita, a Santíssima Trindade. Pai, Filho e Espírito Santo, caminhando conosco pelas veredas deste mundo. O esperançar de Deus sonha conosco por dias melhores e de boas vibrações. Não caminhamos para a morte, mas para a vida, a vida plena, razão maior de nossa criação em Deus. Acreditar no amanhã fazendo acontecer o hoje, no aqui e agora de nossa história.

Um dia especial para a História da Igreja. Celebramos hoje a Festa de São Bonifácio, bispo e mártir. É considerado mártir, pois deu a sua vida por causa da fé em Jesus de Nazaré. Seu legado e a semente que lançou, ganhou raízes profundas e se firmou para sempre no coração dos povos germânicos. Ele que nasceu em 673, na região de Devonshire, sudoeste da Inglaterra. Foi brutalmente assassinado a golpe de espada, durante uma celebração de crisma de um grupo de catecúmenos. Sobre a Igreja dizia ele: -“É como uma grande barca que navega pelo mar deste mundo. Sacudida nesta vida pelas diversas ondas das tentações, não deve ser abandonada a si mesma, mas governada”.

No dia de São Bonifácio celebramos também o Dia Mundial do Meio Ambiente. Este dia foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1972, durante uma conferência sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, capital da Suécia. O Planeta Terra pede socorro. O Dia do Meio Ambiente tem como objetivo principal chamar a atenção de todas as esferas da população para os sérios problemas ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais, como bens de todos nós e salvação da humanidade.

Coincidentemente, no Dia Mundial do Meio Ambiente, fazemos a memória de um ano do brutal assassinato de Bruno Pereira e Dom Philips, quando viajavam para entrevistar líderes indígenas e ribeirinhos em comunidades próximas ao Vale do Javari. Foram assassinados porque o ambientalista brasileiro e o jornalista inglês denunciavam a avalanche de crimes ambientais cometidos na Amazônia. Bruno e Dom são mártires da luta pela preservação ambiental. Todos os que defendem as causas indígenas, ribeirinhos e povos da floresta estão ameaçados pelos que destroem o meio ambiente. Somente quem vive aqui nesta realidade sabe o que passamos.

O amor não é amado. O amor é rejeitado por aqueles que cultivam o ódio e propagam as forças da morte. Esta é também a experiência de Jesus diante das autoridades judaicas. Mais uma vez, o texto da liturgia do dia, nos traz o embate de Jesus com tais autoridades. Desta vez Jesus usa o recurso pedagógico das parábolas, numa tentativa de fazê-los entender sobre a sua vinda e o seu messianismo. Tudo em vão, porque a simples presença dele ali no Templo já era uma ameaça aos projetos arquitetados por tais autoridades, que usavam o Templo como mecanismo de alienação, dominação e exploração do povo.

“Os chefes dos judeus procuraram prender Jesus, pois compreenderam que havia contado a parábola para eles. Porém, ficaram com medo da multidão e, por isso, deixaram Jesus e foram-se embora”. (Mc 12,12) Jesus fala dos profetas e do destino destes nas mãos daqueles que não são a favor da vida. Todos os profetas tiveram o mesmo destino, sendo perseguidos e mortos por falar a verdade e defender a vida do povo sofrido. Foi assim com todos os profetas do Antigo Testamento, com João Batista, que abre o ciclo da Nova Aliança, e também com Jesus. Gosto deste versículo que nos vem do Apocalipse de São João: “Jesus Cristo, a Testemunha fiel, o Primeiro a ressuscitar dos mortos, o Chefe dos reis da terra”. (Ap 1, 5)

Sem medo algum, Jesus parte para cima dos sumos sacerdotes, mestres da Lei e anciãos dizendo-lhes a verdade nua e crua. Ao contar-lhes a parábola da figueira que não dá frutos, Jesus está no Templo que se tornara lugar de roubo, porque as autoridades (chefes dos sacerdotes, doutores da Lei, anciãos do Sinédrio) exploram e oprimiam, apoderando-se daquilo que pertencia a Deus. Ao falar-lhes da vinha, Jesus apresenta a linha do tempo histórico com a vinda de muitos profetas que deram suas vidas pregando a justiça. Por fim, fala de si mesmo como o Filho enviado de Deus com o seu Reino. A rejeição e a morte do Filho trazem a sentença: o povo de Deus, agora unidos em torno de Jesus (pedra), passa a outros chefes, que não devem tomar posse, mas servir. Depois deste dialogo de Jesus com as autoridades, ficou decidido que Ele devia ser morto.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.