Ufa! Primeira segunda feira do ano. Agora sim, o ano civil começa a dar as caras, depois das festas da virada. Uma segundona carregada de ressaca para alguns. Para outros, momento de recomeçar a vida, pensando nos embates que teremos daqui por diante. Temos muito que construir! Reconstruir! Tomara que as vacinas cheguem aos braços de todos, inclusive das nossas crianças, e assim, consigamos quebrar a espinha dorsal deste vírus mortal. Que a ciência prevaleça e o negacionismo dê lugar à sensatez, afinal nos primeiros anos de vida, somos imunizados com pelo menos 25 vacinas. Vacinas salvam vidas! “Vacinar é um ato de amor”, nos disse o Papa Francisco.
Amor que precisamos abraçar e fazer dele o nosso projeto de vida. Amar a nós mesmos. Amar os familiares. Amar os que sofrem nestes momentos difíceis que estamos passando. Amar e abraçar as causas de Jesus, fazendo delas também as nossas causas. Afinal, Ele veio trazendo a vida, como bem nos disse o discípulo do amor: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham abundantemente”. (Jo 10,10) Quem deu a sua vida por inteiro, nos convida a doar a nossa, pelas causas do Reino, numa adesão firme e consciente no seguimento de seus passos.
Passos dados pelo Mestre que no texto da liturgia de hoje nos convida a refletir sobre o início da vida publica de Jesus. Ele começa o seu messianismo, exatamente onde menos se esperava: Cafarnaum. Uma pequena cidade situada no norte de Israel, na região do mar da Galileia. Geograficamente localizada a 185 km de Jerusalém, a 50 km de Nazaré, sua cidade natal. Nesta região ficavam as pessoas em maior vulnerabilidade social, completamente abandonadas pelos poderes públicos e religiosos da época. É para estas pessoas que o Galileu se volta, demonstrando para aquelas pessoas que elas eram as destinatárias primeiras da encarnação do Verbo.
Para entender um pouco melhor o início da vida pública de Jesus, precisamos de fazer um mergulho exegético, utilizando uma das expressões advindas do alemão. Trata se da expressão “Sitz im Leben”, que é utilizada nos estudos exegéticos. Podemos traduzi-la em português para aquilo que chamamos de “contexto vital”, ou de “contexto de época”. Esta expressão nos ajuda a entender o texto dentro de seu contexto originário. Quando assim o fazemos, não corremos o risco de ler e interpretar o texto fora de seu contexto. Lembrando que, texto fora do contexto pode ser um mero pretexto para justificar as nossas conveniências ou nossos interesses subjacentes.
Jesus sendo a luz na vida de muitos daqueles empobrecidos e deserdados. Jesus, o brilho da luz de Deus! Aquela gente toda viu no Filho de Deus, a luz que tanto esperavam brilhar em suas vidas. “O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz”. (Mt 4, 16) Até que enfim alguém voltou-se para eles e com um olhar diferente. Jesus que faz da periferia da periferia o ponto de partida de sua missão. Na Galileia dos pagãos, região distante do centro econômico, político e religioso do seu país. A Luz sendo a esperança da salvação, numa região da qual nada se esperava.
Em Jesus, Deus se faz pobre com os pobres. Um Deus que se encarna na periferia do mundo. Não através de um discurso vazio de sentido e significado, mas realizando ações transformadoras na/da vida daquela gente: “curando todo tipo de doença e enfermidade do povo”. (Mt 4 23) Jesus que traz em si toda a radicalidade evangélica de João Batista, que por causa desta sua atitude, encontrava-se preso por incomodar os poderosos de plantão.
Jesus que faz um deslocamento social radical, indo do centro nevrálgico do poder político-econômico-religioso para a margem da sociedade. A luz da Boa nova traduzida em gestos concretos de libertação dos pobres. Em Jesus, Deus se faz solidário das causas dos pequenos, sendo um elo de esperança vital de libertação daquela gente. Como o precursor, anuncia a Palavra e provoca a necessidade de uma permanente conversão. Somente aqueles e aquelas que são capazes de realizar em si esta conversão de pensamento, atitudes (metanoia), enxergam em Jesus esta luz transformadora. Conversão aqui entendida como um processo constante e crescente que se inicia a partir do momento em que reconhecemos as nossas limitações e aceitamos convergir-nos para os ideais propostos por Jesus. Jesus é esta luz que brilha em nossas vidas. Irmanados nesta luz, possamos também nós, sermos luzes reluzentes na vida das demais pessoas, como Ele mesmo disse: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida”. (Jo 8,12)
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.