A semana só está começando. Meu coração está batendo no compasso da incerteza, num ritmo ainda triste. Tudo porque, o pequeno Luiz Otávio (03 anos), que fez o procedimento cirúrgico na hipófise, para a retirada de um tumor, teve complicações neste final de semana, e voltou para a UTI. Está entubado. Sua mamãe Bia, está sofrendo neste momento. Pede as nossas orações. Você que me lê neste momento, pare um instante e faça uma prece ao pequeno, que está no Araujo Jorge, em Goiânia. Este é aquele mesmo garoto, que várias pessoas ajudaram na vaquinha que fizemos para a mãe que é uma Técnica de Enfermagem que atua na saúde indígena por aqui.
Hoje acordei nostálgico e resolvi repensar o meu caminhar pelas estradas da vida. Fiz uma incursão nos meus álbuns de fotografias e ali percebi o quanto a vida foi moldando-me. Um longo caminho percorrido, cheio de nuances que, de certa maneira, edificou a minha personalidade. Percebi o quanto caminhei por caminhos diversos, que possibilitou o reencontro comigo mesmo. O quanto cresci com tantos caminhos por onde percorri! Quantos amigos e amigas acompanharam-me nesta jornada gloriosa! Estar no Araguaia e na Prelazia de São Felix foi a decisão acertada, estando numa igreja que me completa e que acredito.
O poeta espanhol Antonio Machado, num dos seus poemas soube definir o caminho como ninguém. Este seu poema é um mantra que me acompanha na minha caminhada ainda hoje. Diz ele: “Caminante no hay camino, se hace camino al andar”. (Caminhante, não há caminho, o caminho faz-se ao andar) Na medida em que nos pomos a caminhar é que o caminho se vai delineando no passo a passo. Na realidade, desmistificamos a ideia, a meu ver errônea, que muitos de nós temos, quanto a predestinação. Ou seja, como se tudo já estivesse definido em algum lugar e não importa o caminhar.
O caminho vai nos moldando ao longo do tempo. Crescemos, evoluímos e ganhamos dimensões novas para as nossas vidas. Este caminhar se dá ao longo de nossa existência, rumo à nossa realização enquanto pessoa, enquanto ser humano. Desde os primeiros passos que alguém nos ensinou a caminhar, até a experiência da passagem para outra dimensão. Para “fora do combinado”, vai nos dizer Rolando Boldrin.
Para aqueles que possuem sua fé, há um caminho diferente. Diferente de todos os demais caminhos. Este caminho é o próprio Jesus de Nazaré. É ele mesmo que se define como caminho. Aliás, não só como caminho. Segundo a narrativa da Comunidade Joanina, Jesus assim se define: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim.” (Jo 14, 6) Caminho este que se completa com a verdade e a vida, que ainda nos assegura que jamais poderemos chegar ao Pai, se não for por intermédio d’ELE. Uma sintonia que devemos procurar como forma de estar conectados com o Deus da Vida.
Em outras palavras, Jesus é o verdadeiro caminho para a vida. É a via expressa que nos conduz ao encontro com o Pai. Não há outra verdade possível, pois através da encarnação do Verbo, Deus, autor da vida, se manifesta inteiramente a nós, mostrando-nos o rumo a seguir. Aqueles e aquelas que procuram o seguimento deste Jesus, não caminham para o fracasso, pois a meta é a realização e a vida plena. (Jo 10, 10) Assim, Jesus não apresenta apenas uma utopia, mas convida a cada um de nós a percorrer um caminho historicamente concreto. E ao trilhar este caminho proposto por Jesus, vamos realizando os mesmos sinais que Jesus realizou, como também criando novos sinais dentro da história da humanidade, abrindo espaços de esperança renovada e vida fraterna.
Ainda bem que decidi fazer a minha caminhada junto à Igreja de São Felix do Araguaia. Ser igreja com esta igreja diferente, encarnada e com rosto do povo sofredor. Aqui aprendi a trilhar novos caminhos, com um grande peregrino destas estradas: Pedro. Sua história de vida e seu caminhar, foram aprendizados que tratei de incorporar à minha vida de também peregrino por estas estradas. Foi através dele que também encontrei o caminho que me levaria às aldeias, descobrindo a causa indígena como a minha causa maior e que me faz enormemente feliz. Quem sabe um dia eu possa também dizer como ele: “No final do caminho me dirão: – E tu, viveste? Amaste? E eu, sem dizer nada, Abrirei o coração cheio de nomes” (Pedro Casaldáliga)